domingo, agosto 27, 2006

Conto idiota para leitores semi-embriagados!

Terra. 2006, Ano do Senhor. Um esquilo faz InInInIn. Um gato faz miau. Um primeiro-ministro de Portugal não faz nada. Atrás de mim, um certo editor pede-me para avançar com o raio da história. Resolvo responder-lhe diplomaticamente e com uma delicadeza capaz de envergonhar o próprio Descartes: "Mete os cinco dedos da mão direita no esfíncter." A princípio, ele mostra-se confuso, até que decido acrescentar "No teu!" Não temo que esta atitude de adolescente insubordinado prejudique o meu futuro enquanto futuro escritor falhado. Um homem por vezes tem de se impor, e quando o faz é melhor não usar de falinhas mansas. Afinal, se eu quisesse armar-me em choninhas, teria ido para militante do CDS/PP.

[Interrupção no conto para uma mensagem de alerta: NUNCA deixem um amigo, um familiar, um conhecido ou até mesmo um treinador do Benfica inscrever-se como militante do CDS/PP. Parece que o CDS/PP é um partido de direita... e de betos... e de conservadores... e do Paulo Portas. Tomem cuidado!]

O meu editor deixa escapar uma expressão de surpresa. Certamente não esperava aquela boca do esfíncter ("boca do esfíncter"?!?!?! Que livros de anatomia ando eu a ler?), mas agora é tarde para voltar atrás. Ademais, eu NÃO quero voltar atrás! Antes que ele consiga esboçar uma qualquer resposta, insisto: "E se não estás contente, pega aqui no meu mastruço, rasga a porra do contrato e dá meia-volta, seu Alberto João Jardim da literatura."

Terra. 2006, Ano do Senhor. Passaram sete minutos desde a primeira frase. Um esquilo volta a fazer InInIn, mas agora numa entoação diferente. Um gato volta a fazer miau, mas com um sotaque alentejano. Um primeiro-ministro de Portugal continua sem fazer nada, só que agora veste um roupão cor-de-rosa e exibe uma tatuagem com os dizeres "Marocas Forever". Atrás de mim, um editor acena-me com a rescisão de contrato, o que significa o despedimento. Resolvo deixar a porcaria da vida literária e para me dedicar somente à culinária tailandesa. Esperem por mim num restaurante das redondezas.

FIM (ou, como se diz na minha terra, "puta que os pariu")

Eterno Entorno, num momento de devaneio ébrio

1 comentário:

Catarina disse...

BRILHANTE! Absolutamente brilhante!
Está genial, os meus mais sinceros parabéns!