Agora que foi lançado o mais recente livro de Lobo Antunes, Arquipélago da Insónia, voltam à carga aquelas fantochadas e aqueles fantoches da treta, cujo único sentido para a vida está em estabelecer uma comparação entre as talvez duas maiores figuras vivas da literatura portuguesa contemporânea, precisamente António Lobo Antunes e José Saramago. Há outros grandes vultos, sem dúvida, como Agustina, Mário de Carvalho, ou mesmo o Tony Carreira. E já nem falo do Peter of Pan, porque sou um tipo extremamente modesto. Porém, seja como for, quase todos concordarão que Lobo Antunes e Saramago são escritores cimeiros, portanto continuemos.
O que se passa recorrentemente é tão-só isto: formaram-se dois exércitos e duas barricadas, em que admiradores de um e admiradores de outro se "divertem" a enxovalhar a parte contrária e a diminuir os méritos do escritor situado do outro lado (ambos os autores, diga-se, contribuíram, de certo modo, para isto). E essas barricadas acabam por - olhem a surpresa! - estar comprometidas ideologicamente: a malta de direita (ou, como eu lhes chamo, os "otários do c*ralho"!) faz o sinal da cruz aquando de uma nova publicação do Saramago, ao mesmo tempo que idolatra Lobo Antunes; do outro lado, a malta de esquerda (ou, como eu lhes chamo, os "otários do c*ralho"! - olha, curioso, chamo a mesma merda a uns e outros. Será que é por uns e outros serem a mesma merda?!) baba-se por Saramago e torce o nariz a esse escritor burguês que escreve livros burgueses para leitores burgueses, Lobo Antunes.
Face a tanto desentendimento, já é mais do que altura de alguém inteligente, lúcido e com um pénis digno de respeito se pronunciar sobre a palhaçada. Mas como ainda não ouvi o Ron Jeremy dizer nada sobre o assunto, vou eu próprio lançar os meus pensamentos.
Esta é, pois, a minha opinião: acho que a Rita Pereira tem uns seios descomunais. E acho também que a oposição Lobo Antunes X Saramago é uma patetice! Quem no seu perfeito juízo prefere "dar-se" só a um autor de excepção quando pode, sem problema e perda de integridade intelectual ou física, ter dois, cada um com as suas particularidades? É como alguém vir dizer que não se interessa pela perna direita porque só a esquerda lhe basta, e vice-versa e acima e abaixo e o c*ralhinho aos saltinhos para um lado e para o outro! É uma estupidez, pronto! Só temos a ganhar com o exercício de leitura de Saramago e de Lobo Antunes. Porque cada um tem as suas características próprias. Se eu quisesse armar-me em crítico, o que não faço pois adoro a minha heterossexualidade, diria que Lobo Antunes é uma espécie de cirurgião da palavra, em que cada termo é estudado ao pormenor para dar origem a uma frase perfeita. Todas as palavras escolhidas por Lobo Antunes conjugam-se quase como por uma necessidade lógica; se uma delas faltasse, todo o texto perderia muita da sua riqueza. É um trabalho de artesão, de especialista, que nos oferece uma perfeição estilística ímpar. Já Saramago é diferente: Saramago não possui o estilo de Lobo Antunes, mas é dotado de uma imaginação prodigiosa (porra, é ler qualquer um dos seus livros!), e sabe utilizá-la de uma forma muito, muito inteligente. Ademais, Saramago possui o talento de associar a essa imaginação a sua famosa crítica social, permitindo assim que o leitor se sinta apanhado entre os devaneios da imaginação (uma jangada de pedra, um Jesus Cristo diferente da tradição...) e o concreto da realidade quotidiana.
Se eu quisesse estabelecer uma comparação "à séria", diria que Lobo Antunes é mais escritor e Saramago mais ficcionista. Portanto, a comparação não se estabelece nos mesmos termos, pois um é mais feliz do que o outro em x e é menos feliz em y. Mas - como já alertei atrás - quem sai a ganhar é o leitor que contacta com as duas realidades: a riqueza de estilo de Lobo Antunes fascina, tal como a narração de Saramago.
E se me perguntarem: "então tu, já que estás para aí a armar-te ao pingarelho, o que é que achas do Nobel? Não achas que o Lobo Antunes o merecia mais do que o Saramago?", eu respondo: quem merecia o Nobel era a Jenna Jameson com a sua biografia de pornstar. Mas entre o Saramago e o Lobo Antunes, admito que qualquer um podia ganhar. Ganhou Saramago: fixe! Se o Lobo Antunes tivesse um, também diria: fixe! Saramago não é melhor nem pior do que Lobo Antunes só porque tem um Nobel. As coisas são como são! Muitos excelentes autores nunca viram sequer a ponta do Nobel. Mantendo-me na realidade literária portuguesa, refiro apenas que o melhor escritor/romancista português de todos os tempos, Vergílio Ferreira, nunca venceu um Nobel. (sim, acho o Vergílio Ferreira o maior. Maior que o Eça, por exemplo, e bato-me contra qualquer um que discordar da minha posição. Estás a ouvir, Carlos Reis? Já agora, enfia a merdinha do acordo ortográfico num sítio que eu cá sei...) Vou considerá-lo menor do que aqueles que venceram? O c*ralho é que vou!
Moral da história: deixem-se é de polémicas merdosas e leiam ambos os autores. Valem a pena, inscrevam-se em que ideologias se inscreverem! Ponham os vossos preconceitos de lado e apreciem os livros, pá! Não é que saiam mais inteligentes disso (a pessoa que disse que os livros nos tornavam mais inteligentes era um sacana dum nerd rabeta), mas de certeza que não darão o tempo por mal empregue. A não ser que prefiram ver o Canal Parlamento, claro, afinal há malucos para tudo...
quinta-feira, outubro 30, 2008
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5 comentários:
Considero o Eça melhor que o Virgilio (perdoa-me, mas para mim o Eça é o melhor escritor portugues provavelmente de todos os tempos). Virgilio reflecte demais. Mas gostos são gostos e tu como filósofo preferes obviamente o Virgilio e eu como gaja que gosta de saber da vida dos outros prefiro o Eça
Quanto ao conflito Saramago X Lobo Antunes, é bom que te lembres que foram eles próprios que começaram, as pessoas só dão continuidade. Quanto a isso, acho que o Lobo Antunes escreve melhor , mas eles até tem estilos parecidos. Como pessoa, parece-me que o Lobo Antunes é, mesmo assim, mais humilde e mais terra a terra do que o Saramago, e mais realista. Ou seja pode ser arrogante mas segundo ele, tem razões para o ser. Acho que a arrogância dele serve um bocado como forma de se proteger das criticas. O que lhe interessa é que ele saiba que é o melhor!
Além disso o LA mudou muito desde o cancro...parece-me que ficou mais humilde e começou a perceber o quanto os "fans" (palavra mais horrorosa), gostavam dele.
Quanto ao Saramago, não é só o ser arrogante e escrever histórias que não lembram ao Demo. Saramago cuspiu no prato onde comeu e não há nada que me irrite mais do que isso.
Desculpa o comentário longo :)
"Mas gostos são gostos e tu como filósofo preferes obviamente o Virgilio e eu como gaja que gosta de saber da vida dos outros prefiro o Eça"
E quem disse que eu também não gosto de saber da vida dos outros?!?! :)
No caso do Saramago, as "histórias que não lembram ao Demo" são uma das suas principais qualidades (a tal imaginação prodigiosa que referi). Ainda bem que ele se lembra delas!
Já reparaste na imbecilidade que está no Metro da Baixa-Chiado a fazer publicidade ao "Arquipélago da Insónia"?
Eu já não tinha paciência para o Lobo Antunes (embora continue a achar que é o melhor prosador português vivo), agora quero é bater-lhe a ele, ao seu ego inchado e a toda direcção editorial da Leya...
P*ta que os pariu a todos...
Por sorte, ainda não vi!
Damn. Ninguém gosta da Margarida Rebelo Pinto ou da Rita Ferro... porque será? Qualquer dia, quando forem bem velhinhas e pespinetas, sempre a meter o bedelho onde não são chamadas (coisa que já faz a primeira mocinha) talvez ganhem um Nobel também.
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