A poucos dias de começar o Brasil 2014, especialistas e comentadores (não devemos confundir uns com outros, nem outros com uns) desdobram-se em análises tácticas, em queixas pela ausência do Quaresma, do Nasri ou de outro qualquer paneleireco e, sobretudo, em rigores médico-farmacêuticos acerca do joelho do Ronaldo, ou lá o que é, que eu confesso ainda não ter percebido em que raio de sítio o rapaz está aleijado. Contudo, ainda ninguém disse uma palavra sobre a estética deste mundial, e minha gente, se há coisa que o futebol é, na sua essência, é estética. Isso e comparar benfiquistas e tripeiros a nalgas... o que, se formos bem a ver, também é uma coisa mais ou menos estética (obrigado, Bruno de Carvalho).
E a estética do futebol divide-se em dois componentes. Primeiro, o do jogo propriamente dito: se é rápido, apoiado, lento, directo, etc. Não é isto agora que me interessa. Interessa-me, isso sim, o segundo componente: o dos jogadores. Não sendo o Brasil 2014, no seu conjunto, tão facilmente identificável, em termos estéticos, quanto o Alemanha 1974 e o Argentina 1978, em que os cabelos típicos dos anos 70 eram obrigatórios (vejam as selecções da Holanda e da Argentina, por exemplo), e faltando também do ponto de vista individual figuras como um Alexi Lalas (ex-defesa central dos EUA famoso pelo seu visual hippie/redneck/chunga 2.0) ou um Taribo West (ex-defesa central da Nigéria), devem ainda assim ser destacados os futebolistas que mandam mais estilo, esteticamente falado. E é assim que me decidi a fazer uma escolha dos jogadores aos quais, esteticamente, devemos estar mais atentos neste próximo Mundial.
1. David Luiz (Brasil)
O visual "David Luiz" é já sobejamente conhecido, ou não tivesse o defesa brasileiro passado por uma das nalgas que solta trampa ou vento malcheiroso. A comparação com a personagem dos Simpsons Sideshow Bob já foi feita por diversas vezes, portanto, excluo-me de fazê-lo de novo, mas olhar para o David Luiz como uma espécie de poodle com talento para a bola não será algo totalmente desajustado.2. Dante (Brasil)
Na selecção anfitriã podemos ainda encontrar a cabeleira afro-pós-moderna do central Dante. Ao contrário do seu colega David Luiz, cujos caracóis são móveis, a carapinha de Dante é uma espécie de elmo medieval que nem com uma alavanca se poderia mover, deitando por terra toda a física arquimediana com a mesma força com que se faz um carrinho por trás a um adversário. O cabelo dantiano é, pois, mais uma arma no jogo físico e aéreo, e ninguém se espante quando, nos quartos de final, o Brasil mandar para casa uns toscos quaisquer à conta de um golo marcado pelo cabelo do Dante na sequência de um pontapé de canto.
3. Fellaini (Bélgica)
David Luiz e Dante mandam grandes cabeleiras, sem dúvida, mas a mãe (e o pai) de todos os penteados aos caracóis é a cabeleira de Fellaini, o médio belga que fez sucesso no Everton mas, esta época, foi infeliz na sua mudança para o Manchester United. E percebe-se porquê: o meio campo precisa de jogadores com velocidade e visão, e o cabelo de Fellaini não o deixa ter nem uma coisa nem outra. Com o seu colega Axel Witsel (ver abaixo), forma a linha de centrocampistas com mais lã deste mundial.
4. Witsel (Bélgica)
É disto que estou a falar! Com Witsel e Fellaini, penetrar no meio campo belga não há-de ser tarefa fácil para os adversários. Não admira que a Bélgica seja considerada uma das equipas mais fortes deste Brasil 2014. Se os adversários não levarem tesouras para o terreno de jogo, prevejo complicações. A única réstia de esperança de toda e qualquer equipa que defronte os belgas estará, parece-me, em rezar por uma vaga de calor tão forte que faça Witsel e Fellaini suarem tanto que aos 30 minutos de jogo necessitem de ser substituídos à conta da desidratação.
5. Pogba (França)
Pogba tem um dos penteados mais revolucionários que podem ser observados neste mundial. Mistura um moicano afro (como se pretendesse unir o tribalismo africano e norte-americano, notem bem... multiculturalismo é isto), nuances loiras e riscos acima das têmporas.
6. Raul Meireles (Portugal)
Se o estilo moicano de Pogba ainda é um pouco tímido (falta rapar um pouco mais dos lados), já o de Raul Meireles é todo ele afirmativo. E junta a isto, que já de si não é pouco, uma farfalhuda barba que tem sido fartamente comparada à de António Variações. Só falta pintar cabelo e barba de loiro para o centrocampista português alcançar o nível de um ex-colega de selecção que mandava alto estilo, Abel Xavier de seu nome. Raul Meireles irá centrar atenções em qualquer encontro do qual participe. Há quem diga que este Mundial pode ser o Mundial de Ronaldo, de Messi, de Neymar. Pode ser. Mas em termos estéticos, o Brasil 2014 é o Mundial de Raul Meireles. Ponto final.
Agora é esperar que a bola role e as cabeças também.
Sem comentários:
Enviar um comentário