quarta-feira, outubro 02, 2013

Os terríveis anos 80

Se época houve que significou uma mancha vergonhosa na história da Humanidade, essa época foram os anos 80. Os anos 80 são os anos do marketing cultural norte-americano. Os anos 80 são os anos da maquilhagem exagerada e das permanentes capilares. Os anos 80 são os anos das roupas berrantes, quer nos homens quer nas mulheres. Os anos 80 são os anos dos filmes e séries canastrões, com os actores mais canastrões do que uma mistura de Toy com Zezé Camarinha: Lorenzo Lamas. David Hasselhof. E um longo etc. Os anos 80 são, por fim, os anos da música pop mais pirosa e dos videoclips mais ridículos de que nos lembramos mas gostaríamos de esquecer. Vale a pena até ter Alzheimer se a doença apagar esse período que está calcinado na nossa memória.

Vá lá saber-se porquê, para reavivar tão indecorosa época, a gaja resolveu assistir a uma selecção de videoclipes intitulada "O melhor dos anos 80" (e deixem-me que vos diga: se aquilo era o melhor, não quero nem imaginar o que seria uma escolha "O pior dos anos 80". Deveria ser tipo Chernobyl - outra merda que ocorreu nos anos 80 -, mas mais cancerígena!). Durante não sei quanto tempo, porque acabei por perder a noção do tempo e do espaço passados os primeiros 10 segundos, foram desfilando "artistas" da craveira de um Limahl, de uns Modern Talking, de uma Yazz, de uns Foreigner, de uns Europe, de uns Bros, enfim, é melhor ficar-me por aqui, pois creio que desse lado vocês já devem estar à beira de um AVC. E não fazem nada mal.

Nada simboliza tão bem os clipes e a sonoridade "anos 80" como esta merda: o keytar, ou sintetizador-guitarra. Enfim, como uma imagem vale mais do que coiso e tal, fica aqui a tromba de um
Horrendo, não é?! Pior do que a guerra das Malvinas ou o conflito no Afeganistão, que tanto sofrimento provocaram nos anos 80. O keytar só não foi abolido em convenções das Nações Unidas porque os líderes mundiais, como sempre, estão arredados e distantes daquilo que pesa sobre os povos. O gás saryn é mau? Claro que é. O napalm é hediondo? É pois. Mas o keytar podia ser usado na criação de bandas-sonoras para a eternidade passada no Inferno. O keytar supera facilmente as unhas a raspar em superfícies duras, os alarmes de automóveis e o riso da Cristina Ferreira como som mais irritante a que os seres humanos podem ser expostos.

Foi isto que a gaja ontem libertou. Tal como um Kraken saído das profundezas marinhas, o som do keytar saiu dos anos 80 para voltar a atormentar os justos e os dignos. A gaja não pareceu importar-se muito (deviam vê-la a cantar o "You're my heart, you're my soul", dos inenarráveis Modern Talking...), já eu vou precisar de muita psicoterapia e antidepressivos para conseguir lidar com isto um mínimo que seja. Até os meus colegas de trabalho já notaram qualquer coisa de errado. "O que se passa contigo hoje, Peter of Pan?", perguntaram eles. "Duas sílabas: key tar", respondi eu. 
 
E eles perceberam logo tudo.

Malditos anos 80...

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