A novela do momento é a troca de galhardetes e, a crer nas notícias, em algo mais do que isso, entre o ex-ministro Manuel Maria Carrilho e a apresentadora Bárbara Guimarães. Diz-se por aí que o filósofo agrediu a barbie, o que faz desta uma relação althusseriana, mas em fraquinha (o Althusser foi um filósofo que um dia se passou da marmita e matou a esposa. Enfim, é o que dá querer reinventar o Marx...).
O que a mim importa verdadeiramente neste enredo é saber o que terá motivado Carrilho a agredir a mulher. Sendo que um filósofo gosta sempre de agir em conformidade com o seu pensamento (uma questão de unir teoria e práxis, agora não vou estar para aqui a explicar!), gostava de saber quais foram as causas que levaram um pragmatista a assentar a palma da mão, ou a sola do pé, no rosto da famosa figura televisiva.
Como sou também um gajo dado às filosofias, pus-me a pensar nisto. E cheguei a três possíveis conclusões.
1 - O Carrilho agrediu a Bárbara porque esta mexeu-lhe no Aristóteles sem pedir autorização.
Eu percebo: se tivesse alguém a mexer-me no Aristóteles sem licença, a mim também me saltaria a tampa! O Aristóteles, por detrás daquele ar duro e seco, exige ser bem tratado e acarinhado. Não é chegar ali e pegar nele de qualquer maneira, assim à bruta, sem avisar nem nada. É preciso ir com calma, dar-lhe tempo; quando menos se espera, ele entra por nós bem adentro. A Bárbara, se calhar, não teve o devido respeito pelo Aristóteles do marido, e quando isso acontece o casal sofre. Em qualquer relacionamento, é bom haver respeitinho pelo Aristóteles e tratá-lo como ele tão bem merece. O meu Aristóteles é muito respeitado, e isso revela a solidez de um casamento.
2 - A Bárbara, numa conversa à refeição com o esposo, misturou pragmatismo com utilitarismo. E o Carrilho não foi de modas e mandou-lhe com o prato às trombas.
Novamente, eu percebo isto e não recrimino a atitude do homem. É inadmissível confundir uma posição que defende que a avaliação de hipóteses teóricas deve passar por perceber as suas consequências práticas com uma posição que defende que a diferença entre uma boa e uma má acção está nas consequências que delas derivam. Pá, se por exemplo a minha gaja fizesse uma mistura entre estas duas ideias ao pequeno-almoço, eu confesso que também era gajo para lhe rebentar a boca. Portanto, se foi isto que sucedeu, não só não condeno o Carrilho como estou inteiramente solidário com ele.
3 - Enquanto estavam na cama, a Bárbara cometeu uma inconfidência, do género:
- Ó Mané, tu és um filósofo brilhante!
- Pois sou, Bábá.
- Mas não és o meu filósofo predilecto.
- Ai não?
- Não. Eu gosto mais do Sócrates.
- Ah. Pois, todos nós somos herdeiros de Atenas...
- Não é desse. É do José!
Depois de uma destas, qualquer homem digno desse nome teria de partir para a violência. É uma questão de imperativo moral: se há ocasiões em que a violência é justificável, esta é claramente uma delas, e o seu uso visa apenas reparar uma ofensa e uma injustiça. Não é que eu ache o Carrilho um filósofo particularmente brilhante (não é), mas estar abaixo de José Sócrates é abusar do livre-emprego da axiologia. Se foi isto o que ocorreu, dúzias de pontapés naquele peito siliconado ainda era pouco...
Na minha óptica, aconteceu uma destas três merdas. Ou até duas. Ou mesmo as três. Espero solenemente que os jornais e as televisões continuem a acompanhar o caso, e que as investigações em decurso possam confirmar qualquer uma das minhas hipóteses que, filosoficamente, estão estruturadas de forma brilhante. Aprende, Manuel Maria.
O que a mim importa verdadeiramente neste enredo é saber o que terá motivado Carrilho a agredir a mulher. Sendo que um filósofo gosta sempre de agir em conformidade com o seu pensamento (uma questão de unir teoria e práxis, agora não vou estar para aqui a explicar!), gostava de saber quais foram as causas que levaram um pragmatista a assentar a palma da mão, ou a sola do pé, no rosto da famosa figura televisiva.
Como sou também um gajo dado às filosofias, pus-me a pensar nisto. E cheguei a três possíveis conclusões.
1 - O Carrilho agrediu a Bárbara porque esta mexeu-lhe no Aristóteles sem pedir autorização.
Eu percebo: se tivesse alguém a mexer-me no Aristóteles sem licença, a mim também me saltaria a tampa! O Aristóteles, por detrás daquele ar duro e seco, exige ser bem tratado e acarinhado. Não é chegar ali e pegar nele de qualquer maneira, assim à bruta, sem avisar nem nada. É preciso ir com calma, dar-lhe tempo; quando menos se espera, ele entra por nós bem adentro. A Bárbara, se calhar, não teve o devido respeito pelo Aristóteles do marido, e quando isso acontece o casal sofre. Em qualquer relacionamento, é bom haver respeitinho pelo Aristóteles e tratá-lo como ele tão bem merece. O meu Aristóteles é muito respeitado, e isso revela a solidez de um casamento.
2 - A Bárbara, numa conversa à refeição com o esposo, misturou pragmatismo com utilitarismo. E o Carrilho não foi de modas e mandou-lhe com o prato às trombas.
Novamente, eu percebo isto e não recrimino a atitude do homem. É inadmissível confundir uma posição que defende que a avaliação de hipóteses teóricas deve passar por perceber as suas consequências práticas com uma posição que defende que a diferença entre uma boa e uma má acção está nas consequências que delas derivam. Pá, se por exemplo a minha gaja fizesse uma mistura entre estas duas ideias ao pequeno-almoço, eu confesso que também era gajo para lhe rebentar a boca. Portanto, se foi isto que sucedeu, não só não condeno o Carrilho como estou inteiramente solidário com ele.
3 - Enquanto estavam na cama, a Bárbara cometeu uma inconfidência, do género:
- Ó Mané, tu és um filósofo brilhante!
- Pois sou, Bábá.
- Mas não és o meu filósofo predilecto.
- Ai não?
- Não. Eu gosto mais do Sócrates.
- Ah. Pois, todos nós somos herdeiros de Atenas...
- Não é desse. É do José!
Depois de uma destas, qualquer homem digno desse nome teria de partir para a violência. É uma questão de imperativo moral: se há ocasiões em que a violência é justificável, esta é claramente uma delas, e o seu uso visa apenas reparar uma ofensa e uma injustiça. Não é que eu ache o Carrilho um filósofo particularmente brilhante (não é), mas estar abaixo de José Sócrates é abusar do livre-emprego da axiologia. Se foi isto o que ocorreu, dúzias de pontapés naquele peito siliconado ainda era pouco...
Na minha óptica, aconteceu uma destas três merdas. Ou até duas. Ou mesmo as três. Espero solenemente que os jornais e as televisões continuem a acompanhar o caso, e que as investigações em decurso possam confirmar qualquer uma das minhas hipóteses que, filosoficamente, estão estruturadas de forma brilhante. Aprende, Manuel Maria.
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