No último sábado, apeteceu-me voltar à militância política e fui até à feira do livro anarquista, que decorreu ali para os lados do Martim Moniz. Quando se fala em anarquismo, há uma antena em mim que desperta e me leva a dizer, alto e bom som, "ISSO, ISSO, Anarquia, Revolução, Abaixo o Estado" e coisas parvas do género (ao pé de mim, os otários socialistas das FARC não passam de miúdos a brincar aos soldadinhos). Sou assim, pronto, e tenho sorte de não estar internado no Júlio de Matos... ainda!
O espaço em que decorria a feira era exíguo, e à hora em que fui, não estava cheio. O que foi bom, pois se estivesse a abarrotar, ver-me-ia obrigado a tomar providências e a ter de expulsar gente lá do sítio. A anarquia é muito bonita e tal e coiso, mas gosto muito de ter espaço para me poder mexer; quinhentos anarcas em pouco mais de meio metro quadrado não me parece propriamente um quadro assaz agradável, e além do mais esta malta cheira mal!
Assim que entrei na feira, exclamei para mim mesmo "Ih, tanto bloquista" e comecei a percorrer as cerca de meia-dúzia de bancas lá instaladas. Tudo muito porreiro, sem dúvida, os livrecos tratavam temas que me são muito caros, como o movimento de libertação animal, o feminismo e os direitos das mulheres (atenção, eu defendo isto mas não sou gay, está bem? Acho que as mulheres são iguais aos homens e essa tanga toda, mas, no fundo no fundo, eu quero é que elas venham aqui ao paizinho - de uma forma anárquica, de preferência!), o anti-imperialismo, o anti-totalitarismo, o anti-fascismo, o anti-americanismo, o anti-racismo, enfim, todos os antis de que se possam lembrar, havia pins, autocolantes e flyers distribuídos por caixas e pelas paredes com palavras de ordem, só que o factor humano... bem, o factor humano revelou-se algo decepcionante.
Passo a explicar. Um dos problemas dos anarcas, ou pelo menos daqueles e daquelas, é a velha história do practice what you preach. Os tipos são libertários, criticam o Estado, a economia de mercado, a plutocracia, o capitalismo e afins, mas uma pessoa vai olhar para os preços dos livros e é uma exorbitância que só visto; mesmo no que toca àquelas pequeníssimas brochuras xerocadas, os preços não são apelativos, bem pelo contrário (4€ por uma treta com 36 páginas acerca dos distúrbios sociais em Paris?! Ahhhh, vão mas é charrar-se!). Já os cds, esses eram todos uma treta, esta malta devia era consultar a minha colecção para saberem o que é música cacofónica, anárquica, revolucionária, barulhenta e destruidora das classes opressores. Fucking eco-punk-hard-grindcore, porra!!!!!!
Ademais, aquela gente das bancas era tudo menos anarca. Parecia anarca, mas não era anarca. Para além dos livros a preços nada anarquistas, algumas pessoas que estavam a vendê-los mostravam-se mais preocupadas com o capital que era dado em troca do que com os livros propriamente ditos. Eu ouvi, por exemplo, um vendedor perguntar ao seu colega "Vendemos o livro x, não vendemos? É que não está aqui. Mas e o dinheiro? Onde está o dinheiro? Se vendemos o livro, o dinheiro está aonde?" com uma agressividade tal que faria inveja a um Belmiro de Azevedo. Depois, acho engraçado esta malta ser supostamente anti-globalização, mas a verdade é que estavam ali portugueses, franceses, espanhóis, ingleses e sei lá mais o quê a publicitar os seus artigos - e a cobrar euros por isso. Globalização é isto, meus amigos!
Enfim, depois de tanta fantochada, incoerência, dreadlocks sebosos e excesso de tabaco (uma pergunta: por que será que a maioria dos anarquistas está contra os alimentos transgénicos, argumentando tratarem-se sobretudo de um problema de saúde, e no entanto continuam a debitar tabaco - já nem falo sequer do haxe - como se fossem comboios da época do vapor?), fiz o que tinha a fazer: pirei-me anarquicamente dali para fora e fui até à feira do livro de Lisboa, a autêntica. Se o anarquismo é aquilo que estava representado ali, quero ser um déspota totalitário.
P.S.: Pela primeira vez na minha vida, incluindo concertos de heavy metal, fui a um sítio e era a pessoa mais bem vestida e apresentável. Sintomático... ao ponto que a anarquia chegou: até eu já posso dar conselhos de moda àquela gente!!!!
P.S.2: À conta de ter poupado guito na feira pseudo-anarquista, comprei um livro do George Orwell, esse sim, um anti-totalitarista de respeito, na feira do livro de Lisboa. E ainda cuspi nas bancas da Leya. Aprendam, anarcas da treta!
P.S.3: Amanhã, o autor deste blog vai ser publicamente humilhado. À semelhança do que acontecia antigamente com os putos que se portavam mal e eram obrigados a escrever, no quadro e à vista de todos, coisas como "Não volto a despir as cuecas à senhora professora", no post de amanhã a criança que escreve estas linhas ver-se-á obrigada a cumprir um castigo que é do mais reles, do mais baixo que se possa imaginar. Portanto, se quiserem passar por outro blog em vez de clicarem neste, o autor agradece.
P.S.4: Já chega de PS's, não?!
P.S.5: Sim, já chega.
segunda-feira, maio 26, 2008
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2 comentários:
Não!
Eu passarei por aqui, mas não acho que seja um castigo dizer verdades!!!
P.S. Aguardo ansiosamente!!!
Bah, anarquistas eram aqueles que tinham palavras de ordem como "Abaixo a Reacção! Vivam os motores a hélice"
O Capital assume muitas formas meu amigo. A Anarquia é só mais uma forma do Capital...
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