segunda-feira, fevereiro 23, 2009

NOTÍCIA: O autor deste blogue foi violentamente atacado em casa pela sua legítima (4)

(conclusão dos posts anteriores)



Voltou a esfregar. O que eu sentia já não eram alfinetes mas sim punhais. A dor tornava-se mais e mais lancinante à medida que o creme esfoliante se espalhava pelo meu rosto. Era insuportável e cheguei mesmo a pensar que iria morrer ali, desprezado, abandonado, com cara de menina.
Até que a campainha soou. Quem seria? Não fazia a mínima ideia, mas o mero facto fez reacender em mim uma réstea de esperança.
Mas o carrasco de lingerie verde e branca fez logo questão de refrear o entusiasmo que, temporariamente, se apoderou de mim:
- Vou ver quem é. - disse - E tu, fica quieto. Não abras a boquinha, caso contrário, já sabes!... - e apontou para o pó de talco.
Vestiu o robe, de molde a cobrir as partes, e foi à porta. Do meu cativeiro, amarrado e impossibilitado de falar, ouvia tudo:
- Quem é? - perguntou a minha gaja.
- Sou eu - respondeu do outro lado uma voz masculina, que reconheci como sendo do vizinho em frente.
Ouvi o ranger da porta que se abria. Só me apetecia gritar por socorro, mas a visão de ter pó de talco passado pelo meu rabo peludo dissuadiu-me. Aguardei.
- Bom dia, vizinha. Escutei gritos que pareciam vir daqui e vim ver se estava tudo bem.
- Está sim - observou a serpente - Aqui ninguém gritou, devia ser da televisão.
- Então e o seu companheiro, está cá?
- Não, não! - mentiu, descarada - Ele foi em viagem à Alemanha, parece que há uma conferência em Frankfurt sobre o bigode do Nietzsche. Enfim, sabe como o meu esposo gosta de bigodes...
- Ah... - interjeitou o vizinho, vencido pelas aldrabices da minha gaja.
Eu queria intervir. Queria dizer-lhe "Não te vás embora, cabrão de merda. Chama a polícia! Ah, e vê lá se passas a estacionar o calhambeque em condições", mas impedido que estava de falar, que poderia eu fazer? A angústia, o medo, a ansiedade estavam a dar cabo de mim. A força que eu fazia ao pensar numa solução dilatava-me as veias... até que, inesperadamente, teve outra consequência: saiu-me um peido, mas um peido que se escutou em todo o bairro, tal a potência decibélica da coisa. O vizinho reagiu de imediato:
- Aquilo foi um peido?
- Ahmm, ahnnn... aquilo o quê?! - disfarçou, desconfortável, a minha gaja?
- Aquele som! Foi um peido, e pela tonalidade, foi dos do seu companheiro!
- Impossível! - josésocratizou ela - Ele está na Alemanha, recorda-se?
- Então quem mandou aquela bomba? - insistiu.
- Ah, talvez tenha sido o cão... mas eu não ouvi nada. O vizinho é que anda a escutar coisas a mais, ainda há pouco disse ter ouvido gritos.
- Humpf! - respondeu, ofendido, o senhor - Bom dia, então, e até à próxima - concluiu, arrogantemente, e pisgou-se.
Escutei a porta a fechar-se e de novo o meu carrasco a aproximar-se. O descanso tinha acabado, e as minhas últimas esperanças também. Estava definitivamente condenado...
- O que foi aquilo, meu estúpido? - inquiriu, no momento em que se chegava a mim, pronta para mais umas quantas besuntadelas de creme.
- Peidei-me, desculpa... foram os nervos.
- Se tentas mais alguma brincadeira, juro pela saúde da Oprah que vou ao programa do Goucha e envergonho-te para o resto da vida. E agora, cabeça para cima, quero esfregar-te o pescoço!
Foi o fim. Era como se a minha pele se rasgasse. Já não aguentava tanta dor, e muito menos a humilhação de ficar com uma carinha laroca. Começou a faltar-me a respiração. Ainda avisei:
- Gaja, não consigo respirar...
- Cala-te - respondeu, insensível - Deixa-me terminar o trabalho.
- Dói-me o peito!
- Maricas, és mesmo um maricas!
- Não, não sou, mas estou a ficar um por causa de ti. Ahhhhhhhh.
Desmaiei. O que foi bom, pois deixei de sentir as sevícias provocadas pela minha gaja. Já não sentia o creme, nem os dedos cruéis a passar-me pelo rosto, era como se tudo não tivesse passado de um sonho.
Mas não foi um sonho. Acordei mais tarde na cama de um hospital. Uma enfermeira cuidava do saco do soro. Chamei-a, voz fraca, até mim.
- O que aconteceu? - soltei, a custo.
- O menino desmaiou e teve uma paragem cardio-respiratória. - informou-me.
- Foda-se!
- Está alguém lá fora para vê-lo, posso mandar entrar?
- Quem é?
- É a sua mulher! - disse, solícita.
- Não quero vê-la! - comuniquei, enquanto me virava no leito.
- Então vou já chamá-la. - e saiu, a estúpida de merda.
A minha gaja entrou, ladeada pela parva da enfermeira.
- Que tragédia - disse esta última, mais para a minha gaja do que para mim - Tão novo e já com problemas tão graves. Mas tem um rosto lindíssimo! Como é que...
- Ah, é tudo graças a mim - interrompeu de pronto a serpente - Tenho lá um creme esfoliante que faz milagres, já lhe dou o nome. Tem papel e caneta?
E ficaram as duas a falar, aos pés da cama, e eu ali, padecendo. A última coisa que ouvi foi a enfermeira estúpida a dizer que ia esfolar o marido com o creme, e eu lamentei o destino da humanidade. Desmaiei novamente, e só voltei a acordar dois dias depois. Voltei para casa, tendo o meu rosto sido elogiado por todas as mulheres e vilipendiado por todos os homens com que me cruzei. Sentei-me há pouco ao computador e pus-me a narrar esta história horrível, para que sirva de aviso a todos. E agora adeus, despeço-me, pois a minha gaja está à porta do escritório, a ameaçar-me com um frasco de esfoliante numa mão, e pó de talco na outra. Tenho a impressão de que vou parar de novo ao hospital.
Rezem por mim, sim?
Obrigado.

9 comentários:

Anónimo disse...

posso de facto orar por ti... mas que Deus te ilumine essa cabeça e te dê muitas bençãos... Gajas BOAS que não tenham panca !

Bon chance, mon ami !

P.S - não é por falta de aviso...

Anónimo disse...

tenho de reportar estes acontecimentos á CENJOR... talvez alguns dos meus alunos/amigos queiram fazer desta sua novela real/fictícia, uma noticia de grande importância Nacional.
Conhece APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima ?!www.apav.pt tel: 707 20 00 77
horário : 10 - 13h * 14 - 17h dias uteis, ao Sábado e Domingo levas porrada que até te fod--s.

Ilda disse...

Eu queria comenter mas acho que não consigo! O Sr. de cima já acha que eu tenho "uma panca", denegriste a minha imagem de tal forma que da próxima esfolio-te é o corpinho inteiro!!! E já sabes não é por falta de aviso! Ainda bem que obtive a infomação que a APAV não tem horario ao domingo...

Ilda disse...

*comentar, ok?

Inês Brito disse...

Amei toda a história. Não faças com que a rapariga fique muito mal vista, ela só o fez para teu bem xD

Bj,
(i)

Anónimo disse...

admiro a coragem e bravura deste jovem... lembra-te de fugir e trancar-te a 7 chaves aos Domingos !

Anónimo disse...

Cara Ilda...eu não sei se ele tem uma imaginação simpáticamente fértil ou confunde "tristemente" realidade de ficção...
Contudo... vou estar atento aos novos episódios...

Ilda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ilda disse...

Caro "Markl":
Seja lá quem o sr. for, não me parece que tenhamos de lhe dar esse tipo de satisfações...contudo, não lhe parece estranho que eu o trate mal e ele venha para aqui parodiar a situação???
Mas o importante é que continue atento, pois verificará que somos um casal feliz e capaz de brincar com a nossa felicidade, apesar de muita gente (que é o seu caso) não ser capaz de destinguir a ficção da realidade. No entanto também é isso que se pretende, a verdade essa, é nossa! :)

P.S. Simpaticamente, não leva acento... (eu tb estou atenta)!