sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Ai tu és isso? Então toma lá:

Uma vez que o nosso colega Cão (ASSINA OS TEUS POSTS, CARAGO!!!!!!) tem feito o favor de nos agraciar com excertos de Jerusálem, do escritor português contemporâneo Gonçalo M. Tavares, achei por bem compartilhar convosco uma amostra da obra deste autor desconhecido mas igualmente de qualidade:

"Ao subir a rua, não pude desviar o olhar daquelas nalgas que se meneavam bem na minha frente. Um traseiro irrepreensível, pensei para com os meus botões. A dona daquela parcela de carne assemelhava-se a uma deusa grega que descera à terra para conviver com os meros mortais. Não que eu alguma vez tivesse visto uma deusa grega, mas dá um efeito literário interessante escrever isto. Está bem, podia usar no seu lugar uma deusa hindú, ou nipónica, ou até nórdica, mas achei melhor uma grega. Bom, adiante. Adiante também caminhava ela, e eu atrás. Sempre atrás. Eternamente atrás. Oh, o que não daria para estar dentro daquelas calças! Aqueles movimentos provocavam-me dores no baixo-ventre... Seriam dores boas, dores más?!?! Não sei, nunca estudei muito as teorias relativistas da pós-modernidade, de modos que vou abster-me de tomar partidos axiológicos.
E, de repente, a divindade parou. Estaquei também, mais por mimetismo do que por desejo consciente. Ela voltou-se para mim. Eu, que já estava virado para ela, não me voltei. Seria estúpido da minha parte fazê-lo. Ela olhou-me nos olhos. Digo eu, embora isso são seja seguro, uma vez que a minha vista estava pregada ao seu peito. E se o traseiro era bom, o que dizer daqueles seios!... Começou a caminhar para mim. A dor no meu baixo-ventre intensificou-se... lembrei-me daquela vez em que, num jogo de futebol, levei com o esférico bem no meio dos colh... quer dizer, nas partes baixas. Estava mais perto. Mais perto ainda. Tão perto que quase sentia a sua respiração quente. E a minha dor não parava de aumentar. E ela a aproximar-se. E eu sofrendo tão profundamente que só pensava em chamar uma ambulância. Até que, finalmente, ficámos cara-a-cara. E aí a donzela exclamou: "Parvalhão", deu meia-volta e foi-se embora. Abandonado naquele passeio de calcário, fiquei com uma cara de idiota que nem queiram saber. E não vão saber mesmo porque também não vou contar!"

in Eterno Entorno, Vila Nova de Poiares
Eterno Entorno, em mais outro desvio por este blog

2 comentários:

Anónimo disse...

Bela história! Fico à espera de mais. Não tens nenhuma com a miúda do gaz? Já agora, a parte da bola no meio dos colhões é curiosa: onde é que é o meio dos colhões?

Anónimo disse...

du best qu e já li. Ao pé disto, o Bocage é noosense.