segunda-feira, abril 19, 2010

Vendetta

Conheço poucas pessoas a quem o sentimento de vingança nada diz. Para a maior parte das pessoas, porém, a vingança é o prato nosso de cada dia, um prato que, como se diz, deve servir-se frio. Essas pessoas, esquecendo o ditame cristão de oferecer a outra face, quando são atingidas procuram revidar com o dobro da força do agressor. Pode demorar um minuto, um ano, meio século: mas esperam sempre por um dia em que chegue o payback time!

Isto vem a propósito de dois filmes que revi este fim-de-semana: Sleepers, com aquela besta do Brad Pitt e a outra besta do Jason Patric (as gajas, por esta altura, já devem estar a babar-se e a querer queimar-me na fogueira por ter chamado bestas a estas duas bestas...), é uma história de vingança sobre quatro jovens que foram enrabados numa casa de correcção. Scaramouche, um clássico dos anos 50 de Hollywood, narra as aventuras de um indivíduo que vê o seu melhor amigo morrer num duelo com um aristocrata e que promete matar este último.

Filmes cujo motivo condutor são a vingança abundam, de facto. Este género de histórias possui um potencial cinematográfico como poucos: lembrem-se do Rambo que regressa ao Vietname no segundo filme da saga. Lembrem-se do Luke Skywalker a querer vingar-se do Darth Vader pela morte do Obi Wan Kenobi, desconhecendo que o Darth era seu pai e arriscando cair no lado negro da força. Lembrem-se de toda a saga d'O Padrinho, obra que é toda ela um ensaio sobre a vendetta. Enfim, os exemplos são mais que muitos.

Tudo isto, a certa altura, acaba por contagiar um gajo. Eu pertencia ao grupo de pessoas com que abri este texto: aquelas a quem é indiferente a vingança. Mas não mais. Não mais. Tanta propaganda celulóica sobre a vingança acabou por entrar nos meus neurónios. E entrou de tal modo que já me decidi a fazer uma lista de quem me quero vingar. Tremei, alvos da minha desforra! Temai, gentinha desprezível! Se vocês encaixam nas personagens que narrarei abaixo, fujam, fujam para o vulcão islandês, porque a minha vingança será terrível.

Lista das pessoas de quem me quero vingar

1 - Rafaela. Sim, tu, minha estúpida. Recordo-me perfeitamente daquela visita de estudo que a turma do 8º B fez ao parque natural do Gerês. Tu vieste para os bancos de trás da camioneta e curtiste com todos os rapazes da turma. Todos, menos um: eu! Quando te pedi um beijinho, tu negaste-te. Viraste as costas, o que me surpreendeu tendo em conta que, nem 5 minutos antes, tinhas estado com as línguas dos meus colegas todos na tua boca. Incluindo o gordo estúpido do Júlio, que ainda por cima tinha mau hálito. Esta merda traumatizou-me altamente, sabes? Mas eu hei-de vingar-me, minha porca! Hás-de estar na cama do hospital às portas da morte, suspirando por um último beijo, um beijo que simbolize a tua partida deste mundo, e eu hei-de estar aos pés da tua cama, a dizer-te "queres beijinho, queres? Beija-me o cu!", que de qualquer forma deve saber melhor que a boca do Júlio!

2 - Sousa Cintra. Sim, tu, meu idiota. Bem sei que és sportinguista, daqueles que sente o clube. Mas o facto de tu teres despedido o Bobby Robson quando o Sporting estava em 1º lugar no campeonato da época 93/94 e teres convidado para o lugar o Carlos Queirós é algo que me está atravessado. Perdemos aquele campeonato, lembras-te?! Para o Benfica, estás a ver?! E levámos 6 a 3 dos lamps no nosso próprio estádio, estás recordado? O Robson, depois, foi para o Porto e ganhou lá dois títulos, não sei se sabes... Tu por acaso imaginas o quanto isso me prejudicou? Eu fui gozado, durante anos, pelos meus amigos (?!?) benfiquistas! Achas bem esta merda?! Ainda por cima, o Bobby Robson já faleceu, coitado. Mas a vingança será doce, ai se será! Quando menos esperares, surpreendo-te e enfio-te uma garrafa da cerveja Cintra pelo cu acima e obrigo-te a gritares "I'm sorry, mr. Robson, I'm so sorry" em inglês perfeito. Sim, eu sei que tu nem sequer sabes falar bem português, mas é só uma frase. E juro que enquanto não a disseres como deve ser, não te tiro a garrafa do cu!

3 - Primeiros ministros portugueses desde 1983 até aos nossos dias. Sim, vocês meus porcos javardos. Esta data marca o início da minha consciência política, a altura em que eu comecei a ver com olhos de ver aquilo que se passava à minha volta. A altura em que comecei a entender, embora ainda estivesse a frequentar a escola primária, que entre aquilo que vocês falavam e aquilo que vocês realizavam ia uma distância bem maior do que o tamanho da ignorância da Sãozinha, que repetiu 4 vezes a 1ª classe e 2 vezes a 2ª. Foi por vossa causa que eu passei a desconfiar da natureza humana, minhas cavalgaduras. Custava-vos muito cumprirem aquilo que prometeram? Custava-vos muito fazer de Portugal um país onde se pudesse realmente viver bem? Custava-vos muito melhorar as condições da maioria da população, e não apenas de uns poucos? Meus cabrões, meus palhaços, meus safados! Vocês, sim, vocês, Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates: vocês irão pagá-las. Felizmente todos são vivos, o que me permite planear a minha vingança com requintes elevados de malvadez. Um belo dia, quando for eu a mandar nesta merda toda, convocar-vos-ei a São Bento sob pretexto de uma homenagem, encostar-vos-ei a uma parede e fuzilar-vos-ei pessoalmente. Mas atenção, o fuzil não conterá balas: terá isso sim picos, daqueles que espetam bem, que é para vocês guincharem de dor, gemerem, uivarem e suplicarem por misericórdia. Aí, eu direi muito simplesmente "Sim, prometo que vou já parar com isto" - e não vou cumprir tal promessa. A ver se gostam, meus anormais!

E é isto, pá! Que belos planos de vingança, não acham?! E vocês, se tivessem de se vingar de alguém, de quem seria? E como?

Até amanhã!

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