terça-feira, setembro 21, 2010

As praxes estão na rua

Todos os anos, é a mesma história: bandos de pós-púberes pintados dos cabelos aos pés, gritando cantilenas javardas, ladeados por sujeitinhos e sujeitinhas vestidos de preto, os quais lançam ordens como se fossem sargentos do exército. Olho para estas merdas e o meu sentimento anarquista de revolta vem à tona.

Recordo-me da minha primeira semana de caloiro. Uma aura de respeitabilidade envolvia-me (ainda ninguém sabia que eu era sportinguista). Contudo, isso não impediu que três veteranos viessem ter comigo:

- Olh'ó caloirito! - disseram eles, em coro. - Este caloirito ainda não foi praxado, pois não? - atirou um deles, um barbudo, para mim.
Trespassei-os com o olhar, sem dizer uma palavra, e virei-lhes as costas. Eles não desistiram.
- Olha, olha, o caloirito está armado em mete-nojo! - proferiu, de novo, o barbudo. Rodearam-me.
- Como é, pá?! Vais ou não vais ser praxado? - ameaçou o sacana do barbudo.
- Não vou. - respondi. - Têm algum problema com isso? - os três pareceram ficar surpreendidos.
- Ihhh, ca ganda mete-nojo! Ai vais ser praxado, vais! - mandou o barbudo, enquanto os outros dois anuíam.
- Ai vou?! O primeiro palhaço que se chegar a mim come nos cornos! - disse-o, levantando a voz e crescendo para os três panascas de preto. Comecei a ver que tremiam, fosse por eu, embora caloiro, ser mais velho que qualquer um deles, fosse por ter mais de 1,80m enquanto os três eram autênticos caga-tacos, fosse por utilizar uma linguagem de rua, a que a betaria da faculdade não estava propriamente habituada. E, lá está, eles não sabiam que eu era sportinguista... Continuei:
- Estão a olhar, é? Vejam lá se querem que eu vos fod@ a boca toda!...
Depois desta, eles ficaram perdidos. Entreolharam-se e recuaram. O cabrão do barbudo ainda disse, baixinho, qualquer coisa como "mete-nojo", mas afastou-se de vez, levando os dois outros estarolas com ele. Via-me livre da ameaça de praxe e, ainda por cima, este episódio depressa se espalhou, trazendo-me fama, de modos que nenhum outro veterano me incomodou. Alguns caloiros da turma viram em mim um protector e começaram a encostar-se aqui ao je. Nenhum deles foi praxado!

Um ou dois anos depois, voltei a encontrar o barbudo, que ameaçava uma jovenzinha caloira, amedrontada com a tirania dos veteranos. Cheguei-me junto dele e perguntei se não queria antes praxar-me a mim.
- Eu... eu conheço-te! - respondeu o barbudo.
- Sim. Tu e dois namorados teus quiseram praxar-me aqui há uns tempos. - fiz uma pausa , depois continuei: - Prometi fod&r-vos a boca toda se levassem a vossa avante!
- Ah, sim, pois. - limitou-se o barbudo a dizer. Baixou a cabeça para o chão. Senti, novamente, que ele ficava perdido. Faltava o K.O.:
- Põe-te a andar, e vai mas é fazer essa barba! - e foi-se embora.
Não mais voltei a ver o cabrão do barbudo.

Sempre que vejo pessoal a ser praxado, lembro-me disto. E a vontade que me dá de chegar junto dos supostos veteranos e ameaçar fod&r-lhes a boca toda...

4 comentários:

esquilinho disse...

Caga-tacos?! AHAHAHAH!

Angelik disse...

Eu fui praxada... mas não eram barbudos... eram dois palermas...mesmo!

Cátia Gomes disse...

Onde estavas quando eu andava na faculdade?

Daniela. disse...

e do que estás à espera?