sexta-feira, dezembro 12, 2008

E há quem ainda se gabe disto...

A editora Gradiva é, na minha opinião, uma das melhores de Portugal. Tem a melhor colecção de Filosofia deste país (Filosofia Aberta), possui os grandes clássicos de divulgação científica, de autores nacionais e estrangeiros (Ciência Aberta), disponibiliza óptimos livros para compreender a política e a sociedade (por exemplo, na colecção Trajectos) e tem ainda um conjunto de edições humorísticas de respeito, sobretudo na colecção E Agora Para Algo Completamente Diferente, embora as traduções sejam tão más que, por vezes, dá mais vontade de chorar que de rir.

A Gradiva tem, contudo, um defeito incontornável: é a casa que publica as obras de José Rodrigues dos Santos. E além de publicá-las, vangloria-se de o fazer, o que na minha óptica é difícil de compreender. É um pouco como se um benfiquista se gabasse de ter o Nuno Gomes na equipa, ou um país se gabasse de ter como ministro das Finanças o Teixeira dos Santos. Coisas que não passam pela cabeça de indíviduos lúcidos, creio eu.

Lucidez é, infelizmente, aquilo que não vai na mona dos responsáveis da Gradiva. Ontem, recebi na minha caixa do correio mais uma actualização da newsletter da editora, que rezava assim:


"HUNGRIA COMPRA TODA A OBRA DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS

A editora húngara Kossuth adquiriu esta semana os direitos de todos os romances de José Rodrigues dos Santos apresentados na última Feira de Frankfurt. A Kossuth comprou cinco livros do autor da Gradiva: A Ilha das Trevas, A Filha do Capitão, Codex 632, A Fórmula de Deus e O Sétimo Selo. De fora ficou apenas o último romance, A vida num sopro, que ainda não tinha sido publicado na altura da Feira de Frankfurt.O húngaro torna-se assim a 14ª língua em que a obra de José Rodrigues dos Santos é publicada. A Kossuth recebeu este ano o prémio de Melhor Editora Húngara de 2008, galardão atribuído pelos seus pares."

Como podem adivinhar, já apaguei o email. Mas a notícia merece-me dois apontamentos:

1 - Não dá para a Hungria, além da obra, comprar também o autor? Podia fazer-se um pacote, do tipo "compre toda a obra de José Rodrigues dos Santos e leve também o autor. Preços especiais por orelha". Quer dizer, sempre era menos um estarola que por cá ficava, e simultaneamente livrávamo-nos de um pivot parvo, de um mau director de informação e de um péssimo escritor!

2 - A Kossuth é a melhor editora húngara de 2008?!?! E compra a obra de José Rodrigues dos Santos?!!?? Há aqui qualquer coisa que não bate bem... Das duas, uma: ou a boa literatura vale, para os húngaros, o mesmo que a pintura do Bangladesh vale para a arte mundial, isto é, zero, ou, então, quem escolhe os livros na Kossuth é uma capivara com o QI de um grilo com síndrome de Down.

Já agora, não querem comprar também essa obra-prima que é o livro do Zezé Camarinha? E a biografia do Tony Carreira, por que não?!?! Hmmmm? Aproveitem, pá!

2 comentários:

Anónimo disse...

e se os hungaros teem olho para o negocio???quem sabe no futuro possa dar os devidos lucros a editora......exatamente o que falta em portugal apostas no que é nacional é quase nulo

)0( disse...

Estive a tratar o livro do Zezé Camarinha (em contexto de emprego) e só de ver as fotos ficas com a boca à banda! Podiam editá-lo na Alemanha, Inglaterra e Holanda.. o público feminino acima dos 45 estava conquistado à partida. Quanto mais não fosse porque também aparecem no livro...