segunda-feira, maio 25, 2015

A fauna antropológica da margem sul: subsídios para a sua compreensão

Os meus longos passeios de bicicleta pelas ruas e estradas de várias localidades da margem sul têm-me feito contactar, em primeiríssimo pedal, com a diversidade da sua fauna. Na generalidade, as pessoas são todas decadentes. Do white trash (redundância) ao black trash (redundância), passando pelo gipsy trash (redundância) e por algumas amostras de asian trash (redundância), a margem sul exibe nas pessoas a mesma decadência que revela nos edifícios. Tantas e tantas décadas a lutar pela igualdade - o PCP, sabe-se, tem na "outra margem" do Tejo uma importante reserva de apoiantes - tornaram aquele vasto território que vai de Almada ao Seixal numa massa homogénea: é tudo feio e bruto! 

Do cinquentão com ar acabado, devido ao vinho barato e aos cigarros, que se pavoneia pela rua envergando fato de treino do Benfica (mandei um destes gajos para o vernáculo de pénis aqui há umas semanas) aos adolescentes mitras com o telemóvel a rebentar ao som de hip hop manhoso (também mandei um grupo destes para o vernáculo, mas não me ouviram), não importa a crença, a etnia, a idade, o género, todos os exemplares humanos são feitos da mesma massa que os prédios, não passando de meras construções brutas às quais umas implosões não deixariam de ser bem vindas.

Mas eu gosto disto. Sinto-me bem neste meio. Porque também eu sou lixo e não tenho vergonha de sê-lo. Gosto de estar a pedalar no meio do Laranjeiro e ver duas fufas gordas a beijarem-se na boca em público, perante a indiferença de matronas africanas de meia idade e de chungosos agarrados com metade dessa meia idade. Isto não se vê no Estoril! No Estoril, em Cascais e arredores damos é com os olhos naqueles betinhos de camisa com o botão de cima desabotoado e o cabelo à... à... bem, à beto (que nojo!!!!).

Passear pela margem sul é aproximarmo-nos mais do tutano da vida humana. Poderia recorrer à filosofia aristotélica para mostrar como os nossos acidentes - as nossas roupas, a nossa cor da pele, etc. - não alteram a nossa essência, que é sermos todos lixo. Mas não o vou fazer, porque o Aristóteles já morreu há demasiado tempo e nunca chegou a treinar o Sporting. Digo apenas que a sinceridade da margem sul está aqui. A decadência do seu exterior não faz mais do que mostrar a decadência da sua essência. Se isto é bom ou mau? Eu acho que é bom.

Ao menos não há queques nem tios nem benzocas. Porque podemos ser todos lixo, mas até entre o lixo há lixo bom - o lixo que sabe que é lixo - e lixo mau - o lixo que finge não ser lixo. A margem sul é pródiga no bom.

Sem comentários: