sexta-feira, novembro 14, 2008

Os Problemas da Filosofia

Aplaudo vivamente a nova edição, cortesia das Edições 70, de um dos melhores textos de Filosofia escritos no século XX, e por um dos melhores filósofos dessa mesma época: Os Problemas da Filosofia, de Bertrand Russell. Acabei de o comprar, após muitos meses a chatear o livreiro, que por sua vez chateava o distribuidor, que por sua vez chateava o editor, que por sua vez chateava o tradutor, que por sua vez andava fodido porque não havia mais ninguém para chatear, já que o tio Bertie Russell há muito se encontra no céu platónico dos filósofos.

Para além de ser um filósofo de qualidade, Bertrand Russell era também um gajo bem porreiro. Não só ganhou um Nobel da Literatura, como (consta das múltiplas biografias) era um fodilhão à maneira: casou várias vezes, fora os casos que foi tendo fora dos casamentos. Isto acaba por completo com o preconceito (muitas vezes justo) de que a malta interessada em filosofia não gosta de sexo, ou, quando gosta, é para o ter com outro marmanjo (filósofos rabetas é o que não falta ao longo da história!). Além disto, o que já não é pouco, Russell era um profundo crítico da religião, o que lhe valeu alguns dissabores, pois os tipos mais puritanos nunca gostam de ser criticados e reagem em proporções irracionais. Porém, a crème de la crème do senhor Russell está em ter criado o Tribunal Russell para julgar os crimes de guerra cometidos pelos americanos no Vietname. Ou seja, para lá de ser um filósofo competente, um fodilhão incansável e um anti-religioso, Bertrand Russell também foi activista de respeito, tendo dedicado muito do seu tempo livre a dizer mal daquela canalha norte-americana. Como vêem, um tipo destes só pode ser o meu herói. Só lhe faltou ser do Sporting...

Mas voltemos ao livrinho. Os Problemas da Filosofia é um texto importante porque nele se filosofa à séria. Nada de merdinhas obscuras e pseudo-poéticas como as que habitualmente se publicam por aí. Este é verdadeiramente um livro de Filosofia, com "F" maiúsculo, no qual se raciocina, se critica, se analisa a realidade, o conhecimento, a racionalidade e os limites destes últimos. Em suma, é um livro que convida o leitor a pensar, em lugar de se limitar a interpretar (são duas coisas diferentes, meus amigos...).

E esta nova tradução é importante porque a que andava aí disponível era uma porcaria. A edição que corria (originalmente publicada pela Livraria Arménio Amado, republicada há poucos anos pela Almedina) tinha tradução do António Sérgio, considerado um dos grandes vultos da cultura nacional, mas a única coisa em que ele foi grande, na tradução do texto do Russell, foi na incompetência! Já sei, já sei, vão achar que estou a blasfemar, a atentar contra uma figura de primeira água e o caralhinho, mas estou-me a cagar. Não tenho nenhum respeito por determinadas vacas sagradas, a não ser que elas se chamem Cláudia Vieira. E por isso, malho no António Sérgio até onde me for possível. Porque ele fez, efectivamente, um mau trabalho. Eu sei, porque possuo a tradução dele. E o que ele fez foi inverter completamente o texto original. Não no conteúdo, entendamo-nos, mas na forma! Russell é um autor claro, que escreve escorreitamente, sem rodeios ou subterfúgios, com o objectivo de ser o mais inteligível possível. Sérgio pura e simplesmente dinamitou estas características, fazendo de Os Problemas da Filosofia um livro elitista, denso e muito, muito mais obscuro que o original. No fundo, o que António Sérgio fez foi foder com o Bertie Russell; por essa razão é que não tenho pudor nenhum em mandar o António Sérgio ir-se foder. Pronto, bem sei que não posso, porque o cabrão já não está entre os vivos, mas olhem, foda-se!

Para os que nunca leram um livro sequer de Filosofia, podem muito bem começar por este. A tradução, a cargo de Desidério Murcho, é a que se exige: clara e rigorosa. Faz, pois, jus ao texto original - tanto quanto uma tradução o pode fazer (blábláblá, não me venham com aquela fantochada do tradutore traditore, senão ainda me irrito). Como já disse acima, isto é FILOSOFIA a sério, não uma palhaçada que se veste de filosofia para parecer mais inteligente.

3 comentários:

sonhos/pesadelos disse...

bem.....
defendes as tuas ideias com uma veemência incrivel hã?
eu que adoro psicologia senti-me tentada a ler este livro de Filosofia com F grande,como dizes.
bjs endiabrados

Anónimo disse...

Epá ele podia não ser rabeta, mas que tinha cara tinha!

Peter of Pan disse...

@Sonhos/Pesadelos: se te sentiste tentada a ler, então é porque a minha veemência funcionou...

@Daniela: quem vê caras não vê tendências sexuais. :)