quinta-feira, abril 16, 2009

It's a piece of cake (que é como quem diz: é canja!)



O estatuto da canja na supostamente vasta e diversa gastronomia portuguesa é algo que não cessa de me espantar. Chego ao ponto de pensar, até, que Portugal é não o país da tanga e sim o país da canja. Porra, o país não devia chamar-se Portugal: devia chamar-se Canja! Porque aonde quer que se vá, há sempre canja. Um gajo chega a casa cansado do trabalho e o que tem para o jantar? Canja! Um gajo vai almoçar a casa dos sogros e o que lhe oferecem? Canja! Vai visitar amigos? Canja! Inimigos? Canja! Conhece duas boazonas ninfomaníacas que o convidam para casa delas e é servido com o quê? Pachacha, pois claro, mas antes disso?! Canja, como não podia deixar de ser!

O imperialismo da canja é tão, mas tão grande que é quase visto como uma panaceia. Se estamos doentinhos, obrigam-nos a comer canja. Se estamos deprimidozinhos, receitam-nos canja. Até quando acabámos de apanhar uma ganda bezana e estamos na cama a gemer com uma ressaca do caraças nos mandam com canja para cima. "Faz bem", dizem certos vultos demoníacos, e as pessoas acreditam. E quando as pessoas acreditam em tretas, perpetuam-nas e perpetuam paralelamente o sofrimento de quem tem de levar com elas. Neste caso, uma multidão de pobres coitados forçados a tomar canja.

Mais: há uma penetração semântico-semiótica da canja na linguagem do dia-a-dia. O que dizem as pessoas quando vão fazer algo que aparenta ser facílimo? Exacto: "É canja!", como quem diz "fazer esta merda é tão corriqueiro e básico com mandar abaixo uma malga de canjinha".

Há, portanto, uma espécie de "ditadura da canja" no património sopístico nacional. Só o caldo verde se lhe aproxima ligeiramente, mas mesmo assim não detém a omnipresença canjal, que se distribui com arrogante tranversalidade por todo o país. E ninguém dotado de juízo diz, por exemplo, "mandar um pontapé no cu do Sócrates? Isso é caldo verde, caraças!". Porque, de facto, o caldo verde (ou qualquer outra sopa) não tem o valor epistémico da canja.

Mas sabem o que é pior? Eu já vos digo: o pior É QUE EU ODEIO CANJA! Sim, eu não posso com a porcaria dessa sopa, com a sua massinha apaneleirada, os bocadinhos de galinha (coitada!) e aquele caldo tão líquido e enjoativo. Tanta sopa boa que se faz por aí, com mil e um ingredientes, e os chefs - sejam eles profissionais, amadores ou simplesmente caseiros - continuam a apostar na canja. Raisparta esta sociedade ignorante, pá!

4 comentários:

Ilda disse...

Acho que não tens sorte nenhuma,pois percebi que pior do que não te fazer o jantar é dar-te canja, pois por isso mm é isso que vou fazer!!! E fria, tal como a vingança!!! Arghhhhhhh!

izzie disse...

Pois é meu amigo... tu continuas a cometer o erro de dar "dicas" à tua One and Only... tsk tsk.
Mas cá eu sou uma leitora "feliz", não é que o escritor mantem a palavra? Well done!
Agora... a sério? quem diria que não gostas de canja! Mesmo?
Quase impossivel de perceber... :)

Rita disse...

Mas Peter de onde vem todo esse mau humor, estás tão chateado e enrezinado (será que é assim que se esreve esta merda?), sabes do que é que estás mesmo mesmo a precisar???? De uma malguinha de canja com dois ovinhos (ui! ca bom!). Vou fazer hoje para as Rs queres???
Jokas

Peter of Pan disse...

@Gaja: má! És má!

@Izzie: mas é verdade. Não gosto mesmo de canja. Yuk!

@Rita: não, deixa estar. Bom proveito...