Não, não é um post sobre o actual [sim, "actual". O acordo ortográfico ainda não meteu os pés neste blog] estado do país. O que apelido de "muito desagradável" foi ter, há minutos, apanhado com um ressonador profissional no lugar imediatamente diante do meu no comboio. De início, a situação até não parecia problemática, pois limitei-me a sentar-me diante do javali senhor que, embora extremamente gordo, teve a sensibilidade de afastar os troncos as pernas para me deixar ocupar o lugar. Depois tudo correu como normal: fones nos ouvidos, pasta no meu colo, livro retirado do interior da pasta, lápis do Ikea na mão e estava pronto para ser acompanhado pela leitura e pelo heavy metal até chegar ao meu destino.
Eis senão quando começo a ouvir uns sons simultaneamente estranhos e familiares. Familiares porque já ouvira algo semelhante; estranhos porque não estava a perceber de onde provinham. À partida, pensei que era do leitor mp3: ouço muitas bandas cujos vocalistas gritam, urram e grunhem, bem que poderia estar a apanhar com um que ressonasse. Mas não, lá me apercebi que o ronco não provinha dos meus fones. Foi aí que levantei os olhos das páginas e olhei em frente: oporco gordo senhor estava com a cabeça encostada à janela e ressonava em alto e bom som. Ressonava tanto que todas as outras pessoas presentes no comboio contemplavam, desdenhosamente, o espectáculo. Eu, para melhor apreciá-lo, tirei os fones, acção de que de imediato me arrependi, porque fui "agraciado" com um ronco de tal tamanho que cheguei a confundi-lo com o som de um tsunami. Não que eu alguma vez tenha estado diante de um tsunami, mas julgo que o som produzido pelo embater de milhares de milhões de toneladas de metros cúbicos de água numa qualquer superfície não deve andar muito longe do som que aquele arraçado de hipopótamo pré-histórico sujeito acabara de produzir.
Perante tais factos, e ao contrário de pessoas ligadas ao Partido Socialista que, quando vêem as coisas correrem mal, nada fazem, resolvi agir. E agi dando um subtil pontapé nojavardo à minha frente. Não funcionou. Ouviu-se mais um ronco. Dei um novo pontapé, desta feita com mais força. Também não funcionou, para meu desapontamento. Meu e de todas as outras pessoas daquela carruagem, que olhavam para mim como uma espécie de Marco Van Basten que vem salvar o Sporting. Respirei fundo. Cruzei olhares com todos os outros passageiros, que pareciam dizer-me "Força, rapaz. Vai. Dá-lhe! Estamos contigo! És bonito, inteligente e tens todo o ar de quem gosta de mamas. És o nosso homem. Liberta-nos!" Era tudo o que precisava: ao mesmo tempo que lançava para fora o ar do meu peito, espetei no mamute uma daquelas pantufadas que deixariam orgulhosos o Maniche, o Petit ou até mesmo o Bruno Alves. O resultado foi imediato: o roncador lá despertou do seu profundo sono e, estremunhado, olhou em redor, como se tomasse pela primeira vez consciência do local onde se encontrava. Eu, claro, já tinha colocado a máscara do "gajo que está a ouvir fones e a ler um livrinho e portanto anda completamente alheio a tudo o que está a ocorrer à sua volta". Pelo canto do olho, ainda vi aquela espécie de texugo o senhor a coçar a perna, como se alguma coisa o tivesse picado. E vi também alguns sorrisos trocados entre os restantes passageiros: se as contas do país andassem na linha, se o Presidente da República e o primeiro-ministro fossem pessoas de confiança e se o ministro das Finanças percebesse realmente alguma coisa daquilo, tenho a certeza de que aquela gente no comboio me proporia, logo ali, uma Grã-Cruz da Ordem do Infante, um subsídio vitalício mensal não inferior a 50000 € e uma GameBox para todos os jogos a disputar no Alvalade XXI.
Bom, só sei que oimperador do ronco tipo não voltou a ressonar, o que permitiu a todos nós fazermos o resto da viagem na paz e no sossego habituais. O que, para mim, equivale a ler coisas que metem sangue e vísceras e a ouvir gajos a grunhir coisas que metem sangue e vísceras. Roncos é que não, pá! Isso é muito desagradável!
Eis senão quando começo a ouvir uns sons simultaneamente estranhos e familiares. Familiares porque já ouvira algo semelhante; estranhos porque não estava a perceber de onde provinham. À partida, pensei que era do leitor mp3: ouço muitas bandas cujos vocalistas gritam, urram e grunhem, bem que poderia estar a apanhar com um que ressonasse. Mas não, lá me apercebi que o ronco não provinha dos meus fones. Foi aí que levantei os olhos das páginas e olhei em frente: o
Perante tais factos, e ao contrário de pessoas ligadas ao Partido Socialista que, quando vêem as coisas correrem mal, nada fazem, resolvi agir. E agi dando um subtil pontapé no
Bom, só sei que o
2 comentários:
Não percebi essa de já ter "ouvido algo semelhante"!
E eu não percebi essa de te premiarem com uma game box para ver os jogos do sporting...
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