sexta-feira, março 28, 2008

Do Amor Enquanto Pirosice: curto ensaio

O amor é uma pirosice. Não uma pirosice kitsch, caso em que seria cool e dotado de uma certa classe, mas sim uma pirosice – desculpe-se-me a redundância, “pirosa” e fatela (“fatela” também é uma palavra pirosa como o caraças!). Se houvesse uma lei a punir atentados de pirosice - e infelizmente não há -, os enamorados seriam os primeiros a ir a tribunal, juntamente com o novo penteado do Miguel Veloso e as orelhas de abano do José Rodrigues dos Santos.
Se pensam que estou a exagerar, questiono: quem nunca se sentiu enojado e, até, atingido na sua compostura, ao passar por um casal de apaixonados? Eu já, e tenho certeza de não ser o único! Observar, mesmo que por breves segundos, um casalinho a soltar suspirinhos, dar miminhos, abracinhos e beijinhos, trocar carinhos e conversazinhas sempre com os termos no diminutivozinho (amorzinho(a), lindinho(a), fofinho(a), etceterazinho…) tem o mesmo efeito que engolir uma garrafa de litro e meio cheia até ao cimo com óleo de fígado de bacalhau: fica-se automaticamente com vontade de correr até à casa de banho mais próxima para esvaziar o estômago.
No fundo, o amor é uma autêntica gesamtkunstwerk da piroseira: exibe lamechice a torto e a direito, áudio-visualmente, espalha sentimentalismo sem sequer pedir licença, faz-se acompanhar de uma imagética que é do mais reles possível (ele é – e sempre no diminutivo, claro – as florzinhas, as borboletazinhas, os passarinhos, as corzinhas do arco-írizinho, mais um longo etceterazinho…) e, mais nefasto ainda, provoca efeminização: às gajas, torna-as mais “gajas” ainda (ou seja, ficam virtualmente insuportáveis), e aos gajos, torna-os mais sensíveis (ou seja, ficam virtualmente gays). Ora, ao aglutinar em si tantos elementos pirosos, o amor constitui-se em autêntico flagelo social, pois transforma pessoas activas e produtivas em coisas amorfas e apáticas, assim tipo a defesa do Sporting. E não é indivíduos desses que queremos numa sociedade moderna e dinâmica, não queremos pessoas a soltar, de 10 em 10 segundos, um “aiai, tão apaixonado(a) que estou”, já que tal comportamento prejudica o bom funcionamento do mundo. E é piroso, claro está, como penso ter ficado suficientemente demonstrado.
Sendo assim, aconselho o fim imediato do “make love, not war”. Este mandamento, aliás, não passa de um devaneio hippie, e o movimento hippie foi, desde o seu início, talvez a manifestação cultural mais pirosa que jamais existiu, mais até que as músicas do Mika. Ao menos, a guerra não é pirosa. Pode ser horrível, mas pirosa, nunca. Não vemos, por exemplo, os soldados norte-americanos no Iraque a exclamar, para um shiita qualquer, “Ó meu terroristazinho, vem cá para eu te dar um tirinho”! A guerra é cool e faz de nós uns homens, mesmo que acabemos em cadáveres. Já o amor… bem, o amor chupa-nos o sangue da vida e deixa-nos iguais à Margarida Rebelo Pinto. Pirosos, portanto! Enfim… deixemo-nos disso.



Tanis

(em colaboração com I. C., a pirosa)

2 comentários:

Ilda disse...

Adorei o ensaio meu pirosinho!!! E agora podia até exemplificar com umas pirosices mas prefiro deixar isso para depois qdo me encontrar contigo! :)

Anónimo disse...

Ficarás mais descansado se pensares que todas essas piroseiras e etc... que referes, são apenas formas disfarçadas (um atalho, portanto)de se anteverem accões bastantes productivas e activas...
Mj