Qualquer pessoa minimamente decente passa os seus dias úteis a ansiar pelo fim-de-semana, que é aquela altura em que não precisa de fazer um corno, nem de aturar patrões, ou colegas, ou clientes, nem o trânsito ou a fila para as refeições. Os fins-de-semana aparecem para o comum mortal como agradáveis oásis no meio do tormento que são os outros dias, e basta ouvir as singelas palavrinhas "sábado" e "domingo" para que a esse mortal lhe chegue um sorriso nos lábios.
Porém, há fins-de-semana e "fins-de-semana"... por vezes as coisas correm tão mal nos dias de descanso que quase suplicamos por voltar às jornadas de labuta. E foi precisamente isso que ocorreu neste último. Conhecem a lei de Murphy? Aquela coisa que diz:
"se algo pode correr mal, então de certeza correrá mal"? Pois... os meus dois últimos dias foram uma sucessão infindável de coisas que correram mal, tão mal que não poderia ser pior.
No lo creen?!?! Leiam e chorem, minha gente, leiam e chorem...
Comecemos pelo sábado.
Fui passear o cãozinho pela manhã. Tudo muito agradável, o canito estava feliz, eu estava feliz, os passarinhos que chilreavam nas árvores também estavam felizes, fazendo com que me deleitasse a observar os seus movimentos, e as nuvens estavam tão belas, e o sol tão aprazível, e os pinheiros tão cheirosos, tudo estava bem e no sítio certo...até que piso um cagalhão, olhem que merda! É uma daquelas coisas que não se percebem: como é que um gajo vai pisar um cagalhão no meio de um pinhal?! Deve ter sido algum incivilizado qualquer que ali foi passear o seu bóbi... esta gente que passeia cãezinhos devia morrer toda!
Isto foi o que me veio à cabeça enquanto deixava o Snoopito pular alegremente e me preocupava em limpar o raio do chinelo. Só que esta acção aparentemente tão simples mostrou-se um verdadeiro pesadelo. É que não sei se já tentaram limpar alguma peça de calçado no solo multicultural de um pinhal... NÃO DÁ PARA LIMPAR A PONTA D'UM CORNO!!! Após esfregar, durante vários minutos, a sola do chanato no chão, verifiquei que não só a poia não tinha desaparecido, como se tinha entranhado mais ainda, agora em união com terra, agulhas de pinheiro, bocados de pinha, larvas de mosca, umas quantas centenas de formigas e ainda resina q.b. Tudo isto gerou uma mixórdia mais resistente que cimento.
Desisti assim da limpeza, larguei o agora irremediavelmente perdido chanato, e vim para casa mais o ãoão, soltando ais e uis de cada vez que o meu pobre pé direito desnudado apanhava uma agulha de pinheiro, ou um cardo, ou uma pedra pontiaguda.
Depois deste episódio, só pensava em cair no sofá e descansar pelo resto do dia. Mas nããão... o cabrão do Murphy mais a sua lei estúpida tinham outros planos: parece que a família da gaja ia passar por casa à tarde, o que me obrigava a ir ao supermercado, a preparar comida, a arrumar mesas e cadeiras e a despir a t-shirt com a imagem de uma freira a ser violada por um bode mutante. Lá teve de ir o
je tratar destas cenas todas... Mais uma estaca que se me cravava no corpo! Três horas depois, já com tudo feito e arranjadinho, e tendo eu vestido uma t-shirt mais consensual, que mostrava uma tenista a ser violada por uma raquete, fui tentar descansar um bocadinho na companhia de dez
jolas. O problema é que a gaja já tinha colocado as garrafas na mesa, e mal assentaram no tampo da mesa, foram logo atacadas pelos sacristas dos familiares. Resultado: não sobrou uma
jolazinha que fosse para mim... nem Martini... nem Porto... nem nada! Cambada de bêbedos!
Passado este serão, e depois de tudo devidamente arrumado (o que me valeu mais uns ais e uis, sobretudo nas costas), preparei-me para o grande embate que iria verificar-se: o magnífico Sporting ia defrontar o Frutabol Clube do Porto. Animado, liguei a rádio, pois não tenho essas mariquices de SPORTTV, e pus-me à escuta. Mal tinha eu decorado o onze inicial do Zeportem, pimba, o Porto já havia enfiado um na baliza do Rui Patrício. Desliguei a merda do aparelho e fui chorar para cima da cama até à hora do Benfica-Leixões. Esperava eu por uma derrota dos lamps e eis mais outra desfeita: os jesuítas espetam cinco a zero. Que merda de dia, pensava eu, e fui-me deitar, esperando que o domingo corresse melhor.
E chegou o domingo.
O dia começou logo mal: tinha de ir votar. Pequeno-almoço tomado e bora lá cumprir o dever cívico. Quando cheguei à mesa, não tive coragem de pegar no boletim e escrever coisas como "Voto Liédson"; afinal o Ceportin tinha sido derrotado na noite anterior. Limitei-me a dobrar o raio do papel e a devolvê-lo imaculado, sem desenhar nele um péniszito que fosse.
Regressado a casa, e já com o almoço em cima, era hora de tirar a roupa da máquina de lavar e estendê-la. Foi aí que levei mais uma bala no peito: a minha outrora imaculada camisa branca estava tingida de cor-de-rosa, tudo porque alguém lá colocou um paninho daquela cor mariconça e que acabou por desbotar.
Por raiva, decidi ligar o computador e começar a fazer downloads de filmes pornográficos. Estava já o meu moral a subir (e, por antecipação, outras coisas também subiam...) quando, praticamente no fim do sacanço do Cunts for Tits III - The Revenge of the Anal Seeker, a energia cai e pás, fico sem computador, fico sem download, fico sem moral, sem tesão e sem a mínima vontade de reiniciar tudo de novo.
Contrafeito, resolvo ir para a sala acompanhar o resultado das eleições. Aí, levo mais uma machadada: o Sócrates ganha (atenção: eu não queria uma vitória da MFL. Mas também não queria que o engenheiro vencesse. Bom, na verdade o que eu desejava era que todos perdessem. Infelizmente, e tendo em conta as declarações dos dirigentes dos diversos partidos, e à semelhança do que acontece sempre, parece que todos ganharam. Até o PSD, que não ganhou, ficou contente porque consta que vai ganhar as autárquicas...). Desmotivado, espero ao menos por um prémio de consolação: que os betos do CDS/PP se vejam reduzidos à sua insignificância e fiquem atrás do Bloco e da CDU. E aqui, uma vez mais, o filho da puta do Murphy e da sua lei decidem-se a estragar-me a composição: o CDS obtém uma retumbante vitória, e eu fico a olhar para a televisão com ar de parvo. Foi a cereja no topo da bosta deste fim-de-semana...
Tudo somado, não admira que eu tenha ficado contente pela chegada da segunda-feira, para surpresa da minha gaja que não conseguia compreender os meus pulos de felicidade e os meus gritos de
"Iupi, acabou o fim-de-semana, viva!!!!"A merda é que, de tanto pular, ganhei uma bolha no pé direito que tem mais ou menos o tamanho da Austrália... e como dói, esta cabrona!