quarta-feira, outubro 30, 2013

O regresso dos jogos de futebol com amigos

Quando um grupo de amigos me chama para jogar à bola, eu normalmente digo presente. E ontem disse-o: passados mais de três anos desde a última vez, voltei a jogar futebol. Vivas para mim!

Claro que este interregno provocou as suas mossas. Eu já não jogava há tanto tempo que, quando me foi passada a bola pela primeira vez no jogo de ontem, eu fiquei 10 segundos a pensar "Mas que raio faço eu agora com esta merda?!". Quando cheguei à conclusão que era para enfiar aquilo na baliza adversária, já a bola tinha desaparecido de junto dos meus pés. Indignado, ainda pensei em chamar as autoridades, mas um companheiro de equipa despertou-me desta letargia ao gritar "F*d@-se, Peter of Pan, mexe-te, c@r@lh*!". Passados 5 minutos, a reminiscência futebolistica já se instalara perfeitamente no meu disco rígido e jogava à vontade com o resto da equipa à qual pertencia.

Não foi apenas a dificuldade de recordar o que havia para fazer num campo de futebol a única mossa provocada pelo meu prolongado hiato destes ofícios. Outras mossas foram surgindo. Enquanto futebolista, devo confessar que a técnica está lá, praticamente intacta, e uma ou duas jogadas de elevado recorte artístico comprovaram-no. A velocidade também não sofreu muito: continuo capaz de competir com o Usain Bolt, ou seja, se me ponho a correr, ninguém me apanha. Mas a resistência, essa... se, como referi, ao fim de 5 minutos já estava entrosado com a equipa, ao fim de 6 minutos já pedia a intervenção do INEM, de tão extenuado que me encontrava. 

Portanto, bem feitas as contas, só pude demonstrar o meu real valor durante 1 minuto. Se tivermos presente que o jogo durou 60 minutos, é fácil perceber por que a minha equipa perdeu por 5 a 3: estivemos mais de 50 minutos a jogar com menos um jogador, e esse jogador a menos era eu, que me arrastava literalmente pelo relvado e era levado a pensar que a profissão de trolha, afinal, custa menos, fisicamente falando, do que dar uns toques numa bola.

Isto dito assim, pode-se pensar que eu tenho as mesmas capacidades dos jogador do Benfica: eles também não sabem o que fazer dentro do campo e não podem com uma gata pelo rabo. Essa comparação sai ainda mais reforçada quando os meus companheiros foram unânimes em afirmar que o meu estilo de jogo, naquele único minuto em que consegui realmente jogar, fazia lembrar o do Markovic. Ora, isso é a mesma coisa que dizer que eu jogo como o Messi: se eu sou parecido com o Markovic (dizem os meus colegas) e se o Markovic é parecido com o Messi (diz a imprensa conotada com o clube lampião), então, pela regra lógica do "Se A é B, e se B é C, então A é C", regra que até o Manuel Maria Carrilho percebe sem ter necessidade de agredir alguém, eu sou parecido com o Messi. QED.

Mas só durante um minuto...

Daqui a 15 dias, tenho novo jogo. A minha exibição foi tão marcante que fui novamente convidado, sobretudo pelos jogadores da equipa adversária - não compreendo é porquê...

Da próxima vez, vou tentar ser o Markovic/Messi durante 2 minutos. Daqui a uns bons anos, consigo manter o nível durante o jogo todo.

segunda-feira, outubro 28, 2013

As minhas impressões sobre o caso Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho

A novela do momento é a troca de galhardetes e, a crer nas notícias, em algo mais do que isso, entre o ex-ministro Manuel Maria Carrilho e a apresentadora Bárbara Guimarães. Diz-se por aí que o filósofo agrediu a barbie, o que faz desta uma relação althusseriana, mas em fraquinha (o Althusser foi um filósofo que um dia se passou da marmita e matou a esposa. Enfim, é o que dá querer reinventar o Marx...).

O que a mim importa verdadeiramente neste enredo é saber o que terá motivado Carrilho a agredir a mulher. Sendo que um filósofo gosta sempre de agir em conformidade com o seu pensamento (uma questão de unir teoria e práxis, agora não vou estar para aqui a explicar!), gostava de saber quais foram as causas que levaram um pragmatista a assentar a palma da mão, ou a sola do pé, no rosto da famosa figura televisiva.

Como sou também um gajo dado às filosofias, pus-me a pensar nisto. E cheguei a três possíveis conclusões.

1 - O Carrilho agrediu a Bárbara porque esta mexeu-lhe no Aristóteles sem pedir autorização.
Eu percebo: se tivesse alguém a mexer-me no Aristóteles sem licença, a mim também me saltaria a tampa! O Aristóteles, por detrás daquele ar duro e seco, exige ser bem tratado e acarinhado. Não é chegar ali e pegar nele de qualquer maneira, assim à bruta, sem avisar nem nada. É preciso ir com calma, dar-lhe tempo; quando menos se espera, ele entra por nós bem adentro. A Bárbara, se calhar, não teve o devido respeito pelo Aristóteles do marido, e quando isso acontece o casal sofre. Em qualquer relacionamento, é bom haver respeitinho pelo Aristóteles e tratá-lo como ele tão bem merece. O meu Aristóteles é muito respeitado, e isso revela a solidez de um casamento.

2 - A Bárbara, numa conversa à refeição com o esposo, misturou pragmatismo com utilitarismo. E o Carrilho não foi de modas e mandou-lhe com o prato às trombas.
Novamente, eu percebo isto e não recrimino a atitude do homem. É inadmissível confundir uma posição que defende que a avaliação de hipóteses teóricas deve passar por perceber as suas consequências práticas com uma posição que defende que a diferença entre uma boa e uma má acção está nas consequências que delas derivam. Pá, se por exemplo a minha gaja fizesse uma mistura entre estas duas ideias ao pequeno-almoço, eu confesso que também era gajo para lhe rebentar a boca. Portanto, se foi isto que sucedeu, não só não condeno o Carrilho como estou inteiramente solidário com ele.

3 - Enquanto estavam na cama, a Bárbara cometeu uma inconfidência, do género:
- Ó Mané, tu és um filósofo brilhante!
- Pois sou, Bábá.
- Mas não és o meu filósofo predilecto.
- Ai não?
- Não. Eu gosto mais do Sócrates.
- Ah. Pois, todos nós somos herdeiros de Atenas...
- Não é desse. É do José!
Depois de uma destas, qualquer homem digno desse nome teria de partir para a violência. É uma questão de imperativo moral: se há ocasiões em que a violência é justificável, esta é claramente uma delas, e o seu uso visa apenas reparar uma ofensa e uma injustiça. Não é que eu ache o Carrilho um filósofo particularmente brilhante (não é), mas estar abaixo de José Sócrates é abusar do livre-emprego da axiologia. Se foi isto o que ocorreu, dúzias de pontapés naquele peito siliconado ainda era pouco...

Na minha óptica, aconteceu uma destas três merdas. Ou até duas. Ou mesmo as três. Espero solenemente que os jornais e as televisões continuem a acompanhar o caso, e que as investigações em decurso possam confirmar qualquer uma das minhas hipóteses que, filosoficamente, estão estruturadas de forma brilhante. Aprende, Manuel Maria.

terça-feira, outubro 22, 2013

Polémicas acerca de livros

Tenho perfil no Goodreads (não sabem o que é?! Ó pá, também não vou explicar) e cerca de 20 amigos nessa rede social. Uma das coisas engraçadas que se pode fazer aí é ver o que os meus amigos acharam dos livros que eu li e classifiquei, como se fosse uma Moody's da literatura, com 5 estrelas.

Mas esperem lá: eu disse que era engraçado?!? Na verdade, o que eu queria dizer é que é desesperante!!!! Os pacóvios dos meus amigos (e tomo "pacóvio" no seu sentido mais estrito e "amigo" no seu sentido mais lato...) têm opiniões completamente opostas à minha, ou seja, eles estão completamente enganados.

Alguns exemplos:

Um amigo deu 3 (TRÊS!!!) estrelas à República do Platão. Um livro que é só das coisinhas mais legíveis que a Filosofia já produziu. Um livro que, embora contendo muitos erros e muitas posições duvidosas, continua a ser estimulante para o pensamento. Um livro que nunca merece menos de 5 estrelas. Quando me insurgi face ao rating dado por esse meu amigo, ele lá reconheceu o erro e subiu a avaliação para 4 estrelas. Não basta, meu filho-da-puta!!!!! A República merece estar lá mais em cima. Atribuir-lhe menos do que a nota máxima é tipo dizer que o Messi é um jogadorzeco, ou que a Mila Kunis é girinha. Não chega, percebem?!?!

Mas há pior.

Uma amiga minha, de quem eu já conhecia o talento para as opiniões parvas quando me disse que a banda favorita dela era melhor do que a minha banda favorita (facto suficiente para interná-la num manicómio), cometeu a ofensa de atribuir 1 (UMA!!!) estrela apenas àquele que considero o melhor romance português do século XX e quiçá de sempre: Aparição, de Vergílio Ferreira. Sim, eu sei que os amigos são amigos mesmo que haja discordâncias pelo meio, mas isto é demais! Aposto que nem o Pedro Passos Coelho seria capaz de manifestar uma opinião tão, como hei-de dizer..., estúpida. Acredito que até o Jorge Jesus já leu o livro e gostou. Arrasar desta maneira um romance da craveira de um Aparição é o equivalente, em termos de crítica literária, ao Holocausto. E não estou a exagerar. Pior: quando fiz valer o meu bom senso e lhe apontei, serenamente, que estava errada, ela limitou-se a responder que odiou mesmo o livro. Não conheço sinal mais evidente de barbárie do que este...

E pensam que isto fica por aqui?

Uma familiar minha chegou à indecência de chapar 1 estrela no Pela estrada fora do Kerouac, outro dos livros da minha vida. Outra amiga deu 3 estrelas ao Siddhartha do Hesse. A mesma amiga dá também 3 estrelas ao A insustentável leveza do ser, do Kundera. A tal amiga que deu 1 ao Aparição dá 3 estrelas ao Pêndulo de Foucault! Tudo livros inquestionavelmente 5 estrelas! Isto é tudo uma filha-da-putice e se eu mandasse, colocaria no Orçamento do Estado para 2014 medidas que punissem especificamente esta gente com mais um reforço de austeridade!

Eu sou uma pessoa com elevado sentido de tolerância e admito a diversidade de opiniões. Mas merdas como as que acabei de expor não se admitem, por mais compreensivo que um homem seja! Dá vontade de nunca mais ler um livro na vida! Mas depois penso: não, esta gente é que nunca deveria ter aprendido a ler.

Maldita escola inclusiva, maldita a hora em que professores ensinaram o alfabeto a tais pessoas. E maldito eu que os adicionei no Goodreads...

segunda-feira, outubro 21, 2013

Da próxima vez que marcarem um encontro "antigos alunos", fico em casa a estudar

Ontem foi dia de reencontro com antigos colegas do secundário. Gente que não via há mais de 5, 10 ou mesmo 20 anos apareceu, com um rancho de filhos atrás. O melhor deste tipo de encontros é uma pessoa aperceber-se de que o tempo é como se não tivesse passado, pois logo após as devidas apresentações ("olá, este é o meu marido e aqueles os meus 12 filhos", "oi, esta é a minha esposa e aqueles a roer as pernas dos teus 12 filhos são os meus 15 cães"), a conversa decorreu como se não nos houvéssemos separado nunca. Por outras palavras, o que de certa forma é reconfortante, continuamos os mesmos parvos de sempre. Excepto eu, que me mantenho o intelectual distinto que era na altura, e a comprová-lo o post de amanhã trará não mais de três vezes a expressão filho-da-puta, vejam lá a distinção intelectual que vai para aqui!

O mau destes encontros é que há sempre um estúpido ou uma estúpida que levam isto do "tempo não passar por nós" demasiado à letra e começam a apontar coisas óbvias que denotam a passagem do tempo. Do género "ihhhh, estás tão careca. E os poucos cabelos que tens estão a ficar todos brancos".

Pá, obrigadinhos, hã?!? Como se eu não soubesse disso! Uau, estou careca e com cabelos brancos?! Se não mo tivessem dito ontem, nunca adivinharia... Se é para ir a um sítio para ter gente espantada e desalentada por eu estar, digamos, a envelhecer, vou almoçar com a minha mãe em vez de me encontrar com antigos colegas. Eu também não disse à Coisinha que ela parecia uma caveira com rugas, nem ao Coisinho que ele fazia lembrar um chefe gay da Yakuza. Porque isto são cenas que - tenho a certeza - eles devem ouvir todos os dias!

Se é para estas coisas que servem os encontros de antigos alunos, quando marcarem o próximo fico em casa a ver a TVI.

terça-feira, outubro 15, 2013

Um homem casado é um homem lixado

Vejam lá as coisas que um gajo é obrigado a ouvir da sua gaja:

"Tu a dançares pareces aqueles cantores dos anos 80"

A gravidade destas declarações encontra-se reforçada se eu disser que os cantores dos anos 80 que a gaja tinha em mente eram: Jimmy Somerville. Andy Bell (dos Erasure). George Michael. Boy George. Marc Almond.

Para quem não sabe (e é preciso andar muito arredado das coisas deste mundo para não saber), são tudo artistas de duvidosa orientação sexual.

Portanto, a gaja no fundo quis dizer que eu danço como uma bichona! Já houve divórcios por menos!!!!

(Em minha defesa, devo dizer que não sei mesmo dançar. E isto é uma coisa muito à homem!)

segunda-feira, outubro 14, 2013

Sinto-me sexy!

Estou constipado e rouco. Em circunstâncias normais, isto seria um problema. A verdade é que não o é. Por causa de estar constipado e rouco, a minha voz, já habitualmente máscula, adquiriu um acréscimo de virilidade que não tem comparação. Há pouco, disse BOM DIA (assim mesmo, em negrito e caixa alta...) a um colega, e duas raparigas que estavam a tomar café ao balcão tiveram um orgasmo. Estou a receber telefonemas de cinco em cinco minutos, e isto só porque quem está do outro lado quer ouvir-me falar. Nem há meia hora atrás, uma senhora pediu-me que lhe recitasse Os Lusíadas e eu mandei-a à merda; ela gostou tanto da forma como o disse que pediu-me para repetir.

Mas o assédio não tem ficado por aqui. Até ao momento em que escrevo estas linhas, já recebi 489 propostas de casamento, 325 das quais feitas por mulheres. E já tive 173 pessoas a suplicar-me que lhes fizesse um filho, incluindo o segurança do edifício, a quem cometi o erro de dizer 'TÁS BOM, PÁ?!, as duas velhas do primeiro andar, que trabalham nem sei bem em quê, e as 4 checas com quem partilhei o elevador.

Se eu não arranjar depressa umas pastilhas para combater a rouquidão, bem me parece que vou passar o dia nisto. Ainda acabo o dia a substituir o Portas e passo a ser eu a comunicar as futuras medidas de austeridade aos portugueses. E eles vão ouvir-me e vão gostar.

(mal por mal, se é para andarem a ser fornicados, ao menos que tenham algum gozo nisso...)

ATÉ AMANHÃ (imaginar esta despedida feita com uma voz grave, cavernosa mesmo, e absolutamente sexy. Já imaginaram? Pois, sou eu...)

terça-feira, outubro 08, 2013

A bipolaridade de um fiel sportinguista

O meu clube do coração tem como característica, ao longo de todos estes anos em que me conheço como adepto, ser esbanjador na distribuição de tristezas e poupado na dádiva de alegrias. Mas continuo irredutível e serei do Sporting ontem, hoje e sempre.

De qualquer forma, temporadas e temporadas de insucessos, que culminaram na de 2012/2013, a pior época de sempre do Sporting no que ao futebol toca, fizeram de mim um céptico e passei a duvidar, como se fosse um Michel de Montaigne dos adeptos leoninos, do futuro do clube.

Só que o Sporting começou a época 2013/2014 (a época seguinte à pior de sempre, para os menos atentos...) a todo o gás. A jogar bem. A marcar aquilo que só pode ser expresso como "buéda golos, c@#$%&%!!!" E aqui mesmo o mais céptico dos sportinguistas tem de acabar por ceder. E em lugar de céptico, torna-se bipolar. E esquizofrénico. E paranóide. E restantes perturbações mentais pertencentes ao DSM-IV. Mas, essencialmente, bipolar.

Nada revela essa bipolaridade quanto as conversas mentais que mantenho comigo mesmo durante os jogos. Que são mais ou menos, e cito-me a mim próprio de memória, portanto peço-me desde já desculpa se não estiver a ser exacto comigo mesmo, assim:

Jogo: Sporting X Setúbal. Local: Estádio de Alvalade. Resultado: 4 a 0 a favor dos bons.

Peter of Pan descrente: Iá, marcámos um golo, mas não vamos lá. Ainda perdemos o jogo!

Peter of Pan crente: F@da-se, gooooooolo!!!!!!! Já lá está!!!! O primeiro lugar é nosso! Lindo, Montero, lindo, faz-me um rancho de filhos!!!!

Peter of Pan descrente: Ok, dois a zero. Mas o Setúbal ainda tem tempo para recuperar. Já vi coisas piores em jogos do Sporting...

Peter of Pan crente: Toooooma lá!!!! 2 a 0!!!!!! Embrulhem, chocos fritos!!!!! Spoooooorting!!! Lindos, lindos, Carrillo, sodomiza-me como sodomizaste a defesa sadina!

Peter of Pan descrente: Sim, mais um golo. Está bem. Mas gastam os golos todos agora, quando forem jogar com o Porto já não têm nenhum para dar.

Peter of Pan crente: Ihhhhhhh, 3 a 0! 3 a 0!!!!!!!! Quando formos ao dragão, espetamos mais uns três que até viramos os tripeiros do avesso. Vamos ser campeões. E ganhar tudo! Chupem, tripeiros e lampiões, força Sporting allez!

Peter of Pan descrente: Pronto, 4 a 0. Mas contra o Setúbal é fácil. Quero é ver agora quando os jogos forem a doer. Começam a perder, vêm por aí abaixo na classificação. Não vão fazer nada outra vez, estes tipos... ai, como é triste ser do Sporting.

Peter of Pan crente: Pimba, 4! Quatroooooooo! A zeroooooo!!!!! Espectáculo!!!! Brutal!!! Vamos limpar esta porcaria toda, com ou sem árbitros a nosso desfavor. É tudo nosso! Spooooorting!!!! Ah, como é magnífico ser lagarto!!!!

E é assim que um sportinguista à séria vive. Agora, das duas uma: ou o élan mantém-se e vou andar assim até meados de Maio do próximo ano, ou começamos mesmo a levar na ripa e volto apenas a ser um céptico desencantado... Vamos ver!

segunda-feira, outubro 07, 2013

Peter of Pan entrevista Duarte Lima

Mostrando deter notável pluralidade, hoje o blogue entrevista um alegado criminoso de colarinho branco e homicida. E digo "alegado" porque não quero um exército de advogados atrás de mim. Não é que eu tenha medo deles, mas mais do que os betos e os lampiões, os advogados irritam-me. E não é que eu não goste deles, mas mais do que os tripeiros e os fascistas, o que eu queria era que os advogados fossem todos largados dentro de um vulcão em erupção. Mas estou a divagar. Vamos lá para a entrevista com o ex-deputado ex-presidente do grupo parlamentar ex-presidente da distrital de Lisboa do PSD. O que constitui um currículo de merda, ao qual se soma ter sido advogado (lá está!) e pensar que sabia tocar órgão de tubos. No meio disto, o suposto envolvimento num homicídio e no escândalo do BPN são coisas de somenos importância. Convosco, Duarte Lima.

Vou começar esta entrevista por uma pergunta simples. Matou ou não matou a Rosalina Ribeiro?
Quem?

A velha!
Ah, essa. Claro que não matei. Espetei-lhe um tiro, isso admito, mas se ela depois disso morreu, não tenho nada a ver com o caso. Os meus advogados conseguem demonstrar que não há uma relação causa-efeito entre levar um tiro e morrer. Afinal, há muitas pessoas que levam tiros e não morrem. Portanto, estou inocente.

E o dinheiro da herança de Lúcio Tomé Feteira, entrou ou não entrou na sua conta?
De quem?

Do velho!
Ah, esse. Olhe, nem sei. Entra tanto dinheiro, proveniente de fontes tão diversas, na minha conta bancária... Se eu estivesse a escrutinar tudo, do género, "Oh lá, estes 20 milhões de euros não estavam aqui ontem. De onde vieram e quem cá os pôs?!", não fazia mais nada na vida. E eu sou um homem muito ocupado em falcatr... aham, em negócios para perder tempo com tais mesquinhices.

Vamos precisamente por aí. Como explica que alguém sem particular inteligência, como você, tenha feito tanto dinheiro?
Posso não ser muito inteligente, e ser do PSD demonstra-o, mas sou bastante esperto e tenho tido sorte nas falcatr... aham, nos negócios em que me meto.

Suponho, portanto, que não está preocupado com o desfecho do caso BPN...
Náááá! Isso não vai dar em nada. O meu séquito de advogados irá certificar-se de que passo incólume. Sim, é chato o dinheiro que gasto só em honorários, mas no final do processo o Estado ainda vai devolver-me essa maquia. E já pensou no que aconteceria se todos os envolvidos no BPN fossem presos?! Portugal precisaria de triplicar o número de prisões só para acolher essa gente. Portanto, ilibar os envolvidos não só beneficia as finanças do país, numa altura em que se encontra em crise, como também evita o descalabro institucional da própria nação!

Como assim? Pode explicar melhor esse ponto?
Claro que explico. Com tanto político, gestor de topo, banqueiro e personalidade de reconhecido mérito envolvido no caso BPN, se fôssemos todos parar à cadeia, não haveria ninguém para mandar neste país. E aí era a anarquia: o Estado ver-se-ia sem dinheiro, as pessoas sem emprego, as pequenas e médias empresas a fechar... É esse o Portugal que queremos?!

Realmente... nem quero imaginar tal cenário!

Aí tem! Ainda bem que vivemos numa realidade completamente diferente.

Uma última pergunta, meu caro: como vê o actual PSD?
Olhe, o secretário-geral foi um tipo que perdeu para mim as eleições à distrital de Lisboa. Acho que isso diz tudo.

É verdade. Tem toda a razão. Obrigado pelo tempo dispensado.
De nada. Depois lá fora dou-lhe o meu NIB. Quando tiver 50 milhões de euros a mais, mande-me um pedacinho para a minha conta, está bem?!


FIM



quarta-feira, outubro 02, 2013

Os terríveis anos 80

Se época houve que significou uma mancha vergonhosa na história da Humanidade, essa época foram os anos 80. Os anos 80 são os anos do marketing cultural norte-americano. Os anos 80 são os anos da maquilhagem exagerada e das permanentes capilares. Os anos 80 são os anos das roupas berrantes, quer nos homens quer nas mulheres. Os anos 80 são os anos dos filmes e séries canastrões, com os actores mais canastrões do que uma mistura de Toy com Zezé Camarinha: Lorenzo Lamas. David Hasselhof. E um longo etc. Os anos 80 são, por fim, os anos da música pop mais pirosa e dos videoclips mais ridículos de que nos lembramos mas gostaríamos de esquecer. Vale a pena até ter Alzheimer se a doença apagar esse período que está calcinado na nossa memória.

Vá lá saber-se porquê, para reavivar tão indecorosa época, a gaja resolveu assistir a uma selecção de videoclipes intitulada "O melhor dos anos 80" (e deixem-me que vos diga: se aquilo era o melhor, não quero nem imaginar o que seria uma escolha "O pior dos anos 80". Deveria ser tipo Chernobyl - outra merda que ocorreu nos anos 80 -, mas mais cancerígena!). Durante não sei quanto tempo, porque acabei por perder a noção do tempo e do espaço passados os primeiros 10 segundos, foram desfilando "artistas" da craveira de um Limahl, de uns Modern Talking, de uma Yazz, de uns Foreigner, de uns Europe, de uns Bros, enfim, é melhor ficar-me por aqui, pois creio que desse lado vocês já devem estar à beira de um AVC. E não fazem nada mal.

Nada simboliza tão bem os clipes e a sonoridade "anos 80" como esta merda: o keytar, ou sintetizador-guitarra. Enfim, como uma imagem vale mais do que coiso e tal, fica aqui a tromba de um
Horrendo, não é?! Pior do que a guerra das Malvinas ou o conflito no Afeganistão, que tanto sofrimento provocaram nos anos 80. O keytar só não foi abolido em convenções das Nações Unidas porque os líderes mundiais, como sempre, estão arredados e distantes daquilo que pesa sobre os povos. O gás saryn é mau? Claro que é. O napalm é hediondo? É pois. Mas o keytar podia ser usado na criação de bandas-sonoras para a eternidade passada no Inferno. O keytar supera facilmente as unhas a raspar em superfícies duras, os alarmes de automóveis e o riso da Cristina Ferreira como som mais irritante a que os seres humanos podem ser expostos.

Foi isto que a gaja ontem libertou. Tal como um Kraken saído das profundezas marinhas, o som do keytar saiu dos anos 80 para voltar a atormentar os justos e os dignos. A gaja não pareceu importar-se muito (deviam vê-la a cantar o "You're my heart, you're my soul", dos inenarráveis Modern Talking...), já eu vou precisar de muita psicoterapia e antidepressivos para conseguir lidar com isto um mínimo que seja. Até os meus colegas de trabalho já notaram qualquer coisa de errado. "O que se passa contigo hoje, Peter of Pan?", perguntaram eles. "Duas sílabas: key tar", respondi eu. 
 
E eles perceberam logo tudo.

Malditos anos 80...