Pá, não pode ser! Mas é: nos últimos dois dias, tenho sido exposto a uma lavagem cerebral que tem como único objectivo transformar-me num homossexual. E o pior é que conheço a pessoa responsável por tal: trata-se da minha gaja!
Primeiro, veio com uma conversa esquisita: "Amorzinho, não queres gravar-me um cd com músicas giras?". Eu fiquei logo de pé atrás com aquele "um". E também com o "com". Mas sobretudo por causa do "músicas giras", pois uma música gira, na óptica da minha gaja, nada tem a ver com guitarras distorcidas, vozes urradas, baixos gravíssimos e baterias poderosas, ou seja, tudo aquilo que faz, objectivamente, com que uma música seja gira. E perguntei: "Mas músicas giras, tipo o quê?". Ela deu-me a lista, e a lista incluía algumas das canções mais rebentadoras da escala José Castelo Branco gravadas por artistas rebentadores da escala Cláudio Ramos que a Humanidade jamais conheceu. Para não vos chocar muito, mas só um bocadinho, deixo uns poucos exemplos: Don't Leave Me This Way, pelos The Communards. I Feel Love, pelos Bronski Beat. Faith, pelo George Michael. Estão a ver o padrão, não estão? Exacto: muita lantejoula, muito latex, muito rosa-choque pintalgado de lilás.
Eu não gosto das músicas, nem dos artistas, mas é impossível ouvir estas coisas (e eu, para confirmar que as faixas estão em bom estado, tenho de ouvi-las)* e não ser de alguma forma afectado. Por exemplo: ontem, enquanto fazia a sopa, não pude deixar de pensar no que aconteceria se enfiasse uma das courgettes no esfíncter do Teixeira dos Santos, com o Eduardo Catroga, todo vestido de cabedal preto, a assistir. Aposto que jamais imaginaria tal cena se não tivesse estado a ouvir, cerca de 15 minutos antes, a Karma Chameleon dos Culture Club (a banda daquele gajo muito amigo do traseiro, o Boy (???) George).
Portanto, o que a gaja fez não foi mais do que começar a abrir a minha sepultura gay. À conta de andar a procurar cançonetas abichanadas, fiquei a sentir-me um pouco bicha. Comecei a olhar-me ao espelho e, sem razão aparente, a pentear-me. Para terem uma ideia do quão insólito é este facto, não me penteava desde os meus 6 anos, quando fui a um casamento, e só me penteei dessa vez porque a minha mãe ameaçou-me com açoites no rabo caso não o fizesse. Ah, belos tempos aqueles em que eu receava que me batessem no rabo... é que um tipo, depois de ter escutado umas três vezes a A Little Respect dos Erasure, já não vê assim com tão maus olhos a ideia de lhe baterem no rabo!
O último prego no caixão mariconço que me espera, no entanto, foi dado ontem à noite. Sim - adivinharam -, pela minha gaja. Estava eu a fazer zapping, ao mesmo tempo que trauteava a Take On Me dos A-Ha, e dou com a Sic Radical a passar duas gajas todas nuazinhas a lamberem-se uma à outra. Caramba, não podia desejar melhor antídoto para a rabichisse que me invadia do que aquele! Bastaria ter ficado a ver aquilo para que os estragos feitos por horas e horas de exposição a pop larilonça se esfumassem de vez. Mas, e vejam só até onde pode ir a crueldade viperina de uma mulher, a minha gaja assim não quis. Quando reparou que eu estava, finalmente, a cultivar a minha heterossexualidade, decidiu-se logo a cortar o bem pela raiz: vá de pegar no comando e puft!, lá se vão as mamas roçando em mamas que a Sic Radical transmitia. Automaticamente, veio à minha cabeça o refrão da Take On Me, e tive também a impressão que a minha queda definitiva para o lado negro da força, para o lado dos Liberaces da vida, está por um fio. E isto, caríssimos amigos, é uma tragédia.
Agora tchauzinho, vou pôr ali umas colunas no meio do escritório e abanar-me um bocadinho em cima delas ao som da You Should Be Dancing, dos Bee Gees...
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* Sim, é esta a razão. Ai de vocês se insinuam que oiço aquelas tretas porque, no fundo, eu gosto é de soltar a franga, e o meu fascínio por heavy metal é só conversa fiada destinada a esconder a realidade profunda: eu queria era estar no Blue Oyster Bar a dançar tango e disco-sound com marinheiros!