quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Crianças grandes... são piores que as pequenas!

Todos nós já fomos crianças. Alguns, como eu, ainda continuam a sê-lo. E todos passámos, certamente, por episódios de altercação com amigos. Sempre que havia uma discussãozita com um(a) colega de bairro ou de escola, as alternativas eram: ou resolvê-la a bem ("pá, vai-te lixar, estou farto disto, vamos mas é jogar à apanhada"), ou resolvê-la a mal, o que incluia passar a vias de facto com a pessoa em questão, ou pedir a outros que resolvessem o problema por nós. Neste último caso, o mais comum era o procedimento que dava pelo nome de "queixinhas": chegávamos ao pé dos nossos pais e dizíamos "mamã/papá, o não-sei-das-quantas chamou-me nomes!". Os resultados disto também podiam ser múltiplos: ou os pais faziam ouvidos moucos e deixavam ficar as coisas como estavam, ou, pior, ainda nos enfiavam uma estampilha nas fuças, ou ficavam do nosso lado e iam tirar satisfações com os pais da pessoa com quem estávamos desavindos.
E era nesta última situação que as coisas ficavam realmente divertidas. Quando o nosso pai, ou a nossa mãe iam tocar a casa do não-sei-das-quantas para resolver o imbróglio, acontecia quase sempre um espectáculo digno de ser visto: ou gerava-se logo ali zaragata, com as famílias de ambos os lados a envolverem-se numa batalha digna do Juízo Final, ou a mãe/pai do não-sei-das-quantas tentavam disciplinar o filho agressor, enfiando-lhe uma estampilha nas fuças. É claro que, previamente a isto, havia sempre o confronto directo entre agredido e agressor: "O seu filho chamou nomes ao meu filho", dizia a mãe ou o pai do agredido, "Ah é, vamos lá ver: anda cá, ó ranhoso!", dizia a mãe ou o pai do agressor, "Não chamei nada", dizia o petiz agressor, "Chamastes sim, toda a gente viu", dizia o petiz agredido, "Não chamei", continuava a defender-se o agressor, até que levava finalmente com o par de estalos e retirava-se, e tudo acabava em bem.
Mas as crianças, infelizmente, crescem. E quando crescem, parece que perdem o dom de resolver os assuntos com a simplicidade acima descrita. É o que verifico face à recente disputa que se gerou entre Paulo Portas e o ministro da Agricultura, Jaime Silva. Tudo começou à típica maneira infantil: "Ah, o ministro é caloteiro e não paga aos agricultores", dizia o Paulinho, "Não sou, o Paulo é que é caloteiro, olha o Casino, olha a Portucale", dizia o Jaiminho, e tudo ia muito bem, a malta esperava até por um combate físico, com o Paulinho a arrancar o bigode do Jaiminho à dentada e o Jaiminho a espetar um pontapé nos tomates do Paulinho, mas um dos meninos decidiu acabar com a brincadeira e, em vez de chamar a mamã, resolveu apelar para os tribunais.
A isto, as pessoas normais chamam de "resolver as desavenças de forma adulta", e eu chamo de "uma ganda treta!". Porque apelar aos tribunais é jogo sujo. É desonesto. É dizer: "ah, aquele menino chamou-me nomes, quero uma indemnização". É cobarde! É vil! E é estúpido. E continua a ser uma criancice, embora encapotada. Criancice porque já estou a ver o esgrimir de argumentos entre os dois em plena sala de tribunal:

Paulinho: Sr. Juiz, quero que condene o ministro da Agricultura e quero ser por ele indemnizado.
Juiz: Com que fundamento?
Paulinho: Ele chamou-me coisas feias.
Juiz: É verdade, senhor ministro?
Jaiminho: É sim, mas ele chamou-me coisas feias primeiro.
Paulinho: Não chamei!
Jaiminho: Chamastes!
Paulinho: Não chamei nada!
Jaiminho: Chamastes, mil vezes!
Paulinho: Não chamei, vezes até ao infinito!
Jaiminho: Sr. Juiz, olha ele!
Paulinho: Não sou eu, és tu!
Jaiminho: Não sou nada, tu é que és!

e por assim adiante... Não há ninguém que venha colocar estas duas crianças de castigo?!?

Tanis

1 comentário:

Ilda disse...

Bom, olha se de repente o Juiz irritado por aquela troca de galhardetes se enfurecesse, fizesse birra e fosse chamar a mãezinha ou o paizinho!!! Era giro não era!
Certo, certo é que consegui visualizar a cena numa qualquer sala dos tribunais portugueses, tal é o modo como anda a nossa justiça!