Anda por aí um anúncio nas televisões a publicitar uma marca de comprimidos vaginais. O nome da marca agora escapa-se-me, mas o conceito de "comprimidos vaginais", bom, esse agarrou-se-me aos neurónios e provocou uma certa indignação. Indignação essa que posso resumir no seguinte questionamento: mas por que raios é que os comprimidos vaginais hão-de ser chamados assim, de comprimidos vaginais?!
Não sendo eu farmacêutico, considero porém que a questão merece alguma reflexão, quanto mais não seja porque sim. Ora, reflectindo, chega-se a uma primeira conclusão: como se chamam os comprimidos que se tomam por via oral?! Comprimidos. E como se chamam os comprimidos que se tomam por via anal?! Supositórios. E, lá está, como se chamam os comprimidos que se tomam por via vaginal?! Comprimidos vaginais.
Pois bem, é este o cerne do problema! Por que razão estranha se favoreceu, na nomenclatura de fármacos, o rabo em desprimor da racha?! Por que razão os comprimidos que se enfiam pela peida acima têm um nome exclusivo, enquanto que aqueles que se têm de meter pela boca do corpo se limitam a levar um mero acrescento lexical literal: "vaginais"?!?! Trata-se, sem dúvida, de um claro empobrecimento da língua de Camões, que tem palavras e mais palavras para designar o órgão genital feminino, mas nenhuma delas foi aproveitada para, à semelhança do que aconteceu com o supositório (um termo que designa sem qualquer ambiguidade um medicamento que é colocado no corpo via anilha), criar um neologismo que substituísse a tão feia expressão "comprimidos vaginais". É caso, então, para começar a dar uso à língua em favor da vagina. Hã?! Pois...
Acrescento, desde já, que não é só por razões estéticas que trago este assunto à liça. Não. Há razões também práticas. Se houvesse um termo próprio que designasse os comprimidos vaginais, muitos equívocos poderiam ser evitados. Um exemplo: imaginem vocês que estão numa festa. A dado momento, uma das vossas amigas interrompe: "ah, quase me esquecia de tomar o comprimido. Alguém segure na minha mala enquanto procuro". Vocês, claro, como pessoas de bem que são, ficam a pensar: ela vai buscar um copo de água, ingere o comprimido e a festa pode continuar como até aqui. Só que, quando ela encontra o dito comprimido, não vai buscar copo de água nenhum: em vez de enfiá-lo pela goela abaixo, levanta a saia e espeta-o pela perseguida acima. O resultado óbvio é que, depois disto, nenhuma festa fica como até então.
É portanto, também por este motivo que sugiro uma nomenclatura que faça pela pachacha aquilo que o supositório faz ao cu. Algo que encaixe lá bem, no fundo. Agora, bem sei que esta sugestão levanta novos tipos de problemas. Afinal, que nome dar à coisa? Pachachamido?! Ratatório?! Suposicoño?! Sei lá, as hipóteses são tantas... Mas o que eu acho é que se deveria dar mais atenção a isto do que ao Acordo Ortográfico, lá isso acho!...