terça-feira, abril 15, 2014

O regresso da bicicleta

Já há muito tempo que não trazia a minha bicicleta para o trabalho. Ultimamente, tenho-a utilizado só mesmo por lazer, limitando-me a uma voltinha ou outra aos fins-de-semana. Andar nela todos os dias é que não.

E isto trouxe consequências. Primeira, o meu rabo está muito menos calejado e musculado do que há uns meses atrás. Segunda, a minha bicicleta não gostou de ser posta de lado. Em conversa (*) com ela, fui alvo de severas críticas e reclamações. O que tive de ouvir, entre outras coisas, foi

"Já não estás interessado em mim"

"Dantes pedalavas-me todos os dias, agora mal me tocas"

"Tu tens outra bicicleta, é o que eu acho. E aposto que é mais nova que eu"

"Sempre me disseste que gostavas delas com pneus mais cheiinhos. É isso, não é?!"

"Tens é vergonha de me mostrar aos teus colegas"

Rebati tais acusações, mas ela recusa-se a acreditar em mim. É fêmea, e já se sabe que as fêmeas nunca aceitarão os argumentos racionais de um macho. Portanto, não serviu de nada alegar que saio menos vezes com ela porque não há espaço no comboio, porque só agora o tempo começa a estar menos chuvoso, porque isto e porque aquilo. A minha bicicleta só acredita no que quer acreditar.

O prolongado hiato de deslocações ciclistas casa-trabalho/trabalho-casa terminou hoje, porém. Trouxe-a. E tirando a sensação de que os travões precisam de vistoria (será um problema técnico dos ditos, ou tratou-se apenas de a minha bicicleta querer punir-me um pouco pela falta de andamento?), e que o meu rabo precisa novamente de ganhar calo (don't ask...) correu tudo muito bem ou, se me é permitido o jogo de palavras, correu tudo sobre pedais. E, há pouco, quando vim do almoço e vi a minha bicicleta acorrentada ao suporte toda contente na companhia de outras, percebi que tinha tomado a decisão certa. Como fêmea que é, a bicicleta só precisava de passear um bocadinho. Quer apenas alguém que tenha pedalada para ela, nada mais. E isso é bonito.

Já lhe sussurrei junto ao guiador que amanhã voltaremos a pedalar. Ficou logo com o selim mais fofo, a maluca. E deixei de ouvir recriminações. Está a ser um bom dia, portanto.
 


_________________
(*) Sim, eu mantenho diálogos com objectos inanimados. Algum problema? Para além da bicicleta, converso muitas vezes com bolas de futebol (diz-se que o Cristiano Ronaldo faz exactamente o mesmo: talvez este seja um comportamento que só se vê nos grandes craques da bola!), com garrafas de cerveja e com o Paulo Portas.

1 comentário:

esquilinho disse...

Acho bem que fales com a bina, o Adolfo Luxúria Canibal também fala com o aquecedor :P