No jardim da cidade, a mamã joaninha encontrava-se muito doente. Todas as outras joaninhas da família voaram, algumas de perto, outras de muito longe, para vê-la. Quando a família chegou à flor onde a mamã joaninha vivia, o vizinho aranhiço foi recebê-las.
- Venham, venham - disse o vizinho aranhiço. - Ela tem estado à vossa espera.
- Obrigado - respondeu uma das joaninhas, entrando todas na flor.
Ficaram muito tristes quando olharam para a mamã joaninha deitada, muito fraca, na sua cama. A mamã joaninha levara uma vida de muito trabalho, a voar daqui para ali, dali para aqui, e ninguém da família estava à espera de vê-la agora assim, prostrada. Uma das joaninhas chegou-se à beira da mamã joaninha e perguntou-lhe:
- Mamã joaninha, mas por que não foi ao hospital?
Com muito esforço, a mamã joaninha elevou ligeiramente uma das suas seis patinhas e, com a voz embargada, contou:
- Eu fui ao hospital, minha filha. - pausou por um momento, para recuperar o fôlego. - Mas as taxas moderadoras estão para além do meu orçamento. - fez nova pausa. - E ninguém dá isenção a uma pobre e velha joaninha como eu.
- É verdade. - continuou o vizinho aranhiço. - Até fui eu que a levei ao hospital. Tentei pagar com fios de teia, mas não aceitaram. Tive de trazê-la de volta, coitadinha.
- Oh, o que vamos fazer?! - perguntou, emocionada, uma das joaninhas. - Podíamos levá-la para Cuba, mas e se ela morre pelo caminho?! E se há uma tempestade e temos de voltar para trás? Pior: e se nos cansamos durante o voo e precisamos de fazer escala na Madeira?!
Todas as outras joaninhas abanaram a cabeça. Ninguém parecia saber o que fazer. A família de joaninhas estava consternada, derrotada, patinhas para baixo e até mesmo a cor rubra dos seus dorsos aparentava, agora, estar menos viva.
Foi então que uma das joaninhas mais novas se lembrou de uma ideia:
- E se emigrássemos?! - lançou a pequenina. - Ouvi no outro dia na televisão um senhor importante a falar que devíamos todos emigrar!
- É verdade, eu também ouvi. - completou o vizinho aranhiço.
- Podíamos levar a mamã joaninha connosco. - retomou a petiza. - Escolhemos um sítio bonito, agradável, não muito longe daqui.
O resto da família, agradada pela sugestão, começou a discutir alternativas. Até a mamã joaninha, como se tivesse recuperado forças, deu alguns nomes. Após poucos minutos, a decisão estava tomada: iam voar até um jardim em Lanzarote, onde a mamã joaninha tinha uns primos, os Don Juanillos. Faltava apenas saber como transportar a mamã joaninha, fraca demais para aguentar um voo tão extenso, e foi aqui que mais uma vez o vizinho aranhiço mostrou ser prestável, pois comprometeu-se a fazer um saco de teia à medida da mamã joaninha, fácil de transportar por todas as suas filhas. Todas agradeceram o trabalho que o vizinho aranhiço teve e, assim que o saco de teia ficou pronto, puseram-se a voar. Poucos dias depois, chegaram ao jardim dos Don Juanillos, onde a mamã joaninha foi muito bem tratada e pôde passar, feliz, os últimos anos da sua vida.
Mas esta história não acaba bem. O vizinho aranhiço, que ficou no jardim onde sempre houvera vivido, começou a aperceber-se de que o jardim só ficara a perder com a migração das joaninhas. Os pulgões, que eram em número pequeno, ao verem-se livres das joaninhas, reproduziram-se incontrolavelmente, e bem depressa devoraram as flores mais bonitas do jardim. Não demorou muito para que todo o jardim da cidade, outrora belo, ficasse reduzido a mero pasto para os pulgões. O próprio vizinho aranhiço teve de abandonar o jardim quando viu a sua orquídea devorada pelos pequenos pulgões, e só a custo conseguiu sair de lá com vida. Mas, infelizmente, o vizinho aranhiço morreu não muito tempo depois, esmagado por um carro quando procurava um sítio para morar.
Moral da história: quando se obriga quem tem valor a emigrar, arrisca-se a que só fiquem cá os parasitas.
- Venham, venham - disse o vizinho aranhiço. - Ela tem estado à vossa espera.
- Obrigado - respondeu uma das joaninhas, entrando todas na flor.
Ficaram muito tristes quando olharam para a mamã joaninha deitada, muito fraca, na sua cama. A mamã joaninha levara uma vida de muito trabalho, a voar daqui para ali, dali para aqui, e ninguém da família estava à espera de vê-la agora assim, prostrada. Uma das joaninhas chegou-se à beira da mamã joaninha e perguntou-lhe:
- Mamã joaninha, mas por que não foi ao hospital?
Com muito esforço, a mamã joaninha elevou ligeiramente uma das suas seis patinhas e, com a voz embargada, contou:
- Eu fui ao hospital, minha filha. - pausou por um momento, para recuperar o fôlego. - Mas as taxas moderadoras estão para além do meu orçamento. - fez nova pausa. - E ninguém dá isenção a uma pobre e velha joaninha como eu.
- É verdade. - continuou o vizinho aranhiço. - Até fui eu que a levei ao hospital. Tentei pagar com fios de teia, mas não aceitaram. Tive de trazê-la de volta, coitadinha.
- Oh, o que vamos fazer?! - perguntou, emocionada, uma das joaninhas. - Podíamos levá-la para Cuba, mas e se ela morre pelo caminho?! E se há uma tempestade e temos de voltar para trás? Pior: e se nos cansamos durante o voo e precisamos de fazer escala na Madeira?!
Todas as outras joaninhas abanaram a cabeça. Ninguém parecia saber o que fazer. A família de joaninhas estava consternada, derrotada, patinhas para baixo e até mesmo a cor rubra dos seus dorsos aparentava, agora, estar menos viva.
Foi então que uma das joaninhas mais novas se lembrou de uma ideia:
- E se emigrássemos?! - lançou a pequenina. - Ouvi no outro dia na televisão um senhor importante a falar que devíamos todos emigrar!
- É verdade, eu também ouvi. - completou o vizinho aranhiço.
- Podíamos levar a mamã joaninha connosco. - retomou a petiza. - Escolhemos um sítio bonito, agradável, não muito longe daqui.
O resto da família, agradada pela sugestão, começou a discutir alternativas. Até a mamã joaninha, como se tivesse recuperado forças, deu alguns nomes. Após poucos minutos, a decisão estava tomada: iam voar até um jardim em Lanzarote, onde a mamã joaninha tinha uns primos, os Don Juanillos. Faltava apenas saber como transportar a mamã joaninha, fraca demais para aguentar um voo tão extenso, e foi aqui que mais uma vez o vizinho aranhiço mostrou ser prestável, pois comprometeu-se a fazer um saco de teia à medida da mamã joaninha, fácil de transportar por todas as suas filhas. Todas agradeceram o trabalho que o vizinho aranhiço teve e, assim que o saco de teia ficou pronto, puseram-se a voar. Poucos dias depois, chegaram ao jardim dos Don Juanillos, onde a mamã joaninha foi muito bem tratada e pôde passar, feliz, os últimos anos da sua vida.
Mas esta história não acaba bem. O vizinho aranhiço, que ficou no jardim onde sempre houvera vivido, começou a aperceber-se de que o jardim só ficara a perder com a migração das joaninhas. Os pulgões, que eram em número pequeno, ao verem-se livres das joaninhas, reproduziram-se incontrolavelmente, e bem depressa devoraram as flores mais bonitas do jardim. Não demorou muito para que todo o jardim da cidade, outrora belo, ficasse reduzido a mero pasto para os pulgões. O próprio vizinho aranhiço teve de abandonar o jardim quando viu a sua orquídea devorada pelos pequenos pulgões, e só a custo conseguiu sair de lá com vida. Mas, infelizmente, o vizinho aranhiço morreu não muito tempo depois, esmagado por um carro quando procurava um sítio para morar.
Moral da história: quando se obriga quem tem valor a emigrar, arrisca-se a que só fiquem cá os parasitas.
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