Começo por dizer que sou um frequentador habitual da Feira do Livro de Lisboa. Creio que desde os meus 13-14 anos não falho uma. Nem mesmo naquele já distante ano em que a Feira deixou o Parque Eduardo VII, local de tantas celebrações livreiras e de outro tipo, quiçá mais carnais, mas vamos deixar este tema de lado porque hoje está cá o Papão e ele não pode ouvir falar dessas coisas, mas dizia eu, naquele ano em que a Feira deixou o parque e foi para o Terreiro do Paço nem aí eu deixei de marcar presença. Este ano, contudo, por via dos múltiplos compromissos em que tenho de me desdobrar, estive para ver que não conseguiria dar lá uma saltada. Felizmente, encontrei um buraquinho na minha agenda no passado Sábado, e tal como acontece com qualquer buraquinho que veja, resolvi entrar. E arrastei a gaja para vir comigo.
Mas deu-se o azar dos azares, pois de todos os dias em que uma pessoa deveria estar longe de um evento ao ar livre como a Feira do Livro, o passado Sábado terá sido, provavelmente, o pior. Se não se recordam, no Sábado caiu, como dizem os brazucas, o maior toró. Choveu praticamente o dia todo, e a chuva vinha acompanhada de um irritantezinho vento. E o que estavam aqui o je, mais a sua companheira, a fazer enquanto a chuva e o vento adquiriam as suas forças mais elevadas e fustigavam todo e qualquer incauto? Exacto, a andar para cima e para baixo no Parque Eduardo VII! O que é algo que, honestamente, desaconselho. É óbvio que tem as suas vantagens: posso dizer, por exemplo, que nunca me foi tão fácil fuçar nas bancas como na tarde de Sábado. Normalmente, para ficar a par do que está em promoção designadamente na Assírio ou na Relógio d'Água, tenho de pedir licença a uns manhosos que fazem fila e mandar uns encontrões, ou até, quando vejo algo que definitivamente me interessa, gritar "Ninguém toca no livro de poesias do Auden, caralho! É meu!!!!". No Sábado, nada disto se passou. Foi tudo muito pacífico, estive sempre à vontade... descontando o facto de me estar a cair um dilúvio na mona.
Posso garantir que, quando saímos do espaço da Feira, parecíamos autênticos pintos molhados. A gaja, aliás, tinha autênticas poças dentro dos sapatos. A coisa estava tal modo má que eu - pasme-se, e apesar da liberdade em vislumbrar o material - só consegui comprar um único livro: um do Mário de Carvalho (um dos meus escritores portugueses predilectos) a 40% de desconto numa das bancas da capitalista LeYa. Adquirir apenas um livro na Feira é, para mim, um recorde negativo absoluto! E mais: farto que estava de passear por ali, arriscando um malho no piso duro (isto porque, com a água que escorria desde, vá lá, o caralho do Cutileiro até cá abaixo, o piso tornava-se incerto), esqueci-me até de passar pela Relógio d'Água e trazer A Estrada do Cormac McCarthy, livro que eu tinha planeado de antemão comprar. A gaja, essa, nem um único livro comprou: a sua ida à Feira limitou-se a alguns chapinhanços em poças. Fiquei mesmo com a sensação de que um prisioneiro de Guantanamo habituado às praticas do waterboarding não sentiria nenhuma diferença caso fosse convidado a visitar a Feira do Livro de Lisboa no último Sábado 8 de Maio.
Mas a história não acaba aqui! Vínhamos nós já no caminho de casa, ansiosos por despir as roupas coladas ao corpo e mergulharmos, de chapa, na banheira provida de água deliciosamente quentinha, quando o sacanita do carro resolve começar a engasgar-se e ficar-se pelo caminho. Razão: acabara-se a gasolina! Era tudo o que faltava acontecer numa tarde em que eu pensei vir a desenvolver guelras, tal era a quantidade de H20 que o meu corpo tinha absorvido. Não tive outra opção senão sair do carro para um novo encontro com a chuva que teimava em continuar a descer dos céus e, literalmente, fazer-me à estrada em direcção à bomba de gasosa mais próxima. Com uma garrafa bem cheia daquele líquido combustivo, regressei ao popó, deitou-se a coisa no depósito, o carrito gostou, pegou e não se engasgou e finalmente pudemos chegar a casa.
Nunca passei por tanto só por causa da Feira do Livro. Da próxima vez que ouvir na televisão um intelectual da tanga afirmar que os portugueses estão divorciados dos livros e das leituras, eu juro que lhe deito uma piscina de água pela cabeça abaixo...
terça-feira, maio 11, 2010
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2 comentários:
Bom e para o ano lá estaremos tb! E se chover, melhor!!!
:) Que aventura!
Se isto te anima, ficas a saber que tenho cá A Estrada.. podes levar para ler.
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