terça-feira, dezembro 27, 2005

São as máquinas irremediavelmente não-inteligentes?

Será que alguma vez vamos conseguir criar uma coisa que seja artificialmente inteligente? O que seria uma tal coisa? Teria ela um sentimento de si? E vontade própria? Porque é que a nossa reacção imediata é pensar (ou pelo menos desejar), "não"? Talvez a resposta para a última pergunta seja: porque queremos ser especiais e ter um estatuto único entre as coisas que são. Tudo bem, não vejo nada de mal em pensar que somos mais do que uns agregados de matéria. Mas a que custo podemos dizer que somos coisas especiais? Como justificar a posse de um tal estatuto? Considerada a partir deste ângulo (pensando na questão como uma interrogação acerca do que nos define enquanto humanos) a reflexão filosófica em torno da questão da inteligência artificial não pode deixar de constituir uma actividade cheia de interesse filosófico. Na realidade, julgo que é possível colocar grande número de questões filosóficas a partir da perspectiva da inteligência artificial.
Para quem ficou escandalisado com a última afirmação, devo esclarecer que a frase não está a insinuar que vão ser uns gajos de bata branca quem vai responder a todas as questões filosóficas, deixando os gajos que fumam cachimbo sem nada para fazer. O que me parece é que a interrogação acerca da possibilidade da inteligência artificial, fornece uma perspectiva a partir da qual podemos pensar um grande número de problemas filosóficos (A ideia não é muito diferente se pensarmos em termos de plantas; vejam a questão "o que é que nos distingue de uma máquina?" como análoga a "o que é que nos distingue de uma couve?").
Consideremos alguns exemplos:
No filme "2001, Odisseia no Espaço", Hal, o computador que controla a nave, é ou não culpado da morte dos tripulantes?
Kaspararov foi derrotado pelo Deep Blue: podemos dizer que o computador foi mais inteligente do que o homem?
Uma máquina de calcular "pensa" diferentemente de mim, quando dá o resultado de uma operação aritmética simples (2+3=5, por exemplo)?
Admitindo que interpretar uma peça musical é mais do que um exercício mecânico, porque razão é que é mais do que um exercíco mecânico? Porque é que uma máquina nunca poderá ser um intérprete de renome?
Mais uma vez, não me parece mal pensar que estas perguntas não fazem sentido. O que me parece mal é não explicar porque é que elas não fazem sentido. E se fazem sentido, não é um desafio filosoficamente relevante procurar respostas para ela? Não poderá um tal actividade ser útil para a compreensão daquilo que nós somos?
Só para acabar, devo confessar que eu não sei nada destas coisas (nota-se, não é?), portanto se vos der para pensar nelas, não me venham com perguntas. Quem sabe é o Dennett e se quiserem Dennett, sugiro que vejam uma entrevista com ele que está aqui e que leiam outra que está aqui. Se quiserem saber tudo sobre a vida do gajo e ficarem muito irritados por ouvirem falar de um tipo que parece só ter virtudes, leiam aqui.
Cão

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