quinta-feira, janeiro 31, 2013

Conversa de velho: os interesses das novas gerações

Basta passar por qualquer lugar onde os adolescentes e os jovens adultos se reúnem para perceber: nada é como dantes. As roupas e os modos são diferentes do meu tempo. Mas mais diferentes são as conversas e os interesses. E isto choca, porque eu quando ouço um grupo de indivíduos dos seus 17 a 22 anos na galhofa, sinto-me velho, muito velho. Porque aquilo de que eles falam nada tem a ver com aquilo de que eu e os meus pares falávamos aquando dos nossos ajuntamentos. Basicamente, as novas gerações falam de nerdices. Sim, nerdices. É o telemóvel para aqui, é o tablet para ali, é o televisor com LCD e a ligação a montes de canais dos quais eles não vêem porra nenhuma, porque preferem estar ligados à Internet a jogar Diablo III e merdas desse género. Nada a ver, portanto, com as conversas saudáveis que a minha geração era capaz de manter, e que NUNCA andavam à volta de nerdices e sim em torno de três assuntos quase sempre presentes, a saber:

1 - BOLA. Falar de bola era inevitável, em particular nos encontros que se desenrolavam às segundas-feiras. Os comentários à jornada que tivera lugar no fim-de-semana anterior eram, muitas vezes, acesos. Mas tudo de uma forma inteligente e salutar, desde que não se ultrapassasse a fronteira da decência. Por exemplo, quem resolvesse, no meio da discussão sobre um Sporting - Boavista, falar da responsabilidade do primeiro-ministro Cavaco Silva na decadência dos relvados portugueses, era logo cilindrado com um paralelepípedo nos cornos. Sim, pode-se cilindrar com um paralelepípedo, não venham cá com tretas, querem ver que vocês são todos uns geómetras, não?!

As gerações hodiernas já não têm disto. Se falam de bola, é só sob pretexto. Por exemplo: "Ih, ó Zuca, viste a joga de ontem? Não?! Então eu mostro-te os principais lances aqui no meu smartphone. Já conheces as características do meu smartphone? Não? Então, tem [DESCRIÇÃO CENSURADA PELO AUTOR DESTE BLOGUE]".

2 - MAMAS. Se havia assunto que nos levantava o moral, e aqui moral não é metáfora para órgão sexual, esse assunto eram as mamas. Mamas, pá. Havia sempre que falar em mamas. As mamas das nossas profes. As mamas das nossas colegas. As mamas das nossas vizinhas. Adolescente e jovem adulto que era adolescente e jovem adulto andava sempre com conversas de mamas. E havia toda uma fenomenologia associada, pois nós abordávamos as mamas de vários pontos de vista. Eram os bicos, que podiam ser assim e assado, eram as curvinhas, eram os lados, eram as suas respostas ao toque e ao paladar, enfim, tudo o que pudesse caber debaixo da apreciação da mama na óptica do utilizador era abordado. Sem pudores e sem subterfúgios.

Uma vez mais, as gerações hodiernas já não têm disto. Se falam de mamas, é só sob pretexto. Por exemplo: "Ih, ó Cajó, topa-me as mamas desta garina aqui no meu tablet de [DESCRIÇÃO CENSURADA PELO AUTOR DESTE BLOGUE]. Mesmo fixe, iá?! O bacano do fotógrafo manda memo bué no Photoshop, parece eu quando retoquei as fotos do [HISTÓRIA DA TRETA CENSURADA PELO AUTOR DESTE BLOGUE]".

3 - EMPIRISMO INGLÊS. Se não estávamos a falar de mamas ou de futebol, o que era raríssimo, acrescento, as nossas conversas elevavam-se um poucochinho para dissertarmos sobre a importância das concepções de um Locke, de um Berkeley, de um Hume. Dialogávamos sobre a possibilidade de virmos todos ao mundo como tábuas rasas, e era a negação desta possibilidade, ou seja, o facto de nós já nascermos a saber umas merdas, que utilizávamos como argumento para nos baldarmos às aulas, aproveitando assim tempo precioso para jogar à bola e ver revistas de mamas.

Repetindo-me, as gerações hodiernas já não têm disto. Nunca as ouvi falar sobre empirismo inglês. Quanto muito, fazem uma ou outra alusão ao idealismo alemão, mas só naquela. Por exemplo: "Ih, ó Mané, curtiste o video do Youtube que te mandei ontem com um bacano a dropar uns vagalhos e que parecia o Kant a criticar as aspirações metafísicas da razão humana? Aquela cena, tipo, tinha buéda likes. Fui eu que filmei com a minha máquina de [REFERÊNCIAS ESTÚPIDAS A MEGAPÍXEIS E O CARAÇAS CENSURADAS PELO AUTOR DESTE BLOGUE]".

Tudo isto dá pena, é o que vos digo. Tudo isto dá pena. E fazem-me sentir velho...

1 comentário:

Rafeiro Perfumado disse...

Só não percebi o que é que tens contra malta que joga Diablo III...