quinta-feira, junho 19, 2008

Acerca do Portugal-Alemanha de hoje, uma dúvida

Por quem torcerão os nossos caros neo-nazis?! É que, hoje, eles estão perante um dilema de proporções gravíssimas, pior do que o exército alemão quando se viu a enfrentar, simultaneamente, os Aliados na frente ocidental e os soviéticos na frente oriental. Um neo-nazi digno desse nome apoiará Portugal, estou certo, porque a sua veia ultra-nacionalista e patriótica assim o exige. Porém, o mesmo neo-nazi apoiará a Alemanha, uma vez que é do país dos teutões que retira não só a sua inspiração ideológica, como ainda todo e qualquer motivo estético-artístico, por exemplo, as tatuagens com suásticas, os pins com o logótipo das SS, e por aí.
Bem sei que, no nosso país, os neo-nazis não abundam, mas como sou alguém preocupado com as minorias (1), não consegui evitar que esta dúvida irrompesse no meu espírito. Como descalçará um neo-nazi aquela bota tão habituada a pontapear cabeças de angolanos? Já estou mesmo a ver o filme: se Portugal perder, o neo-nazi ficará inconsolável, culpará o treinador brasileiro inferior e os estrangeiros miscigenados que actuam na selecção (Bosingwa, Pepe, Deco, Nani...), colocará a bandeira portuguesa sobre o corpo, cantará a Portuguesa e dará um tiro nos cornos; se a Alemanha perder, o neo-nazi ficará inconsolável, culpará Israel e os estrangeiros miscigenados que actuam na selecção (Kuranyi, Klose, Podolsky, Odonkor...), colocará a bandeira alemã sobre o corpo, cantará a Deutschland über Alles e dará um tiro nos cornos.
Pobres tipos... compadeço-me neste dia que lhes será tão doloroso!

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(1) Este pormenor levanta outra questão não menos importante: de que lado se situam os bloquistas em relação aos neo-nazis? Se os bloquistas estão politicamente nos antípodas do nacional-socialismo, não é menos verdade que a extrema-direita continua a ser uma ideologia minoritária em Portugal, e o Bloco sempre se mostrou apoiante das minorias... Como é, então? (Há pouco, perguntei isto na rua a um bloquista; ele olhou para mim, disse "não sei, porra", sacou de um charro e foi-se embora. Alguém, por favor, faz chegar esta minha dúvida ao Francisco Louçã?)

1 comentário:

Rafeiro Perfumado disse...

Para eles torcerem por alguém era preciso que conseguissem raciocinar...