sexta-feira, abril 17, 2009

Ai, Obélix, a falta que me fizeste hoje...

Estou a almoçar numa cantina universitária de Lisboa. Uns metros à minha frente, um grupo de jovens estudantes toma também a sua refeição, no meio de conversas, risotas, gestos patéticos de histriões - enfim, tudo aquilo de que um adolescente é capaz. Nisto, um deles desata a imitar um javali a ser violado. Bom, não sei se era mesmo isto que o petiz queria representar, mas foi o que me veio à cabeça ao deparar com tão insuportáveis guinchos saídos da boca do infeliz.

Naturalmente, e sendo a impertinência uma das minhas características mais marcantes, não me contenho: à quinta ou sexta guinchadela, levanto-me do sítio, interrompendo assim por breves instantes a degustação do meu crepe vegetariano, chego-me ao pé da pitalhada e grito, para que todos os presentes naquele espaço ouvissem, "Ouve lá, ó meu filho da puta, se eu fosse o Obélix enfiava-te já um espeto pelo cu acima e metia-te no forno, a ver se lá dentro guinchavas! Mas como não sou, fico-me só por prometer-te um valente murro nos dentes se não calares essa goela, capisce, ó cabrãozeco?!"

Depois de uma alarvidade destas, o gajo fica fininho, fininho, e lá se cala. Volto para o meu lugar, acabo o meu óptimo crepe (se é que numa cantina universitária podemos apelidar de "óptimo" qualquer prato que nos sirvam...) e bazo, no meio de um nada comum silêncio. Já no campus, vem um professor catedrático ter comigo: "Meu caro, esteve muito bem lá atrás, embora pessoalmente não aprove por completo a sua linguagem, que parece-me dever-se menos a Pessoa do que a Bocage. Certos filólogos contestariam não a sua sintaxe, que foi perfeita, mas sim a sua semântica. Da próxima vez, tente conter-se e opte por resolver a situação de uma maneira, digamos, mais consentânea com a boa educação."

Como o senhor foi simpático, num sentido paternalista, não me viro a ele. Limito-me a responder, também simpaticamente, da seguinte forma: "Professor, com todo o respeito que lhe tenho, vá para o caralho! Aquela besta lá atrás fez por merecer o escárnio que lhe lancei. Só lamento não saber de cor as obras completas do Marquês de Sade, a ver se lhe mandava com mais vocabulário "técnico". Se o professor e os paneleirecos dos seus colegas, que só usam a língua para falar merda, não gostaram, azar do caralho. Tivessem levantado a peidinha da vossa cadeirinha e falado com o grunho utilizando o vosso protocolo e a vossa educação, a ver se ele vos entendia. Percebeu, ou tenho de mandar vossa excelência fazer broches a cavalos?"

E pirei-me. Sim, perdi a cabeça, mas que se lixe, oras. Gajos que imitam javalis à hora do almoço não merecem levar com o Sá de Miranda e sim com o Sá Leão...

6 comentários:

Inês Brito disse...

Vais ficar marcado!

Uma resposta épica, sem dúvida.

Bj,
(i)

)0( disse...

Que feitio agreste que tu tens, pá! Está-se mesmo a ver que o rapaz queria apenas animar o ambiente...

Pulha Garcia disse...

A questão - e não estou a ser irónico - é que as gerações mais jovens de hoje não levaram porrada suficiente em casa. Até podia não ser porrada física mas falta muita disciplina e correcção.

Eu quando era miúdo fiz muita merda mas: 1. sempre fui bom aluno; 2. nunca ofendi ou desrespeitei directamente a professora; 3. Assim como assim, fui frequentemente castigado, na escola como em casa, e fez-me bem.

Os pais demitem-se das suas funções e depois temos wild hogs a chafurdar...

Ilda disse...

Tanta agressividade!

Peter of Pan disse...

@Inês: achas? Mas eu nem fiz nada de especial...

@)O(: nada contra, mas um gajo que imita bestas corre o risco de apanhar com uma besta maior (no caso, eu).

@Pulha Garcia: eu também fui castigado quando pequenote, e posso dizer que não serviu de nada. Portanto, acho que não tens razão.

@Gaja: agressividade de quem? Minha ou do javali?

aninhas disse...

"mais consentânea com a boa educação"
hehehe :D

hugs and kisses :P