quarta-feira, agosto 30, 2006

terça-feira, agosto 29, 2006

o trabalho filosófico

Há alturas em que chegamos as certas conclusões que, de acordo com as convenções em vigor, não são supostas fazer sentido. Pode acontecer que apesar da força dessas convenções, continuemos a acreditar nelas. Pode então acontecer descobrirmos que alguém pensou o mesmo que nós, sendo esse pessoa, alguém cuja autoridade não pode facilmente ser colocada em causa. Pode até acontecer essa pessoa ser alguém que tenho dito mais coisas que vos interessaram. Para alguém que eventualmente pensou que a maioria das coisas que se lêem em Filosofia (incluindo Analítica) são produto de um uso leviano da razão, aconselho vivamente a leitura do texto de Dummett disponível na página pessoal de M.S. Lourenço e entitulado "Elogio do Perfeccionismo segundo Michael Dummett".
É certo que não sou ninguém para dar conselhos, mas ainda assim, aqui vão dois.
O meu conselho aos filósofos que pretendam ser socialmente aceites como pessoas tão sérias como os cientistas, é que em vez de se preocuparem com fazer parecer o seu trabalho como possuindo o mesmo grau de rigor e clareza que o de um profissional da Ciência, aprendam um mínimo de Ciência. Primeiro, aprendiam o suficiente para não fazerem as afirmações de teor científico absurdas que por vezes fazem. Segundo, aprendiam que o rigor e a clareza em Ciência não são bem aquilo que a maioria dos filósofos pensam ser o caso. O meu conselho para os filósofos em geral, é que não liguem a coisas como o respeito (ou a falta dele) que socialmente é atribuído à Filosofia, ou com a imagem que alguém vai ter de vocês quando disserem que estudam Filosofia.

Cão

domingo, agosto 27, 2006

Conto idiota para leitores semi-embriagados!

Terra. 2006, Ano do Senhor. Um esquilo faz InInInIn. Um gato faz miau. Um primeiro-ministro de Portugal não faz nada. Atrás de mim, um certo editor pede-me para avançar com o raio da história. Resolvo responder-lhe diplomaticamente e com uma delicadeza capaz de envergonhar o próprio Descartes: "Mete os cinco dedos da mão direita no esfíncter." A princípio, ele mostra-se confuso, até que decido acrescentar "No teu!" Não temo que esta atitude de adolescente insubordinado prejudique o meu futuro enquanto futuro escritor falhado. Um homem por vezes tem de se impor, e quando o faz é melhor não usar de falinhas mansas. Afinal, se eu quisesse armar-me em choninhas, teria ido para militante do CDS/PP.

[Interrupção no conto para uma mensagem de alerta: NUNCA deixem um amigo, um familiar, um conhecido ou até mesmo um treinador do Benfica inscrever-se como militante do CDS/PP. Parece que o CDS/PP é um partido de direita... e de betos... e de conservadores... e do Paulo Portas. Tomem cuidado!]

O meu editor deixa escapar uma expressão de surpresa. Certamente não esperava aquela boca do esfíncter ("boca do esfíncter"?!?!?! Que livros de anatomia ando eu a ler?), mas agora é tarde para voltar atrás. Ademais, eu NÃO quero voltar atrás! Antes que ele consiga esboçar uma qualquer resposta, insisto: "E se não estás contente, pega aqui no meu mastruço, rasga a porra do contrato e dá meia-volta, seu Alberto João Jardim da literatura."

Terra. 2006, Ano do Senhor. Passaram sete minutos desde a primeira frase. Um esquilo volta a fazer InInIn, mas agora numa entoação diferente. Um gato volta a fazer miau, mas com um sotaque alentejano. Um primeiro-ministro de Portugal continua sem fazer nada, só que agora veste um roupão cor-de-rosa e exibe uma tatuagem com os dizeres "Marocas Forever". Atrás de mim, um editor acena-me com a rescisão de contrato, o que significa o despedimento. Resolvo deixar a porcaria da vida literária e para me dedicar somente à culinária tailandesa. Esperem por mim num restaurante das redondezas.

FIM (ou, como se diz na minha terra, "puta que os pariu")

Eterno Entorno, num momento de devaneio ébrio