terça-feira, outubro 22, 2013

Polémicas acerca de livros

Tenho perfil no Goodreads (não sabem o que é?! Ó pá, também não vou explicar) e cerca de 20 amigos nessa rede social. Uma das coisas engraçadas que se pode fazer aí é ver o que os meus amigos acharam dos livros que eu li e classifiquei, como se fosse uma Moody's da literatura, com 5 estrelas.

Mas esperem lá: eu disse que era engraçado?!? Na verdade, o que eu queria dizer é que é desesperante!!!! Os pacóvios dos meus amigos (e tomo "pacóvio" no seu sentido mais estrito e "amigo" no seu sentido mais lato...) têm opiniões completamente opostas à minha, ou seja, eles estão completamente enganados.

Alguns exemplos:

Um amigo deu 3 (TRÊS!!!) estrelas à República do Platão. Um livro que é só das coisinhas mais legíveis que a Filosofia já produziu. Um livro que, embora contendo muitos erros e muitas posições duvidosas, continua a ser estimulante para o pensamento. Um livro que nunca merece menos de 5 estrelas. Quando me insurgi face ao rating dado por esse meu amigo, ele lá reconheceu o erro e subiu a avaliação para 4 estrelas. Não basta, meu filho-da-puta!!!!! A República merece estar lá mais em cima. Atribuir-lhe menos do que a nota máxima é tipo dizer que o Messi é um jogadorzeco, ou que a Mila Kunis é girinha. Não chega, percebem?!?!

Mas há pior.

Uma amiga minha, de quem eu já conhecia o talento para as opiniões parvas quando me disse que a banda favorita dela era melhor do que a minha banda favorita (facto suficiente para interná-la num manicómio), cometeu a ofensa de atribuir 1 (UMA!!!) estrela apenas àquele que considero o melhor romance português do século XX e quiçá de sempre: Aparição, de Vergílio Ferreira. Sim, eu sei que os amigos são amigos mesmo que haja discordâncias pelo meio, mas isto é demais! Aposto que nem o Pedro Passos Coelho seria capaz de manifestar uma opinião tão, como hei-de dizer..., estúpida. Acredito que até o Jorge Jesus já leu o livro e gostou. Arrasar desta maneira um romance da craveira de um Aparição é o equivalente, em termos de crítica literária, ao Holocausto. E não estou a exagerar. Pior: quando fiz valer o meu bom senso e lhe apontei, serenamente, que estava errada, ela limitou-se a responder que odiou mesmo o livro. Não conheço sinal mais evidente de barbárie do que este...

E pensam que isto fica por aqui?

Uma familiar minha chegou à indecência de chapar 1 estrela no Pela estrada fora do Kerouac, outro dos livros da minha vida. Outra amiga deu 3 estrelas ao Siddhartha do Hesse. A mesma amiga dá também 3 estrelas ao A insustentável leveza do ser, do Kundera. A tal amiga que deu 1 ao Aparição dá 3 estrelas ao Pêndulo de Foucault! Tudo livros inquestionavelmente 5 estrelas! Isto é tudo uma filha-da-putice e se eu mandasse, colocaria no Orçamento do Estado para 2014 medidas que punissem especificamente esta gente com mais um reforço de austeridade!

Eu sou uma pessoa com elevado sentido de tolerância e admito a diversidade de opiniões. Mas merdas como as que acabei de expor não se admitem, por mais compreensivo que um homem seja! Dá vontade de nunca mais ler um livro na vida! Mas depois penso: não, esta gente é que nunca deveria ter aprendido a ler.

Maldita escola inclusiva, maldita a hora em que professores ensinaram o alfabeto a tais pessoas. E maldito eu que os adicionei no Goodreads...

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