Sou um gajo com estômago para muita coisa e possuo uma mente suficientemente retorcida para não me impressionar com qualquer desviozinho. Um dos meus autores favoritos é o Marquês de Sade, gosto dos filmes do David Lynch, escuto death metal brutal cinco vezes ao dia e os atentados de 11 de Setembro nada mais fazem senão arrancar-me um leve sorriso. E personalidades como Charles Manson, Josef Fritzl, Andrei Chikatilo ou Nuno da Câmara Pereira não me chocam. Ah, e sou adepto do Sporting.
Ou seja, tenho uma natural inclinação para não repudiar tudo aquilo que é perturbador. Mais: gosto de coisas que perturbam a maioria das pessoas, e tanto assim é que por vezes eu próprio me sinto esquisitóide (é que não é fácil lidar com certos tipos de rejeição: já alguma vez pararam para pensar como se sente alguém que, benevolente, mostra fotografias de corpos mutilados a um colega de trabalho e este reage vomitando?! E depois, já recomposto, ainda tem a lata de me chamar "doente"? Não é mesmo nada fácil...).
Houve uma altura em que, farto de ser diferente, e compreendendo que a sociedade não estava feita para pessoas como eu, decidi internar-me voluntariamente no Hospital Júlio de Matos. Acreditava eu que lá seria o meu lar, que lá poderia fruir confortavalmente dos meus heteróclitos gostos e não ser mal julgado por isso. Mas chegado à porta da clínica, percebi que até mesmo isto me estaria negado:
- Olá - disse eu ao médico que veio ao portão. - Gostaria de ser internado aqui.
- Muito bem - respondeu o doutor. - Mostre-me os seus documentos.
Saquei do bilhete de identidade e entreguei-o em mão.
- Não, seu idiota - comentou - Eu quero é a sua ficha clínica!
- Não tenho disso! - exclamei. - Desde quando é que isso é preciso?
- Sem essa documentação, não pode ficar aqui.
- Mas eu quero! - insisti.
- Pá - argumentou - Mas você é maluco, ou quê? Ponha-se a andar daqui para fora!!!
Ainda procurei fazê-lo compreender que esta última frase não fazia sentido nenhum (só neste país é que expulsam um maluco do Júlio de Matos...) por ser contraditória, porém ele revelou-se intratável é lá tive de me vir embora do lugar que pensei poder ser o meu lar.
Só que, afinal, o médico tinha razão. Eu não fui feito para o Júlio de Matos, porque finalmente percebi que também há coisas que me perturbam. Notável processo de autoconhecimento este que fez descobrir coisas em mim, coisas anteriormente insuspeitas. Sim, eu também sou perturbável. Sim, também posso ser abalado com imagens terríveis. E sim, também sou capaz de reacções, digamos, menos dignas.
O que despoletou toda esta nova sensibilidade? O que causou, num antes imperturbável indivíduo apreciador de gore, violência e horror , uma resposta de náusea e nojo?
Eu tenho até medo de relembrar... embrulha-se-me logo o estômago...
Foi isto: estava ontem a zappar pelos canais de televisão quando dou com o Record e esse programa absurdo que é o João Kléber Total, cujo apresentador, João Kléber, é mais conhecido por andar a montar o silicone da Elsa Raposo. E o que mostrou esse programa para eu ficar tão susceptível? Um cara brasileiro vestido de mulher entra no quarto do Toy, puxa o lençol para baixo e mostra, para as câmaras, sem censura, sem aviso, sem qualquer tipo de paliativo, o Toy em pelota, apenas coberto nas zonas pudendas por uns nada sensuais boxers.
Fiquei pasmado, porque nunca julguei poder ser tão aterrorizado como fui. Comparadas com esta imagem, a fotografia do Alberto João Jardim em cuecas e a do José Cid só com uma capa de disco por cima da picha não passaram de uma mera brincadeira de meninos. Ver o Toy seminu, com aquelas banhas e pêlos ao léu, afectou a minha pobre mente de maneiras incríveis. Estou com os olhos vítreos. Tive pesadelos esta madrugada. Não posso ouvir falar em Setúbal, terra do cantor - sendo que esse é o distrito onde vivo! Esta manhã, enquanto me dirigia para o emprego, passou por mim um carro a debitar a "Olhos d'águaaaaaaa/Não deixam de sentiiiiiiir", e desatei a chorar e tremer de medo, puro medo. Já marquei consulta com um psiquiatra, que terá lugar na próxima semana, a ver se juntos conseguimos controlar os danos. Eu sei que não vai ser fácil, mas o primeiro passo está dado. Estou verdadeiramente perturbado... afinal, também tenho os meus limites, e os meus limites são o Toy.
Bom fim-de-semana, bom feriado e torçam por mim.
Ah, e mantenham-se longe do Toy armado em Tarzan. Para vosso próprio bem...
sexta-feira, outubro 02, 2009
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4 comentários:
Deve ser de meter medo....
A imagem ainda agora me faz ter acessos de pânico.
Bom feriado:) e fim-de-semana.
Como eu te compreendo... é que eu também vi! E agora à noite até tenho medo de fechar os olhinhos para dormir...porra! Assustador!
Oi Peter! De momento só te venho dizer que tens selinho para ti (não daqueles que deixam os olhos a Belenenses), lá na fritadeira! :D Beijinho grande.
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