segunda-feira, novembro 26, 2012

A indústria pornográfica portuguesa está de boa saúde e recomenda-se. Um ensaio filosófico-político-pornográfico

Crise é algo que ainda não chegou ao mercado porno lusitano. A moral do país pode estar em baixo, mas a pornografia portuguesa, essa está bem de pé. Como os mangalhos. A demonstrá-lo, uma recente produção nacional: 


Três coisas se me ofecerem dizer:

Primeira, a criatividade lusa está em alta. Parabéns aos criativos que transformaram uma insipiência tosca como os Morangos com Açúcar numa produção pornográfica. Tenho a certeza de que todos os espectadores desta película aplaudiriam se não estivessem com as mãos ocupadas...

Segunda, a mensagem que este filme emite, de resto logo ali escarrapachada (eu ia dizer "esporrada", mas não digo porque seria de mau gosto) na capa: "ela não sabe escrever, mas sabe chupar". O ethos desta frase ressoa cada vez mais nos tempos difíceis em que vivemos. Para quê educar cidadãos e indivíduos? Para quê ensiná-los a ler, a escrever, a fazer contas, quando já se sabe que os orçamentos para a educação não servem para torná-la melhor? Para quê mandar a juventude à escola quando o sistema de ensino português vai de mal a pior? Para quê perder tempo e esforço? O melhor é fazer pela vida. Desenrascar, essa tão ilustre actividade portuguesa. E para muitos, especialmente muitas, isso equivale a chupar. E a engolir também, mas sobretudo chupar. Temos de chupar com governo, impostos, subida dos preços, troika, etc. E é bom haver um filme que nos ensina isso, um filme que nos diga como é fundamental sabermos que estamos nesta vida para chupar. O importante é chupar. Por maior que sejam os obstáculos, por mais porcaria que deitem, há que chupar. Como dizia Maradona, adaptando um texto apócrifo de Aristóteles, "que lo chupen e lo sigan chupando". É isto a vida. E é bom que os portugueses se preparem para ela, porque a conjuntura vai continuar a apontar-nos o seu carnudo falo. Sim, é hermafrodita, a puta da conjuntura...

Terceira, ao mesmo tempo que apela ao contacto com a realidade, nunca a embelezando, como se quisesse dizer, "a realidade é um piroco grande e grosso, e há que ter a boca bem musculada para aguentar com ele", nem assim o filme apela à resignação. Não! Bem pelo contrário! Mangalhos com Açúcar é, admitamo-lo, um convite àquilo que os governos mais temem: o levantamento popular! A intenção é pôr os portugueses de pé, dar-lhes vigor. Porque um país com vigor é melhor do que um país murcho. Afinal, para murcho, basta o governo.

Viva a indústria pornográfica portuguesa!

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