quarta-feira, novembro 16, 2011

São pequenas coisas como estas que demonstram não ter Portugal qualquer salvação

Chamem a troika, chamem o Chuck Norris, chamem quem quiserem: Portugal, enquanto país, enquanto nação e enquanto povo, não se safa. Ontem tive mais uma prova disso, se é que tal era preciso. Depois do jogo que opôs os produtos da formação do Sporting à selecção da Esbórnia Herzegovina, pudemos todos ter um cheirinho do verdadeiro Portugal em dois casos:

Caso 1 - Jornalista da SIC Notícias tenta chegar à fala com uma jovem que saía, feliz, do estádio. "Então, o que achou do jogo", pergunta a repórter, uma questão, aliás, digna da melhor tradição jornalística, já na época do império romano os jornalistas mais competentes eram destacados para as imediações do coliseu, tentando aí captar as opiniões dos cidadãos romanos depois de mais um combate de gladiadores. Segundo consta, um assalariado do Saturnalia Vespertinus terá mesmo uma vez abordado o próprio Augusto que, muito irritado (o seu gladiador favorito havia sido morto), mandou crucificar o jornalista. Pena que naquela altura não existia a Repórteres sem Fronteiras, senão o Augusto havia de ver: alguém escreveria um artigo de opinião nos principais jornais e pimba, ui ui, era o bom e o bonito. Voltando atrás: "então o que achou do jogo", pergunta a repórter, mas a jovem interpelada mal teve ocasião de esboçar uma resposta, pois no momento em que abriu os lábios, um jovem, aparentemente não alcoolizado nem sob o efeito de estupefacientes, saltou para cima dela numa coreografia que, no domínio heavy metal, carrega o nome de mosh, ao mesmo tempo que berrava o mais alto possível. E neste ponto, as opiniões divergem: a minha gaja, a assistir ao mesmo programa, jura a pés juntos que o rapaz, enquanto abordava a rapariga da maneira que os corsários holandeses abordavam os navios espanhóis e portugueses, gritou "Portugal, Portugal", mas eu não estou tão seguro e acho mesmo que aquilo que o rapaz disse foi "Gruarrrrr, Roarrrrrr" (se mais alguém viu isto, é favor deixar a sua opinião na caixa de comentários).

Este é, para mim, um exemplo típico da acefalia lusa. Depois ainda têm a lata de mandar vir com os esbórnios só porque estes apontaram lasers ao pai do filho do Cristiano Ronaldo. O que é pior: apontar uma luzinha a um gajo bonito, rico e bom jogador ou mandar-se para cima de uma indefesa miúda?? Mas há mais, há mais: vejam o caso seguinte.

Caso 2 - A câmara de filmar da SIC Notícias faz um movimento de 360º para apanhar as movimentações à saída do estádio. Nisto, vê-se um homem com um miúdo dos seus 3-4 anos ao colo. Quando vê que a câmara está a apanhá-lo, o homem estende o puto na direcção da câmara e, enquanto grita "EHHHHHHHH" (aqui, não há dúvidas: tanto eu como a gaja ouvimos nitidamente. Foi um "EHHHHHHHH"!), abana o puto com violência tal que o espectador desconfia se não se deu um ciclone localizado. A interpretação deste episódio pode diferir consoante a profissão de cada um: um biólogo achará, com toda a certeza, estarmos perante um caso claro de predador e presa: tal como as orcas, as focas-leopardo, os crocodilos e etc abanam as suas presas logo após a captura, também o homem abanou a criança na tentativa de lhe despedaçar a carne e, assim, tornar mais fácil o consumo da carcaça. Um sociólogo, por sua vez, julgará que tudo se deveu à alienação promovida pelas televisões. Ao ver uma câmara, o grunho homem quis exibir a sua descendência (partindo do princípio que eram pai e filho...) por todo o país, e como não possuía mamas da estirpe de certas raparigas que participam em certos reality shows em certos canais de televisão, achou que a melhor forma de chamar a atenção seria gritar "EHHHHHHHHH" e abanar o puto como um actor pornográfico abana o escroto no desempenho de uma cena. Um psicólogo, já agora, achará que aquilo deriva da relação edipiana ocorrida na infância do homem, sendo a consequência óbvia receitar-lhe Prozac. Já eu, que não sou nem biólogo, nem sociólogo, nem psicólogo, não tenho senão o bom senso para me auxiliar, e digo apenas que o homem era um estúpido.

Mais um exemplo da acefalia lusa, portanto. Num intervalo de tempo que não ultrapassou os 60 segundos, duas atitudes perfeitamente inacreditáveis de dois concidadãos. E, pelos vistos, toda a gente achou normal, porque não vi painéis de comentadores a serem criados para discutir tais factos. O Marcelo já disse alguma coisa sobre o assunto? Peva! O Sousa Tavares? Puf! O Marques Mendes? Ná! Este, mais aquele, e mais o outro? Nicles! Mas são estas pequenas merdas que (não) fazem o país...

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