*cena ripada ao José Luís Peixoto
Sim, está bem, o Saldanha Sanches quinou e tal, mas e quantas pessoas resolveram ter uma palavra amiga que fosse para com o meu leitor de mp3, acabadinho de falecer?!?! Hmmm? Sim, quantas?! É um mundo mesmo injusto este, em que até os mp3 são desprezados e esquecidos.
Mas não por mim! Nunca por mim. Eu rejo-me por uma elevadíssima conduta moral e sei agradecer. Tenho memória! Tenho compaixão! E tenho saudades de ouvir heavy metal no comboio! Por isso, meu recém-falecido mp3, este post hoje é para ti. Jamais te esquecerei!
Morreste-me (este início é também ele ripado do José Luís Peixoto). Nunca pensei que isto pudesse acontecer! Quando fui ligar-te hoje e tu não respondeste, nem queria acreditar! "Então eu carreguei-te na passada terça-feira, não podes já estar sem bateria", proferi, na minha ignorância. Tentei ligar-te uma segunda vez. Uma terceira. E tu, nada. Tentei de novo. Nada. À vigésima sétima vez, comecei a ficar desconfiado. Pensei: "Olha, tu queres ver que deu o badagaio a esta porcaria?" e logo no momento imediato lamentei este desabafo insultuoso. Não o merecias. Afinal, deras-me tanto! Desde o momento em que me foste oferecido, a tua contribuição para a minha felicidade foi imensa, colossal. Ficaste, ao longo de quase dois anos, a saber o quanto eu adoro ouvir heavy metal, e às vezes até mesmo música, no trajecto casa-trabalho-casa. E sempre te portaste bem, inclusivé após um manuseamento mais descuidado da minha parte, do qual me penitencio, e que levou a que se te partisse o ecrã! Nem aí o teu funcionamento deixou de ser impecável. Até hoje. Hoje, triste dia. Lamentável dia. Merda de porra de dia! O dia em que te foste...
Olhando para trás, talvez a culpa tenha sido minha. Talvez não devesse ter abusado tanto de ti, meu leitorzinho querido. Obrigar-te a trabalhar 6 dias por semana talvez tenha sido demais. Devias andar cansado, mas eu, no meu egoísmo de ouvinte, não liguei aos sinais. Aos meus olhos, e ouvidos, aparentavas estar bem, mas provavelmente já não estavas. Continuaste a sacrificar-te e eu deixei andar, qual José Eduardo Bettencourt. Uma vez por semana, enchia-te com dezenas de álbuns; chegaste a levar com a discografia inteira dos Paradise Lost. E nem aí te queixaste. Ou se calhar talvez o tenhas feito, eu é que estaria cego e surdo para as tuas reclamações! Oh, santa ignorância a minha! Oh, grave arrependimento o meu! Oh, que estúpido dramatismo estar aqui a colocar frases iniciadas por "Oh", devo andar a pensar que sou o Shakespeare!
E agora, morreste-me (volto a avisar que esta treta é ripada do José Luís Peixoto). Sinto-me tão sozinho sem ti, tu que nem há duas horas me abandonaste. Com que disposição voltarei hoje a casa, sabendo que já não posso pôr nos ouvidos os teus fones? Com que cara enfrentarei os grunhos que se sentam à minha volta no comboio, agora que já não estou isolado pela volumosa carga decibélica que debitavas? O que farei?, é o que me pergunto...
Deixo-te, a partir daqui, um saudoso adeus. Transportarei o teu cadáver comigo, porque tenho uma dívida a pagar. Não te deitarei fora, não te jogarei no lixo. Arrumar-te-ei algures numa gaveta ou num armário, porque mereces ficar perto daquele que tanto te amou e, infelizmente, tanto te explorou. E se algum dia resolver comprar uma coisa mais xpto, tipo um iPod, ai podes estar certo de que não te esquecerei. Vai em paz e leva contigo os discos com que te tinha carregado na passada terça-feira, e que incluem a discografia dos Type O Negative, o Barbeiro de Sevilha do Rossini, os três últimos discos dos Therion, o segundo dos The Dillinger Escape Plan, o Peer Gynt do Grieg, o primeiro dos Acid Drinkers, o 3º Concerto Project do Philip Glass e, para não variar, uns 30 discos de Paradise Lost. Vai e goza. Eu pensarei em ti... sempre!
Adeus.
sexta-feira, maio 14, 2010
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4 comentários:
mas... mas... isso não era (semi)novo?
compra mas é um iPod! :P
Que lindo! Até fiquei com lágrimas nos olhos...
O mp3 novinho que eu te dei morreu??? Como pode isso ter acontecido? Mas ainda tá na garantia não tá??
Eu por acaso até acho o Dr. Saldanha Sanches uma referência pela positiva mas um gajo ficar sem mp3 devia ser inconstitucional.
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