terça-feira, janeiro 17, 2012

Vozes irritantes: uma experiência pessoal

Hoje apanhei no comboio (pausa: que frase mais gay... "hoje apanhei no comboio"... enfim, adiante!) uma senhora que deverá ter a voz mais irritante do mundo. Sim, mais irritante do que a da Fran Dreschner, célebre actriz, quer dizer, mais ou menos, de sitcoms. Mais irritante do que a da Leonor Poeiras. Mais irritante do que qualquer voz que possam imaginar. E logo por azar - é o que dá ser sportinguista - a senhora vinha sentada no banco imediatamente à frente do meu.

Tentei de tudo: ler, pôr o mp3 mais alto, esperançado em que a harmonia de guitarras distorcidas e a melodia de grunhos cavernosos pudesse abafar a voz, pensei em mil coisas, fechei os olhos, eu sei lá! Não deu em nada. A voz da senhora que, além de irritante, era omnipresente, pois a dita senhora não se calava nem por um momento, teimava em insinuar-se pelos meus ouvidos dentro. Senti as feridas de antigas otites reabrirem-se pelo simples contacto com aquelas emissões; senti o meu cérebro apertar-se, todo ele receio; senti o meu pénis encolher; senti, até, o produto interno bruto do país no seu todo a cair para níveis subterrâneos; senti, enfim, que o mundo acabaria ali e que o universo se devorava a si próprio.

Quase cheguei ao ponto de tomar atitudes drásticas. A cada guincho que penetrava a minha trompa de eustáquio, eu só pensava "Não, eu tenho de enfiar um pézão na boca desta tipa". Ainda me fiz ao cachecol que lhe decorava o pescoço e esbocei mesmo um gesto de lho enfiar por aquela goela abaixo, não fosse estar tão fraco, tão tonto, tão exaurido que, mal levantei um pouco o cu do banco, senti logo tonturas e estive em riscos de desmaiar. Tudo efeitos daquela voz que mais parecia um Orçamento do Estado.

Por sorte, a senhora, mais a sua interlocutora (também não é inocente, esta vaca!) abandonou a carruagem na estação seguinte. E lá pude sentir a vida retornar ligeiramente ao meu ser. Mas nunca vou olvidar aqueles momentos terríveis passados esta manhã. Espero jamais apanhar novamente tal pessoa. Sobretudo, tal voz. Mais facilmente aturo o Pinto da Costa a recitar poemas ou o Paulo Portas a desejar as melhoras ao Hugo Chávez do que 5 segundinhos apenas daquela voz. Vocês não estavam lá, não podem avaliar, mas creiam: era mesmo muito irritante! Ainda tenho pingas de sangue a escorrerem-me dos ouvidos...

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