Considero-me uma pessoa extremamente pacata, calma, pacífica e racional. São poucas as cousas (há quanto tempo não viam grafado "cousas" em lugar de "coisas", hum?!) que me levam ao desatino. Agências de
rating?! Pfff, elas que venham aqui
ratingar-me, a ver se me importo!... Derrotas do Sporting?! Ó pá, elas são tantas que um tipo, a partir de uma certa altura, fica anestesiado!... Não ter o canal Playboy desbloqueado?! Sim, é chato, admito, mas quem precisa de canais eróticos por cabo quando temos essa autêntica arca pessoana do erotismo e da pornografia que é a internet? (e há quanto tempo, se é que alguma vez, viram associados os termos "arca", "pessoana", "erotismo" e "pornografia"? Há coisas que só este blogue faz por vocês, não é?!)
No entanto, tenho de desabafar, aqui, que as tretas dos tamanhos perturbam - e de que maneira - a minha habitual índole fleumática. Fui criado e crescido a escutar duas opiniões em tudo contraditórias: uma, que era o tamanho o que verdadeiramente importava; outra, que não era o tamanho e sim a magia o mais relevante. Ora, pessoalmente não sei o que quer dizer esta coisa de "magia", por isso sempre resvalei para o lado daqueles que afirmam ser o tamanho importante. Afinal, trata-se de um critério mais objectivo e, assim, mais facilmente interpretável, do que "magia". Em princípio, um metro é um metro, um hectare é um hectare, e os meus 25 centímetros são 25 centímetros, certo?!
ERRADO! Há por aí muito bom fabricante de vestuário e calçado que não obedece a estes critérios supostamente objectivos. Para esta gente, um metro tanto pode ser um metro quanto 80 centímetros, um litro pode equivaler a um decímetro e um quilómetro, este, pode ser classificado, muito arbitrariamente, como "uma coisa grande c'mó caraças"! Só estas discrepâncias explicam que eu, quando quero comprar roupa ou calçado, raramente consiga atinar no tamanho! Normalmente, as minhas camisas e t-shirts são L. "L", de large, já se sabe. Portanto, quando vou a uma lojinha, ou, mais amiudemente, aos ciganos, procuro de imediato os tamanhos que à partida sei servirem-me. O mesmo acontece quando me desloco a uma sapataria: 42 é o meu número, e ponto final.
Só que, e não sei por que carga de água, é muito raro, mesmo muito, os fabricantes atinarem à certa com as medidas. Por razões místicas e misteriosas que eu não sou capaz de deslindar, os L nem sempre são L e os 42 são só uma tatuagem colocada na sola do calçado e que nada têm a ver com o tamanho dos meus belos e sensuais pés.
Ainda no último fim de semana, fui comprar duas camisas e um par de chanatos. Supostamente, bastar-me-ia escolher o tamanho L para as primeiras e o 42 para os segundos. Afinal, se há esta uniformidade de medidas, se há um reconhecimento nacional e internacional das mesmas, então é porque em qualquer lado, em qualquer loja, de qualquer marca e modelo, o vestuário e o calçado são os mesmos no que aos diversos tamanhos concerne. Mas na prática não o são. Na prática, eu posso ir à loja X e sair de lá com uma t-shirt L bem assente, e logo de seguida entrar na loja Y e descobrir que, afinal, as t-shirts que me caem bem são as XL. E posso ir depois à loja Z só para verificar que as únicas t-shirts que me servem não são as L nem as XL, as quais me dão aquele aspecto de "saca de batatas" e sim as M. Na prática, eu posso ir à sapataria A à procura de uns ténis 42 e sair de lá efectivamente com uns 42 calçados, e logo de seguida entrar na sapataria B e só conseguir meter o pé nuns 44, e depois ir à sapataria C e dar conta que, olhem que porra, uns 41 até se adaptam bem aos meus tesouros de pontapear bolas de futebol.
Devido a estas tretas, uma pessoa tem sempre, e inevitavelmente, de perder tempo na porcaria dos vestiários a experimentar as peças. O que, na minha óptica, era algo perfeitamente escusado. Tenho para mim que os vestiários só servem para aquelas gajas que procuram, à força toda, ver todas as santas peças de roupa, em todas as combinações possíveis (
"será que este vestido fica bem com estes sapatos? ou fica melhor com aqueles?"). Os vestiários não deveriam destinar-se a indivíduos mais práticos, como eu, que sabem de antemão aquilo que querem levar. A mim não me interessa se as calças de ganga combinam bem com os téninhos pretos, ou se a camisa azul casa bem com os sapatos tipo vela. A única coisa que eu quero saber é se me servem, e bastaria, num mundo justo e racional, que os tamanhos indicados nas peças dissessem a verdade. O problema é que, quais Josés Sócrates, não dizem! E ao não dizerem, obrigam-me -
helás! - a ir à porcaria dos vestiários, onde invariavelmente estão dezenas de focas a experimentar soutiens e vestidinhos justos, e ainda por cima esquecem-se de fechar completamente a cortina, revelando ao mundo em geral, e a mim em particular, que procuro um cubículo, a visão aviltante daquelas banhas a sair para fora da roupa, o que me provoca logo dores de cabeça e me faz perder a esperança na humanidade, se não pensasse imediatamente nos golos que o Liédson marcou ao Benfica desde que veio jogar para Portugal juro que era capaz de desmaiar ali no meio dos vestiários!
E depois, claro, tenho de vestir e despir e despir e vestir, e repetir as operações tantas vezes quanto o número de peças que tenho vontade de levar e o número de tamanhos disponíveis na loja. Se quero duas camisas, tenho de experimentar, pelo menos, os tamanhos M, L e XL de cada uma. Portanto, só aqui, estão múltiplas operações em potência. Operações que poderiam, se os fabricantes fossem pessoas inteligentes, ser evitadas. Se isso não acontece, é porque, de facto, para esta gente o tamanho não é o que mais importa. Se fossem mas era à fava!...