terça-feira, abril 27, 2010

Esta é para eu aprender a não elogiar os muffins das outras!

Um post extraído directamente da vida real. Qualquer semelhança com a ficção é uma nãoseioquê de uma coincidência.

Ontem, chegado a casa ao final da tarde, e preparado para o "descanso do guerreiro" após mais um dia de dura labuta, encontro a gaja à porta da cozinha, com o rolo da massa na mão esquerda, a colher de pau na mão direita e o avental dobrado sobre o antebraço direito.

- Olá, amorzinho do meu coração. - perguntei, na minha candura, e acrescentei: - Estás a preparar-te para cozinhar? Fixe! Vais fazer o quê?
Por uns poucos segundos, a gaja nada disse. Limitou-se a fuzilar-me com o olhar, como se ela fosse o José Sócrates e eu o Francisco Louçã. De repente, qual relâmpago que caísse mesmo em cima da tola do António Mexia, soltou:
- EU NÃO VOU FAZER NADA, MEU ESTÚPIDO!!! HOJE QUEM VAI COZINHAR ÉS TU! QUERO VER O QUE ANDAS A APRENDER COM OS PROGRAMAS LÁ DA TIGELA! COM QUE ENTÃO, OS MUFFINS DELA FAZEM-TE CRESCER ÁGUA NA BOCA...

E lançou-me, sem mais dizer, o avental, a colher de pau e o rolo de massa para as mãos. Ainda procurei deitar alguma água na fervura:
- Mas amorzinho, ela não se chama Tigela. É Nigella e pronuncia-se à inglesa, Naidj...
- NÃO QUERO SABER, 'TÁ CALADO COM ESSA P*TA DO C@R@*#O, É COMO EU DIGO, F@$@-SE, TU VAIS É COZINHAR, MEU C@R@*#O DO C@R@*#O, E É MELHOR QUE O FILHO DA P*TA DO C@R@*#O DO PRATO QUE VAIS FAZER FIQUE CINCO ESTRELAS, SENÃO O QUE ESPERA O TEU PETEROFPANZINHO É AQUILO!

E mostrou-me, em cima da bancada da cozinha, a faca eléctrica que costumamos utilizar para cortar o pão home made. As lâminas, acabadas decerto de afiar (é mesmo muito cruel, a minha gaja) reluziam ameaçadoramente. Passou-me uma dor pela zona pélvica. Senti-me desfalecer. Olhei para a gaja, mas ela não desarmava: continuava a fitar-me com aqueles olhos de quem está disposta a tudo. Senti-me como uma transportadora aérea à mercê da nuvem do vulcão islandês Eyjafiroku, ou lá como se chama aquilo, sem poder voar nem para aqui nem para ali...

Não tive, pois, outra alternativa senão colocar o avental por cima do corpo. E, munido da colher de pau e do rolo da massa, fui para junto do fogão. E o que fiz? Bem, a única coisa que eu consigo fazer na cozinha: porcaria! Tentei fazer uns bolinhos, saíram-me uns tijolos; procurei compensar com uma omolete, saiu-me uma espécie de esparregado de ovo; fui, já em desespero, para fritar umas batatinhas, e o resultado ficou parecido com o cabelo do Yannick Djaló. Comecei, baixinho, a dizer palavras de adeus ao meu amigo de todas as horas. Afinal, aquelas lâminas da faca eléctrica continuavam ali, brilhantes. Com os olhos já marejados pela lágrimas que iam descendo, e enquanto observava as últimas batatinhas fritas transformarem-se em carvão, o futuro aparecia à minha frente: sem o meu peterofpanzinho, não teria outro caminho senão ir para a companhia de teatro do Filipe La Féria.

Destino horrível, este. Mas era o que me esperava se eu não agisse, e depressa. Foi o que fiz: resolvido a não querer deitar a minha vida pelo cano, decidi puxar dos meus galões de sportinguista e executar aquilo que qualquer bom sportinguista sabe executar: um majestoso espectáculo de auto-humilhação! Com o rosto já lavado em lágrimas, ajoelhei-me, virei-me para a gaja, levantei os braços, qual Willem Dafoe no Platton, e proferi estas salvíficas palavras:
- Desculpa, amorzinho, desculpa! Não volto nunca mais a falar dos muffins da Nigella!
- Tigela. - interrompeu-me logo, num tom de voz automático e sem emoção.
- Sim, Tigela - confirmei - Nunca mais volto a elogiá-la!

Fez-se um breve silêncio, apenas intercalado pela minha respiração chorosa. A gaja veio até mim. Estendeu-me a mão direita. Eu estendi a minha mão esquerda, porque sou muito revolucionário e não quero nada com a direita. Pegou na minha mão esquerda com a sua mão direita (o que é uma imagem um bocado estranha...). E disse-me, agora com uma voz suave e melodiosa,

- Pronto, está bem, já vi que aprendeste a lição!
Ajudou-me a levantar, o que foi fixe, porque já tinha os joelhos em carne viva.
- Podes estar descansado que o teu peterofpanzinho vai sobreviver. Afinal - e olhou-me com malícia - eu tenho grandes planos para ele! Mas - concluiu, rispidamente - se voltas a falar dos muffins daquela cozinheira de meia nigella, juro que não terás uma outra abébia!

E virou-me as costas, dirigiu-se para a sala e deixou-me ali sozinho na cozinha, por entre aquele caos e aquela destruição (as batatas fritas, por esta altura, já estavam tão carbonizadas que comecei a pensar se não se transformariam em diamantes). Respirei fundo, enxuguei as lágrimas e pus-me a limpar a cozinha. Quando tudo estava bem limpo e lavadinho, perguntei à gaja se podia mandar vir uma pizza vegetariana. E pronto, mandámos vir e acabámos a noite no sofá a ver televisão.

E não, não vimos a SIC Mulher e sim, o meu peterofpanzinho está de boa saúde. E sim, nunca mais digo nada acerca dos muffins da Nigella...

3 comentários:

Ilda disse...

Ainda bem que aprendeste a lição acerca da "Tigela"!!!

Pulha Garcia disse...

Grande Peter of Pan! Não falas mais dos muffins da Nigella mas vou já escrever uma posta sobre o assunto em homenagem à tua pessoa ...

Assim como assim sou eu que cozinho lá em casa.

Francis disse...

ahahahahahahahahahahahahahah
fosga-se que os sentiste apertados.