segunda-feira, maio 26, 2008

É a anarquia, estúpidos!

No último sábado, apeteceu-me voltar à militância política e fui até à feira do livro anarquista, que decorreu ali para os lados do Martim Moniz. Quando se fala em anarquismo, há uma antena em mim que desperta e me leva a dizer, alto e bom som, "ISSO, ISSO, Anarquia, Revolução, Abaixo o Estado" e coisas parvas do género (ao pé de mim, os otários socialistas das FARC não passam de miúdos a brincar aos soldadinhos). Sou assim, pronto, e tenho sorte de não estar internado no Júlio de Matos... ainda!
O espaço em que decorria a feira era exíguo, e à hora em que fui, não estava cheio. O que foi bom, pois se estivesse a abarrotar, ver-me-ia obrigado a tomar providências e a ter de expulsar gente lá do sítio. A anarquia é muito bonita e tal e coiso, mas gosto muito de ter espaço para me poder mexer; quinhentos anarcas em pouco mais de meio metro quadrado não me parece propriamente um quadro assaz agradável, e além do mais esta malta cheira mal!
Assim que entrei na feira, exclamei para mim mesmo "Ih, tanto bloquista" e comecei a percorrer as cerca de meia-dúzia de bancas lá instaladas. Tudo muito porreiro, sem dúvida, os livrecos tratavam temas que me são muito caros, como o movimento de libertação animal, o feminismo e os direitos das mulheres (atenção, eu defendo isto mas não sou gay, está bem? Acho que as mulheres são iguais aos homens e essa tanga toda, mas, no fundo no fundo, eu quero é que elas venham aqui ao paizinho - de uma forma anárquica, de preferência!), o anti-imperialismo, o anti-totalitarismo, o anti-fascismo, o anti-americanismo, o anti-racismo, enfim, todos os antis de que se possam lembrar, havia pins, autocolantes e flyers distribuídos por caixas e pelas paredes com palavras de ordem, só que o factor humano... bem, o factor humano revelou-se algo decepcionante.
Passo a explicar. Um dos problemas dos anarcas, ou pelo menos daqueles e daquelas, é a velha história do practice what you preach. Os tipos são libertários, criticam o Estado, a economia de mercado, a plutocracia, o capitalismo e afins, mas uma pessoa vai olhar para os preços dos livros e é uma exorbitância que só visto; mesmo no que toca àquelas pequeníssimas brochuras xerocadas, os preços não são apelativos, bem pelo contrário (4€ por uma treta com 36 páginas acerca dos distúrbios sociais em Paris?! Ahhhh, vão mas é charrar-se!). Já os cds, esses eram todos uma treta, esta malta devia era consultar a minha colecção para saberem o que é música cacofónica, anárquica, revolucionária, barulhenta e destruidora das classes opressores. Fucking eco-punk-hard-grindcore, porra!!!!!!
Ademais, aquela gente das bancas era tudo menos anarca. Parecia anarca, mas não era anarca. Para além dos livros a preços nada anarquistas, algumas pessoas que estavam a vendê-los mostravam-se mais preocupadas com o capital que era dado em troca do que com os livros propriamente ditos. Eu ouvi, por exemplo, um vendedor perguntar ao seu colega "Vendemos o livro x, não vendemos? É que não está aqui. Mas e o dinheiro? Onde está o dinheiro? Se vendemos o livro, o dinheiro está aonde?" com uma agressividade tal que faria inveja a um Belmiro de Azevedo. Depois, acho engraçado esta malta ser supostamente anti-globalização, mas a verdade é que estavam ali portugueses, franceses, espanhóis, ingleses e sei lá mais o quê a publicitar os seus artigos - e a cobrar euros por isso. Globalização é isto, meus amigos!
Enfim, depois de tanta fantochada, incoerência, dreadlocks sebosos e excesso de tabaco (uma pergunta: por que será que a maioria dos anarquistas está contra os alimentos transgénicos, argumentando tratarem-se sobretudo de um problema de saúde, e no entanto continuam a debitar tabaco - já nem falo sequer do haxe - como se fossem comboios da época do vapor?), fiz o que tinha a fazer: pirei-me anarquicamente dali para fora e fui até à feira do livro de Lisboa, a autêntica. Se o anarquismo é aquilo que estava representado ali, quero ser um déspota totalitário.

P.S.: Pela primeira vez na minha vida, incluindo concertos de heavy metal, fui a um sítio e era a pessoa mais bem vestida e apresentável. Sintomático... ao ponto que a anarquia chegou: até eu já posso dar conselhos de moda àquela gente!!!!

P.S.2: À conta de ter poupado guito na feira pseudo-anarquista, comprei um livro do George Orwell, esse sim, um anti-totalitarista de respeito, na feira do livro de Lisboa. E ainda cuspi nas bancas da Leya. Aprendam, anarcas da treta!

P.S.3: Amanhã, o autor deste blog vai ser publicamente humilhado. À semelhança do que acontecia antigamente com os putos que se portavam mal e eram obrigados a escrever, no quadro e à vista de todos, coisas como "Não volto a despir as cuecas à senhora professora", no post de amanhã a criança que escreve estas linhas ver-se-á obrigada a cumprir um castigo que é do mais reles, do mais baixo que se possa imaginar. Portanto, se quiserem passar por outro blog em vez de clicarem neste, o autor agradece.

P.S.4: Já chega de PS's, não?!

P.S.5: Sim, já chega.

2 comentários:

Ilda disse...

Não!
Eu passarei por aqui, mas não acho que seja um castigo dizer verdades!!!
P.S. Aguardo ansiosamente!!!

Humberto Silva disse...

Bah, anarquistas eram aqueles que tinham palavras de ordem como "Abaixo a Reacção! Vivam os motores a hélice"

O Capital assume muitas formas meu amigo. A Anarquia é só mais uma forma do Capital...