quarta-feira, setembro 08, 2010

Contentarmo-nos com o mal dos outros: subsídios para um estudo

"Com os males dos outros posso eu bem", já diz a sabedoria popular (expressão que, por vezes, roça a contradição. Como podemos dizer que é sábio um povo que gostou tanto do Sócrates que votou nele por uma segunda vez?!?!). Tirando talvez Jesus Cristo, o Gandhi, a Madre Teresa de Calcutá e a selecção portuguesa, não conheço mais ninguém que só queira o bem dos outros. O que é normal, e humano, demasiado humano, é desejarmos que os outros se lixem, e ficarmos felizes quando isso acontece.

Eu, por exemplo, passo várias horas por dia a desejar que o Cavaco Silva corte a artéria carótida enquanto faz a barba e fique por ali, a esvair-se em sangue. Outras vezes, rezo para que o Pinto da Costa caia num buraco com 15 metros de profundidade, parta as duas pernas e fique 2 dias seguidos a gritar por ajuda, ao fim dos quais um vendedor de fruta deixará cair um caixote que cairá bem em cima dos cornos do Pintinho, tirando-lhe a vida.

E se pensam que só quero o mal a figuras públicas, desenganem-se. O meu sadismo vai ainda mais longe no que toca aos anónimos, às pessoas comuns de todos os dias. O meu desejo quando, por hipótese, um cabrão deixa um carro estacionado em segunda fila bloqueando a saída do meu, é vê-lo ser passado a ferro por um camião quando se dirigir à sua viatura. E - vejam lá até onde pode ir o meu maquiavelismo -, no momento em que ele, estrebuchando no chão, suplicasse por uma ambulância, eu chegaria junto dele com o meu telemóvel ligado, colocá-lo-ia no seu ouvido e diria apenas, fleumaticamente: "Liguei para a Telepizza. O funcionário está a enumerar os ingredientes. Queres escolher um ou dois, ou vais ficar aí colado ao chão a olhar para as tuas tripas de fora?!".

Porém, há dias em que estou mais simpático, em que estou mais feliz comigo mesmo, em que sou todo paz e harmonia. Hoje, pelos vistos, é um desses dias. Daí que, quando um panasca qualquer rompe pelo meio da multidão, abalroando velhinhas e crianças, para chegar mais depressa à cancela da estação dos comboios, e ao tentar passar o bilhete aquela merda lhe devolve um sonoro "PIPIPIIIIII" e mantém a cancela fechada, eu, em lugar de desejar que a cabeça lhe explodisse ali mesmo, lançando pedaços de crânio em todas as direcções e, no fim, que aparecesse um pitbull terrier que, vá lá, qual é a expressão adequada, ah, já sei, "fizesse amor" com o buraco que surgisse daquele rebentamento, apenas cheguei junto do palhaço, infelizmente ainda com a cabeça presa ao resto do corpo, ri-me na cara dele e lancei, de forma a ser ouvido por todos os que ali estavam, um "Que estúpido, este otário. Veio com muita sede ao pote, e lixou-se. Bem feito. E olhem ali um pitbull terrier!".

Depois vi-me embora, passando sem problemas pela cancela, e fiquei convicto de que hoje sou uma pessoa melhor.

1 comentário:

Rafeiro Perfumado disse...

És mau, pá. Mas para estares a escrever isto, vejo que a tua jove ainda não viu o post das bombas atómicas e nucleares.

Ó jove do Peter of Pan, chega aqui!!!! IUUUU UUUUUUU!!!!