segunda-feira, maio 03, 2010

Herman 2010 versus O Lado B: um estudo crítico comparado

Ponto prévio: ao contrário do que é expresso no anúncio do novo programa do Herman José na RTP, o Herman não é o melhor humorista português dos últimos 30 anos. Para mim, o Herman foi o melhor humorista português de sempre! Fim do ponto prévio.

Mas que dizer do Herman 2010?!? O Herman, embora tenha sido o melhor humorista português de todos os tempos, uma espécie de Diego Armando Maradona a fazer rir, já não anima. Ver, ou tentar ver, o talk-show que é agora transmitido nas noites de Sábado no primeiro canal do Estado é algo que deprime, deprime mesmo a sério, de tão mau que é! As piadas (!!) são péssimas, os textos não têm qualidade, a relação entre o apresentador e os músicos é demasiado forçada e, por vezes, trapalhona (sou da opinião que os complementos musicais no final de cada "piada" cortam por demais o ritmo do programa), a mostrar que o Herman nada aprendeu com os Conan O'Briens e Jay Lenos da vida. E depois - e isto é que é verdadeiramente grave tendo em conta a brilhante carreira do artista, que é um bom artista - nota-se que o Herman já não se esforça. O Herman estagnou, ficou-se, tornou-se parte do establishment. Tornou-se politicamente correcto. Os seus comentários já não são malandros, no sentido provocador do termo. Longe vão os tempos de rábulas e entrevistas incisivas: ver o Herman hoje em dia não é muito diferente de assistir a um programa do Manuel Luís Goucha ou da Júlia Pinheiro. A irreverência de outros anos foi-se, talvez em definitivo.

Irreverência é o que não falta ao Bruno Nogueira, gigante apresentador d'O Lado B, e um dos grandes humoristas da actualidade. Pessoalmente, acho que o Bruno teve os seus melhores momentos no stand up Levanta-te e Ri; tudo o que ele fez depois, fosse apresentando o Curto Circuito na SIC Radical, fosse colaborando n'Os Contemporâneos ou, agora, tendo o seu próprio talk-show na RTP1 não chega aos calcanhares do registo demonstrado no formato stand up comedy. Ainda assim, consegue estar anos luz à frente, em termos de provocar boa disposição no espectador, do programa do Herman. E isto porque o Bruno não está com merdas. O Bruno, ao contrário do Herman, não se importa de correr riscos. Provoca. Atiça. Por vezes, choca. Algumas das suas piadas são imorais? São! Apetece, em alguns casos, chegar junto do gajo e espetar-lhe um soco nas fuças? Apetece! Porém, é também destas pequenas merdinhas que se faz o bom humor. O humor deve provocar uma reacção nas pessoas, e o Bruno é mestre nisso. Nem sempre a reacção é boa, lá está, mas ao menos ele não parece estar preocupado, quando atira uma piada, se as pessoas vão reagir bem ou mal: importa é reagirem! Em comparação, o Herman já passou esta fase. O que ele debita sai-lhe automaticamente, sem convicção. Dá a sensação que o Herman tem medo, medo do que as pessoas possam pensar. Medo de estar desactualizado. Medo de já não ser relevante. E já não é.

E isto é um pouco o espelho do país. O Herman personifica aquela ideia de que é preciso, para ter sucesso, possuir muitos meios e muito dinheiro. Herman tem muitos meios, e muito dinheiro, mas nem de perto nem de longe se assemelha ao Herman genial dos anos 80 e 90 que, com muito menos limões, fazia melhores limonadas. O Bruno, em comparação, tem menos meios, tem menos dinheiro, e o salário que recebe na RTP deve ser um microorganismo ao lado da baleia que são os rendimentos do senhor Kripphal. Todavia, isso não o impede de ter um programa bem mais divertido e que dá mais gozo ver. Ao menos, não deprime como ocorre com o Herman 2010. E o país inteiro, sim, o país, bem que pode pôr os olhos nesta merda. Em época de crise, é preciso termos a consciência de que não são precisos mundos e fundos para nos safarmos bem. Basta termos um bocadinho de cabecinha.

Voltarei a este assunto amanhã.

Ah, e acrescento que sou do Rio Ave desde que me conheço!

3 comentários:

Ilda disse...

Pois, o Herman está acabadinho, há já mt tempo, apesar de não o aceitar. É uma pena, pois poupava-se a este desgaste que não beneficia nada a sua imagem, só piora. Quanto ao Bruno Nogueira, vamos ver, ainda tenho algumas reservas...

P.S. Rio Ave?! Então não eras do Olhanense desde pequenino???

MPB disse...

Ora bem. Permito-me discordar. O Bruno não tem piada. Se não for tentar chocar (não consegue) com as piadas sobre Fátima, pedofilia e peregrinos, não se passa nada. As suas entrevistas são de bradar aos Céus. (A última à Fátima Lopes era abaixo de Goucha / Pinheiro, e a que fez á sua mãe não tem comparação de tão patética). Daqueles 50 minutos fica... NADA. O Herman em três sessões (curiosamente sempre com mais espectadores do que o Lado B) já criou uma personagem que no You Tube passou a dezena de milhar de visulaizações: a Katyzinha. Fez um "Capitão de Maio" genial, e pos o Toy a traduzir Mozart. Estaremos mesmo a falar de programas e carreiras, ou antes de preconceitos contra um tipo cujo maior pecado é andar de Z8, voar Netjets e ter um Ferretti 26 metros em Ibiza ?

MPB disse...

já me esquecia... de blogue para blogue:
http://naosouumblogger.blogspot.com/2010/05/muito-bom-herman-jose-katyzinha.html