terça-feira, março 05, 2013

O Peter of Pan visita o ISCTE: breve crónica

Compromissos profissionais levaram-me a ter de ir ao ISCTE. Nunca tinha lá entrado, e é isso que me motiva a fazer esta crónica. Primeiras impressões? Instalações simpáticas, embora com uma arquitectura demasiado "norte-americanizada" para o meu gosto. Casas de banho imundas, como seria de se esperar numa universidade. Cantina simpática, com a opção vegetariana, como se exige, embora não tenha percebido a ausência de bebidas alcoólicas: separar estudantes universitários e álcool parece-me uma medida da maior gravidade, é como separar uma mãe dos seus filhos. 

Bom, mas aquilo de que quero mesmo falar é das pessoas. Preocupou-me não ver muitas gajas boas. Se o ISCTE é uma universidade mais virada para os pirilaus, não sei, mas foi isso que aparentou. Porém, ganhar-se-ia muito se as poucas gajas que lá andassem fossem jeitosas, e pela observação que pude fazer não o são. O rácio de pirilaus para gajas deve andar nos 70/30, e destes 30, o rácio de gajas boas para trambolhos anda nos 20/80. Espero que tenham percebido esta contabilidade, ou então chamem o Vítor Gaspar... e ficarão a perceber ainda menos.

Mas mais do que a franciscana presença de gajedo, o que me causou - devo dizê-lo nestes termos - repulsa foi o número de estudantes que se dirigiam para o ISCTE de fato e gravata! Achei chocante, achei desonesto, achei uma merda! Nunca tinha visto tantos estudantes de fato e gravata numa faculdade que não fosse a Católica ou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. E não percebo o porquê: está bem que o ISCTE é, como o acrónimo designa, de Ciências do Trabalho e da Empresa (o que quer que esta gaita seja!...) mas tenho dificuldade em perceber, salvo se forem gestores multimilionários (o que desde logo levantaria a questão: o que é que estão então a fazer na universidade?!?), o porquê de simples estudantes andarem de fato e gravata.

Devo aqui fazer uma declaração de interesses: detesto fato e gravata. É uma indumentária que simboliza estatuto e hierarquia, logo um anarca como eu cospe, urina e defeca numa tal natureza. Fato e gravata são também usados por mafiosos e banqueiros (faço aqui a distinção entre uma e outra categorias apenas porque me apetece; em bom rigor, está para ser revelado cientificamente o que diferencia um mafioso de um banqueiro), o que é mais uma razão para eu passar para o outro lado da rua quando vejo alguém assim vestido vir na minha direcção.

Ora, dito isto, a opinião que eu tenho de um estudante, portanto, alguém que está a fazer o seu percurso enquanto pessoa-pessoa e enquanto pessoa-utilitário, a opinião, dizia, que faço de um estudante vestido de fato e gravata é a de um cabrãozinho armado ao pingarelho. Ainda me lembro da primeira vez que vi um estudante de fato e gravata na universidade onde me licenciei: atirei-lhe com uma tradução francesa da Metafísica do Aristóteles ao peito, só para distrai-lo, e depois espetei-lhe meia dúzia de socos na tromba, puxei-lhe a gravata até ele ficar a suplicar por ar e arrastei-o, qual Aquiles arrastando Heitor, pelos corredores da faculdade, emporcando aquele fato de beto. Se gente por perto houvesse, teria certamente sido aplaudido.

A idade, porém, trouxe-me fleuma, e já não executo estes actos de evidente justiça. Mas que ainda me choca ver um estudante de fato e gravata, ai isso choca. E chocou-me ver tantos no ISCTE. Se não voltar lá nunca mais na vida, não perderei nada com isso. E termino com esta frase, que contém quatro negativas. Espectáculo. É uma frase com tanto estilo que deveria vir de fato e gravata.

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