sexta-feira, março 04, 2011

O típico diálogo de uma sexta-feira de manhã.

Eu: F*da-se, dói-me a garganta!
Gaja: Que malcriado. A última palavra que te ouvi ontem foi um "f*da-se", a primeira que te ouço hoje é um "f*da-se". Andas mesmo mal educado.
Eu [com toda a elevação e cultura, ou não fosse eu um apreciador de grande parte da literatura ocidental]: Acusas-me de ser mal educado porquê, c*ralho?!?!? [acho que já vi isto no Shakespeare, ou mesmo no Platão. Enfim, deve ter sido num paneleireco qualquer desses]
Gaja: Lá está...

Por esta amostra, a situação parece não abonar muito em meu favor. Porém, as aparências são ilusórias. Em minha defesa, tenho a invocar dois argumentos, que qualquer pessoa de bem compreenderá.

Primeiro argumento:
Juro não me lembrar de ter dito um palavrão antes de me deitar. Afinal, o Sporting ontem não jogou, ou seja, não perdeu, portanto deitei-me satisfeito e feliz da vida. De modos que o "f*da-se" que me é atribuído antes de apagar a luz é provavelmente fruto da imaginação da minha gaja, que insiste em ouvir "f*da-ses" onde eles não existem, tudo debaixo do propósito draconiano e malicioso de

a) acusar-me de ordinário;

b) castigar-me, como se faz às crianças que dizem asneiras à frente dos papás. E lá em casa, o castigo tem um nome, um nome terrível: chama-se "lavar a loiça"! Por exemplo, na quarta-feira fui castigado: o rol de c*ralhadas que mandei logo após o golo do cabrão do espanhol cabrão do lampião filho da puta do paneleiro Javi Garcia teve como consequência a gaja arrastar-me até ao lava-loiça e pôr-me a lavar tachos e panelas e mais tachos e panelas. Quando acabei, ela foi buscar os tachos e panelas dos vizinhos. Quando acabei estes, ela foi bater a todas as portas no raio de 5 km e trouxe todos os tachos e panelas que pôde enfiar dentro de uma carrinha de caixa larga. Fiquei até às 4 da manhã agarrado ao detergente, à esponja, à palha de aço e - adivinharam - a tachos e panelas...

E não me fico por aqui. Se é verdade que disse um "f*da-se" logo pela manhãzinha, o mesmo foi absolutamente justificado, já que acordei com dores de garganta e constipado. Que melhor maneira de uma pessoa apresentar a sua revolta do que com um "f*da-se"?!? Que queriam que eu dissesse? "Florzinhas, florzinhas, dói-me a garganta, ursinhos de peluche, estou constipado, festinhas em gatinhos, tenho o nariz entupido"?!?! Devem estar a brincar, não?! O c*ralhinho!... O meu segundo argumento explanará esta questão com mais detalhe.

Segundo argumento:
Este é um bocadinho mais elaborado. Mas resume-se a isto: DESDE QUANDO É QUE UM GAJO É LOGO TAXADO DE MAL EDUCADO SÓ POR TER LARGADO UM "F*DA-SE"?!?!? Então tem algum mal dizer um "f*da-se"?!?! E quem diz um, diz mil e quinhentos, ou coisa assim. Desde que sejam justificados (veja-se o final do meu primeiro argumento), não há mal nenhum. Se eu, lá por ter dito um "f*da-se" quando verifiquei que trazia a garganta inflamada, sou desde logo grafado de mal educado, então sou maricas quando olho para um gato e digo "tão fofinho"?! "Fofinho", recorde-se, é uma coisa que os larilas estão sempre a dizer. Isso e "ai, ainda arranco os olhos a alguém se não conseguir comprar aquele blazer daquela loja". E também "ai, o que eu queria era ter um Renato Seabra só meu". E dizem muitas outras coisas, porque eu, quando vou rodar os bares à noite no meu part-time de drag queen bem os oiço, a esses boiolas.

Penso que ninguém pensará assim. Um "f*da-se" torna um gajo tão mal educado quanto um "fofinho" torna um gajo abichanado. Ou seja, nada. Tudo depende do contexto. O contexto é realmente a chave. Se eu chamar "fofinho" ao cu da Jessica Alba, só por muita má fé podem acusar-me de gayzisse. Mas se eu chamar "fofinho" ao cabrão do espanhol cabrão do lampião filho da puta do paneleiro do Javi Garcia, bom aí o panorama é outro, certo?! Da mesma forma, se eu largo um "f*da-se" quando me dói a garganta, é preciso estar de má vontade para dizer que sou mal educado. Porque não sou. Sê-lo-ia se dissesse tal palavra num contexto em que funcionasse desde logo como uma intrusa. Por exemplo:

"Bom dia, gaja. Já viste que está um f*da-se de um dia?"

ou

"Olá, gaja. Já te vou ajudar com as compras, deixa-me só descalçar-me porque acho que tenho uma f*da-se no sapato."

ou ainda

"Gaja, gostei muito do último prato que inventaste. Estava mesmo bom, até soube a f*da-se."

ou até mesmo

"Até logo, gaja, e f*da-se"

Se eu alguma vez proferisse estas frases, aí sim, estaria a ser mal educado. Porque seria recorrer à asneira gratuita, aplicá-la como se fosse a coisa mais natural do mundo, o que é desde logo o traço mais evidente da má-criação. Mas não é isso que eu faço, c*ralho! Só recorro a este palavreado quando ele se revela absolutamente necessário! Como no caso em que me dói a garganta. Porque é mesmo uma situação f*dida!

Bom, fico-me por aqui porque já fiz a minha apologia. Creio que a minha argumentação é insofismável e mostra que eu estou, como sempre, coberto de razão. Portanto, a minha gaja não está correcta quando me acusa de ser mal educado.

Adeus e tenham um fim-de-semana do c*ralho.

2 comentários:

Benedita disse...

De facto PETER, acho que foste alvo da mais pura injustiça! :)
Como sempre, um texto muito bem pensado! (ainda que sejas um malcriadão!) ;)
Bom fim-de-semana. :P

Ilda disse...

"MAL-INDUCADÃO"!!!!