Hoje, e para variar, partilho convosco um estranho episódio. Passou-se comigo. E é verídico! Estava eu todo nu na cama a reler o meu exemplar d'As Flores do Mal, do Baudelaire (versão de Fernando Pinto do Amaral, dada a lume pela Assírio & Alvim), quando de repente a minha cadelita decide-se por me fazer companhia, saltando para os meus pés e desatando a lambê-los.
Bem, a esta hora o pobre Baudelaire deve estar a sofrer um fulminante ataque cardíaco no caixão, pois aposto que ele nunca suspeitou que "As Flores do Mal", "Todo nu na cama" e "Cadela a lamber os pés" fossem conjugadas no mesmo universo, quanto mais na mesma frase! Mas, ó Charles, desculpa lá a afronta, só que foi precisamente isto que se passou. E deixa-me que te diga uma coisa: os teus poemas perdem muito do pessimismo e da negritude que os caracteriza quando uma cadela passa aquela língua molhada pelos teus pés! Só um exemplo: pegava eu na 1ª quadra do teu De Profundis Clamavi, que reza "Peço-Te compaixão, ó meu único amor,/Do fundo deste abismo, horizonte de chumbo/Onde a alma caiu. É um tépido mundo/Onde nadam na treva a blasfémia e o horror;", e em vez de me compadecer pela tristeza do poeta, de lamentar o abandono, a desolação e o tédio de quem sofre por amor, pus-me a rir às gargalhadas! Às gargalhadas, meu caro poeta maldito, pois nesse momento a minha discípula de quatro patas passava o órgão gustativo pelo dedo grande do meu pé direito!
Confesso que, embora imprevista e inaudita, até achei certa piada à ocorrência. Pronto, considero que dá outra intensidade à leitura e permite veicular emoções diferentes das habituais e certamente impensadas pelo próprio autor (duvido que Baudelaire alguma vez tenha achado cómicos os seus escritos). Hoje, soltei uma barrigada de riso à conta das lambidelas durante As Flores do Mal. Amanhã, quem sabe se o meu canário não me faz um bico com o bico enquanto pego no Rimbaud?! Se isso suceder, prometo contar-vos tudo, como fiz hoje. Talvez esteja até aqui um novo rumo para a literatura e para a leitura privada...
P.S.: Ainda um comentário literário: ontem, foi lançado o novo livro do Vasco Graça Moura, de nome O Pequeno-Almoço do Sargento Beauchamp. Como é óbvio, não o vou ler, mas cito este caso porque o apresentador da obra não foi outro senão Sua Majestade Sisuda, Vasco Pulido Valente. E o que disse ele? Que se tinha divertido muito ao ler o romance! O Vasco Pulido Valente divertiu-se, minha gente!!!!! Será que também tinha uma cadela a lamber-lhe os pés?!?!
quinta-feira, julho 24, 2008
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3 comentários:
Isso é muito à frente, uma cadela a lamber os pés, se fosse um cão a coisa podia tomar um rumo mais homocoiso pois o rapaz lia poemas que é uma coisa assim meio abichanada (estou obviamente a brincar)...
Jokas
Ler poemas é abichanado, sim, mas compor poemas é-o mais ainda...
Tadita! E qual é o estado da "bicha" depois disso (de te lamber os presuntos)?
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