quarta-feira, outubro 15, 2008
De como o último álbum dos Metallica pode servir para ilustrar uma posição filosófica
A imagem acima reproduz a capa do novo disco dos Metallica, Death Magnetic. Considerações estéticas à parte ("mas que merda é aquilo? Um ânus ou uma vagina feit@ caixão?! Ai o c*ralho!!!"), devo realçar o que verdadeiramente importa: o álbum está porreiro. Não "porreiro" como na situação em que a Scarlett Johansson se dispusesse a fazer sexo connosco, ao que exclamaríamos imediatamente "porreiro", mas ainda assim porreiro.
[Um exercício divertido: quem consegue descobrir, na última frase, quando é que "porreiro" é de dicto e quando é de re? Ofereço uma foto do Cláudio Ramos todo nu à primeira pessoa a responder correctamente!]
Muitos não concordarão com a avaliação que faço do Death Magnetic. Para muito boa gente, Metallica só vale a pena até ao Black Album, e este já se torna difícil de engolir. Outros há que só levam a sério a banda até ao AJFA (abreviatura simpática do 4º disco, ...And Justice For All). E outros até, mais radicais, juram que a banda morreu após o Master of Puppets, considerado pela maioria dos fãs (eu incluído) o melhor disco da carreira dos Metallica. E, claro, existe também gente que está pura e simplesmente a cagar-se para eles desde o início, o que também constitui uma opinião válida, embora eu honestamente ache que quem assim pensa merecia levar com um míssil russo pelo rabo acima!
A unanimidade, contudo, reside na apreciação que os ouvintes de música pesada fazem dos discos Load, Reload e St. Anger: "f*da-se, que merda do c*ralho" é a frase mais comum!
Ora, havendo posições tão díspares relativamente à história e importância dos Metallica, a primeira questão que se coloca é: mas o que é que isto interessa? E a segunda questão é: haverá mesmo probabilidade de um gajo ter sexo com a Scarlett Johansson? E a terceira, finalmente: por que razão uma banda é considerada genial até certa altura e, depois, se torna mais maldita do que um accionista de um banco que tenha resolvido dar um pulo até à Festa do Avante?
São muitas questões, e eu poderia não dar cavaco e bazar daqui, mas como sou um tipo fixe, além de possuir um gosto musical deveras requintado, darei as devidas respostas. À primeira questão, o que é que isto interessa, responderei: Nada! Mas Portugal também não interessa para nada, e o José Gil escreveu um livro inteiro sobre o assunto, portanto adiante! À segunda questão, se há hipótese de um gajo ter sexo com a Scarlett Johansson, respondo: Não! Mas pelo menos podemos esgalhar umas valente pívias a pensar nela, está bem?! E, por fim, à terceira pergunta, por que razão uma banda é dita genial até certo ponto e depois é ostracizada, vou oferecer uma autêntica dissertação.
O que se passa é o seguinte: temos todos, enquanto seres humanos, sejam eles fãs dos Metallica ou não, problemas com o que é vulgarmente designado de "expectativas". No fundo, o que se passa é que não sabemos lidar com as expectativas que temos. Quando os Metallica lançam três primeiros discos fabulosos, as expectativas do público sobem; porém, quando a banda começa a afrouxar a qualidade, essas expectativas, que tão elevadas estavam, caem, fruto da decepção. E isso dá raiva.
Não sou o primeiro a identificar nas expectativas a causa de muito do sofrimento humano. Já William James alertava para o mesmo. Para ele, as sociedades ocidentais, nomeadamente a norte-americana, eram causadoras de distúrbios psicológicos porque incentivavam os indivíduos a possuir expectativas ilimitadas. Dito de outro modo, as pessoas que viviam em tais sociedades procuravam, a todo o custo, ser bem sucedidas, medindo-se o sucesso pelas expectativas realizadas. O problema é que nem todos podem ver as suas expectativas realizadas, e nem até o mesmo indivíduo consegue concretizar todas as suas expectativas. Isto é: nem todas as pessoas podem, por exemplo, ser actores/actrizes/modelos famosos(as), e nem o Brad Pitt consegue ter tudo aquilo com que sonha (sim, está bem, ele anda a papar a Angelina, mas sabemos lá se ele não anda a sonhar com a ranhosa da nossa vizinha do lado!...). Indo mais longe, a recente crise financeira também resulta disto: o capitalismo selvagem é o lugar em que as expectativas são deixadas à solta, sem nenhum controlo. E por muito bonito que isto possa parecer no início, a cruel realidade acaba por impor-se, e quando isso acontece, vai tudo abaixo, incluindo as Bolsas.
William James apontava para uma solução. Se se torna praticamente impossível concretizarmos todas as nossas expectativas, o melhor seja talvez refrearmos essas mesmas expectativas. Seremos mais felizes se não andarmos constantemente a ansiar por mais, mais e mais: basta sentirmo-nos bem com aquilo que temos. E é nesse sentido que o exemplo dos Metallica se torna revelador. Tínhamos expectativas ilimitadas em relação ao que a banda gravaria? Sim, afinal eles lançaram álbuns clássicos, que qualquer bom melómano (por "melómano" entendo um apreciador de boa música, e não aquele choninhas armado em estúpido que só ouve música erudita) se orgulha de ter. Mas depois caíram, e ao fazerem-no, decepcionaram-nos a nós, os fãs, que deixámos de acreditar no talento do grupo. Muitos desligaram-se irremediavelmente da banda; outros, no entanto, fizeram aquilo que William James sugeria: limaram as expectativas. E ao agirem assim, dotaram-se de um certo despretenciosismo. E quando ouviram o último disco dos Metallica, já não torceram o nariz, porque entenderam que, embora não estando ao nível dos discos clássicos, não é de todo um mau álbum, bem pelo contrário. E sentiram-se, de certa forma, felizes.
Transportem esta situação para o actual estado de crise. Transportem-na, até, em exercício de antecipação, para um eventual estado de pós-crise. E tirem daí as respectivas lições.
Como vêem, os Metallica podem servir de analogia para a presente conjuntura. É por isso que, filosoficamente até, são interessantes. Não é estúpido, então, o título deste post: os Metallica ilustram mesmo uma posição filosófica. Espero que não se tenham assustado. Até porque os Metallica não fazem mal a ninguém. E a Filosofia também não!
Etiquetas:
facturas,
sacos para o cocó do cão,
supermercados
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Apetece-me comentar "porreiro, pá", mas isso seria desmerecer tão eloquente dissertação sobre um grupo de que eu até gosto, ao ponto de ter levado com milhares de grunhos no Rock in RIo só para os poder ver e ouvir. E olha que foi porreiro, pá.
Obrigados, pá!
Ai caramba! (mexican style) ;)
Por acaso, desde a primeira vez que vi essa capa, sempre achei que parecia uma rata peluda. Mas isso sou eu…
Quanto à dissertação… pode ser.
Eu tenho razão, mai nada!
Enviar um comentário