quarta-feira, outubro 08, 2008

Myristica Fragrans

O título acima corresponde à designação científica da noz moscada, substância na qual me encontro viciado. Isto pode parecer supreendente para quem nunca contactou com a especiaria em questão, mas eu garanto que a mesma dá uma pedra do caraças. Além de saber bem à brava!

No entanto - e como seria de se prever - a minha adição à noz moscada só me tem causado problemas. Em particular porque a minha-mais-que-tudo não me ajuda nem me apoia! Ela esconde-me os frasquinhos de noz moscada que tanta dificuldade tive em adquirir! Ela já nem me deixa ir ao supermercado sozinho, com receio de que eu me ponha a gastar todo o orçamento de um mês nas prateleiras das especiarias. E, pior que tudo, impede-me de alimentar o meu vício, pois recusa-se a colocar noz moscada na sopa, no peixe, na salada, na fruta! Já viram isto?!?! E diz ela que me ama...

A nossa relação, aliás, já não é a mesma desde que me tornei dependente da myristica fragrans. Dantes, tínhamos conversas enriquecedoras e profundas; hoje em dia, todos os nossos diálogos não passam de acesas discussões cujo terceiro termo é precisamente a noz moscada. Dou-vos um exemplo de uma dessas discussões, ocorrida ontem na cozinha no preciso momento em que eu era apanhado com o nariz na noz:

Ela (entra sorrateiramente na cozinha): O que é que estás a fazer?!?!
Eu (enquanto guardo o frasco de noz moscada atrás das costas): N-n-nada, meu amor, nada...
Ela: Por que é que estás com as mãos atrás das costas?
Eu: Que mãos?! [porra, que resposta tão estúpida... mas não me lembrei de melhor!]
Ela: Ai o c... "Que mãos"?!? As tuas mãos, meu idiota! Por que é que as tens atrás das costas? Estás a esconder alguma coisa?
Eu: N-n-não, querida, não estou a esconder nada. Estou apenas numa posição de relax...
Ela: Mostra-mas!
Eu: Porquê?
Ela: Porque eu quero!
Eu: Está bem!
(e mostro ambas as mãos. Simultaneamente, o frasco que eu tinha guardado estilhaça-se no chão)
Ela: A-HA! Eu sabia! Estavas com um frasco de noz moscada!!!!
Eu: Não! Não é noz moscada!!! É... é... é... heroína!!!
Ela: Isso é que era bom! Não me tentes enganar! Foste outra vez à noz moscada, mesmo depois de eu ter escondido todos os frascos! Como pudeste?
Eu: Ahnnn... é mais forte do que eu, desculpa. Não consigo resistir.
Ela: Seu fraco! Seu estúpido! Seu viciado! Vê no que tornaste, bláblábláblá [nesta parte, desliguei e já não consegui ouvir nada, tão concentrado que estava em tentar snifar o monte de noz moscada que se tinha espalhado pelo chão]

É a isto que a minha vida se resume. Já tentei entrar para uma clínica de reabilitação, mas mal disse que era dependente de noz moscada todos os outros viciados desataram a rir-se de mim. Cambada de anormais... Portanto, a minha situação é triste, pois ser noz moscadodependente ainda é um assunto tabu na nossa sociedade. Ao contrário dos morfinómanos, por exemplo, eu não disponho de um subsídio do governo para sustentar o meu vício. O Pingo Doce nem sequer me faz um desconto quando, com o dinheiro que ganho a estacionar carros, eu peço para me encherem 5 carrinhos de compras só com frasquinhos de noz moscada! E nos outros supermercados ainda sou pior atendido! Escorraçam-me, batem-me, chamam-me nomes! Não há direito, digo eu! Triste fado o meu...

4 comentários:

Ilda disse...

Acabou-se a noz moscada para ti seu maluco!!!

Rafeiro Perfumado disse...

E não tens nojo de um fruto que leva moscas?

Rita disse...

Podia ser pior, podias ser viciado em Capiscum frutescens...
Jokas

Peter of Pan disse...

Continuo um incompreendido... :(

Vocês todos deviam, em vez de comentar, fazer uma vaquinha para que eu possa ter noz moscada à minha inteira disposição...