O post de hoje é o resumo de uma comunicação que estou a preparar e que irá ser apresentada à Universidade do Zambeze, no Colóquio Internacional "Política?! Foda-se, antes levar com uma bigorna em cima dos cornos", a ter lugar no próximo 45 de Março, entre a segunda e a terça-feira, e que contará com a presença de alguns dos mais prolíficos especialistas do pensamento político contemporâneo.
Evolução do homo politicus lusitano, por Peter of Pan (resumo)
Como são caracterizadas as opções políticas do indivíduo médio nascido em Portugal? Durante um alargado período de investigação (cerca de 5,14 segundos), compilámos e analisámos dados reveladores: o português altera a sua bússola de preferências políticas ao longo da vida, correspondendo a cada fase uma simpatia diferente. A tipologia que se segue dar-nos-à conta disso mesmo.
Dos 0 aos 10 anos - Esta fase é um paradoxo, porque embora a criança não tenha adquirido ainda consciência política, é nesta altura que mais se assemelha aos políticos propriamente ditos, sobretudo nos primeiros tempos. Senão, veja-se: só faz merda, não se percebe nada do que diz e chora por tudo e por nada. Tudo, pois, qualidades que encontramos em qualquer animal político.
A situação começa a alterar-se por volta dos 6 anos, onde se assiste à formação, ainda que embrionária, de uma consciência política, visível quando os miúdos chegam a casa chateados e queixam-se aos pais que a senhora professora é uma ganda puta. É a fase de negação da autoridade, juntamente com a percepção do sexo e das relações económicas entre quem dá e quem leva.
Dos 11 aos 21 anos - Aqui, a consciência política encontra-se perfeitamente activada. É a fase da rebeldia, da descoberta, da tentativa de fazer sexo com tudo e todos, independentemente da raça, cor, género ou planeta. Nesta idade, os jovens têm ideias que chocam com os valores da sociedade, muitas vezes só para chatear os pais, para o qual também contribui a péssima indumentária escolhida. Aqueles que podem votar não hesitam: o Bloco de Esquerda é o seu partido de eleição. E aqueles que não podem votar não se importam muito, pois vão para trás dos boletins de voto charrar-se. É, pois, a idade da inocência e da estupidez...
Dos 22 aos 35 anos - Podíamos designar esta idade por "idade laboral". Após a fase anterior, o indivíduo percebe que tem de trabalhar para ganhar a vida, e por isso o melhor é deixar-se de patetices. Mas o mercado de trabalho é selvagem, e tem de se começar por baixo. Apercebendo-se da exploração inerente ao patronato, o jovem revolta-se, protesta, une-se com colegas, manifesta-se, faz greves, corta estradas, exige melhores condições, principalmente porque emprenhou a vizinha do lado, que é 100% católica e não tem vontade de fazer um aborto. Quando vota, não há dúvida: é PCP (ou seja, CDU), vermelhão de cima a baixo. Esta é a fase da luta, dos conflitos de classe, do combate ao sistema a partir de dentro do próprio sistema.
Dos 36 aos 44 anos - Depois de muito ter lutado, o indivíduo vê reconhecido o ser valor e começa efectivamente a subir na vida. É promovido, conta com um melhor salário, compra uma casa, mesmo que seja preciso endividar-se ao banco, um carrito jeitoso e já se dá ao luxo de dar prendas à mulher e aos filhos. Começa a pensar que isto de defender os trabalhadores já deu o que tinha a dar, e assume uma posição política mais branda. Quando vai às urnas, a época em que metia a cruz na CDU já lá vai; a altura em que votava BE nem sequer lhe passa pela cabeça: agora é só PS. É a fase do início do conformismo e do abandono das causas fracturantes.
Dos 45 aos 60 anos - A vida corre cada vez melhor. O português chega ao topo: torna-se CEO de uma empresa lucrativa, arranja umas 5 ou 6 secretárias, de quem inevitavelmente se amantiza, tem uma mansão e uns 2 ou 3 Mercedes, os filhos passam a estudar em colégios privados e a esposa dá festas em Cascais. A consciência política altera-se radicalmente: os trabalhadores agora são vistos como pulhas preguiçosos, o Estado é olhado como ladrão e a sua linha ideológica passa a ser a liberal. Como consequência, quando é dia de votos, marca a cruzinha no PSD, apesar dos artigos do Pacheco Pereira. É a fase do capitalismo puro e duro, em que o indivíduo faz dinheiro atrás de dinheiro e acha isso divertido.
Dos 61 anos até ao fim da vida - O indivíduo reforma-se (antes do tempo) e com um vencimento chorudo. Quer aproveitar a vida ao máximo, seja em viagens, seja em consumo desenfreado. Ao mesmo tempo, procura reaproximar-se da família, mas os filhos já não lhe ligam nenhuma e os netos muito menos, a não ser quando se trata de chupar dinheiro. Em reacção, torna-se acérrimo defensor dos valores tradicionais, e opõe-se com veemência ao caminho que a sociedade toma. Quando vai botar o boletim de voto, a volta de 180º completa-se e torna-se simpatizante assumido do CDS/PP. É a fase retrógrada e conservadora, que durará até quinar (felizmente, não levará muito tempo).
E é isto. Sem dúvida, sou o mais lúcido ensaísta político deste país. Aprendam, professores da Católica.
quinta-feira, janeiro 29, 2009
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4 comentários:
Minha nossa Senhora da Agrela, que não há xântinha como ela... aprendi em 5 minutos o que não consegui em décadas!!!! Acho que me vou reformar mais cedo, quem sabe não tenho os Mercedes mais cedo??? hihihih
bjs endiabrados
Este blogue é autêntico serviço público, pá!
Uau..eu conheço um homem de 55 que ainda vai na fase da adolescencia..
E eu ainda não passei da primeira fase...
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