quarta-feira, dezembro 30, 2009

Complexo de Peter Pan

Bom, antes de mais cabe-me apresentar um pedido de desculpas por andar alheado dos meus compromissos blogosféricos, mas tudo se deveu às minhas responsabilidades académicas. Além disso, fugi para um sítio onde não houvesse Natal, e como esse sítio fica um bocado longe, levei algum tempo a regressar.

Durante o tempo que passei fora do mundo da web, e do mundo dos seres humanos em geral, aproveitei para fazer um leve teste de personalidade. Resposta aqui, resposta ali, concluí o dito teste em pouco mais de meia hora, e os resultados que me foram aparecendo pouco ou nada me surpreenderam, até porque eu já sabia tudo aquilo: "você é espectacular", "você possui uma inteligência superior", "você deveria ser o senhor do Universo", "você tem um pénis de 25 cm". Foi isto que foi sendo debitado, até que a dada altura apareceu algo de que eu, definitivamente, não estava à espera, e que nunca pensei ser um componente da minha personalidade: "você sofre do complexo de Peter Pan". (para os menos familiarizados, o complexo de Peter Pan é aquele distúrbio de personalidade em que a pessoa se recusa a crescer e a assumir as responsabilidades de um adulto)

Alto e pára o baile, foi o que pensei ao levar com esta acusação. Então eu, só porque sou o Peter of Pan, tenho de sofrer do complexo de Peter Pan?! Isso é tão absurdo quanto, caso eu fosse bêbado, usasse bigode e tivesse apenas metade do cérebro, me taxarem imediatamente de benfiquista!

Não quis acreditar naquilo que o teste me revelava, tanto que bati o pé, fiz birra e recusei-me a comer a sopa. Mais calmo, procedi então a uma rigorosa análise interior, buscando nos mais recônditos cantos do meu ser, descendo às profundezas negras da minha alma... e faltam-me agora mais metáforas estúpidas dignas de um psiquiatra de quinta categoria! Para resumir, e agora em linguagem de pessoa normal, fiquei a pensar um bocado naquilo, pronto!

E foi assim que fiz uma revisão da matéria dada, em que essa matéria era minha vida. E enquanto o fazia, não pude deixar de pensar no Michael Jackson: havia algumas semelhanças entre a vida dele e a minha própria vida! Não, não estou a ficar mais branco; também não sou pedófilo; a verdade é que nunca consegui dançar o moonwalking; e não dou gritinhos histéricos quando canto.

As analogias prendiam-se com a rapidez com que ambos crescemos. Michael Jackson já era uma figura pública na idade em que a maior parte ainda anda de chupeta. Michael Jackson nunca brincou aos índios e aos cowboys porque andava a dar concertos, a ensaiar ou a gravar discos. Michael Jackson nunca apalpou uma rapariga na escola porque teve sempre pessoas a tratar-lhe da imagem.

Da mesma maneira, eu também fui muito precoce, embora a minha precocidade nada tivesse a ver com a do rei da pop. Aos cinco anos, já via filmes pornográficos em leitores beta; aos nove, já me assumia como anti-americano, dava palestras no quintal do Cajó e via filmes pornográficos em leitores VHS; aos onze, afirmava-me ateu, ia mijar às portas das igrejas e tinha exemplares das Playboy americana e brasileira debaixo do colchão; aos treze, lia Platão, Kant, Nietzsche e já fazia alguma crítica literária ("estes livros ficariam melhores se tivessem cenas de lesbianismo explícito") e desenhava a Paulinha do 2º frente em poses sensuais; aos dezasseis anos, discutia com os professores, escrevia cartas para o jornal O Independente a dizer mal do Paulo Portas e realizava o meu primeiro filme erótico, protagonizado pela Joana Cigana e por uma cenoura descascada.

Ou seja, a minha personalidade manifestou-se muito cedo. Enquanto os outros rapazes e raparigas da minha idade faziam coisas típicas, como rachar as cabeças uns dos outros, eu dedicava-me a assuntos adultos e avançados, daqueles que facilmente estragariam a cabeça de qualquer criança desprovida de lucidez, equilíbrio e saúde mental. Quantos dos que estão a ler este texto aguentariam lidar com aquilo que eu lidei na minha infância e adolescência, e manter a sanidade? Vá, quantos?! Não é fácil ser o único a querer ver filmes pornográficos numa sala cheia de miúdos que só pensam no Tio Patinhas. E ser-se anti-americano em plenos anos 80, época da expansão ideológica do capitalismo dos EUA? As vezes em que me cheguei junto de amigos (acabados de ver o Rocky ou o Rambo), para avisá-los que o governo americano era imperialista e falso e como paga fui ameaçado... E a nega que levei da Sara, quando esta soube que eu não acreditava em Deus?! Então e aquela vez em que o Zé Bronco apareceu na rua com uma revista do Super Homem e eu, todo arrogante, disse que o único super-homem fixe era do Nietzsche e fiquei um mês sem poder jogar à bola?! Não é fácil, meus amigos e minhas amigas, não é fácil...

Portanto, quando era criança e jovem já me tinha tornado adulto. E agora, que sou adulto, e à semelhança do Miguel Jáqueson, só me apetece ser criança e fazer coisas de criança. E sendo que não posso refugiar-me no Dubai, ou ter uma Neverland só para mim, e não me passa sequer pela cabeça dormir com menores, a não ser que se trate da Salma Hayek (1,57m), da Scarlet Johansson (1,63m) ou da Monica Bellucci (1,70m - para mim, tudo o que é abaixo de um metro e oitenta e três é considerado "menor", portanto não me venham com histórias!!!!), resta-me fazer figuras infantis à frente de toda a gente, como fazer cocó no gabinete do patrão, brincar com a pilinha nos transportes públicos (tendo ela 25 cm, é um risco para os outros passageiros. Recentemente, vazei um olho a uma velhota), chapinhar nas poças de água da rua (pá, o que me tenho divertido nos últimos dias...) e mostrar a língua e fazer caretas à minha gaja, o que dá como resultado ser mal visto e malquisto por todos os que me rodeiam.

Afinal, sempre tenho complexo de Peter Pan... a criança que tanto tempo esteve escondida, está agora à solta e indomável.

Bom 2010 e brinquem muito.

4 comentários:

Kat disse...

Feliz ano novo :)

Gonçalo disse...

Só espero que o novo ano seja sinónimo de mais humor à moda de Peter Of Pan, em versão Peter Pan ou Michael Jackson. Se não tiveres mais nada que escrever, vai brincar com a pilinha :P

Um abraço e um feliz ano novo!

Daniel C.da Silva disse...

Hoje em particular e apesar de nao te ter podido conhecer pesaoalmente no jantar onde te foi de todo impossivel ir, nao podia deixar passar sem deixar os meus votos de um ANO NOVO FELIZ onde os teus desejos contemplem a AMIZADE E O AMOR UNIVERSAIS, SEMPRE :)

Abraço grande

Peter Pan disse...

gostava que desse uma vista de olhos..

http://odiariodeumpeterpan.blogspot.com/