Não sei se sabem, mas penso que sim, que um lunático qualquer previu o fim do mundo para as 15 horas da passada sexta-feira. Bom, ou o relógio do mundo está atrasado, ou então o profeta enganou-se. Enganou-se e enganou-me a mim também, o cabrão! Eu, um céptico de primeiríssima água, desta vez deixei-me levar, pois os sinais eram muito fortes e inequívocos: crise internacional, Paulo Portas de novo no governo, Kadafi morto, o Sporting a jogar bem e a ganhar jogos... face a isto, não me parecia nada improvável que o mundo desse mesmo o badagaio às 15 horas do dia 21 de Outubro, tal como previsto por Harold Camping, o tal pastor evangélico que é também profeta lunático (aren't they all?!?).
Confrontado com a proximidade do apocalipse, fiz aquilo que qualquer pessoa faria perante o anunciado fim do mundo. Enfim, já todos vimos filmes do género, já todos lemos coisas semelhantes, e eu não me distancio em nada do comportamento dos protagonistas de tais histórias: pus-me a fazer, nas minhas prováveis últimas horas de vida, tudo aquilo que nunca havia feito. Comecei, pois, por me baldar ao trabalho, aproveitando os meus primeiros momentos de folga forçada para violar meia dúzia de gajas boas. Depois, violei mais uma dúzia. Eram 10 horas de sexta feira e ainda faltava bastante para o armagedão. Num ápice, li os sete volumes do Em Busca do Tempo Perdido, do Marcel Proust, e perdi de facto o meu tempo, pois não percebi nada e deveria ter, em vez disto, violado mais gajas. Apanhei um avião, fui até ao Aeroporto Sá Carneiro, roubei um táxi, assaltei um banco e fui até ao Estádio do Dragão onde, sem ser visto, consegui urinar bem no meio do relvado. Depois voltei ao aeroporto, violei uma hospedeira e regressei a Lisboa. Era agora meio dia, e ainda tinha muito para fazer. Com o dinheiro conseguido do assalto, comprei um iPad; saquei um filme porno, pu-lo a rodar, meti o som no máximo e abandonei o iPad junto à entrada da Sé de Lisboa, roubei mais um táxi, acelerei até ao Centro Cultural de Belém e violei a colecção Berardo em 10 minutos.
Por esta altura, já estava cansado, embora ainda faltassem 2 horas para o fim do mundo. Resolvi então, só pela ironia da coisa, ir à embaixada dos EUA solicitar a cidadania norte-americana. Como eles também acreditavam que o mundo iria acabar, deram-ma sem delongas, e ainda pude aproveitar para violar a tipa da recepção. Satisfeito, saí e com o sabor doce que só a impunidade total dá, fui para casa esperar o eclipse da vida enquanto via a cassete VHS dos 7-1 que o Sporting espetou aos lampiões.
Chegaram as 3 horas. E eu: "é agora! Ah, se a gaja, em vez de estar a trabalhar, estivesse aqui comigo, ainda a violava!" Na sua ausência, quis violar as gatas, mas elas estavam a marimbar-se para o fim do mundo e andavam à caça de passaritos. Emborquei então meia garrafa de uísque, de penálti. Já passava um minuto. Enfim, até o apocalipse poderia atrasar-se, a pontualidade é uma coisa que não toca a todos. Para combater a tensão, mamei meia garrafa de vodka. Passavam agora 4 minutos das 15 horas. Olhei lá para fora, e tudo parecia normal, se é que algo pode parecer normal a um alcoolizado. Não se ouviam metralhadoras a disparar, bombas a cair, pessoas mutiladas a gritar; os céus não ribombavam, a terra não tremia, e até os meus intestinos estavam calmos. Comecei, pela primeira vez, a desconfiar que tudo não tinha passado de um embuste. "Querem ver", pensava para comigo, "que isto de profetas religiosos a marcarem a data do fim do mundo, afinal, é uma tanga parecida com aquelas dietas de emagrecimento das televendas?!?!" Se de facto fosse assim, se o mundo não iria acabar, então o problema não era o de o mundo acabar, mas de saber onde iria este mundo parar quando já nem as profecias acertam!
Meia hora após as três, já eu me encontrava em profunda depressão. Fui enganado, e senti que tudo o que havia feito nessa sexta feira, afinal, tinha sido em vão. Para quê violar gajas atrás de gajas, cometer crimes impunemente, fazer trinta por uma linha quando, afinal, o mundo não vai ao ar?! Senti-me, por uns breves momentos, um Dominique Strauss-Kahn, e não deveria ser esse o espírito de alguém que aguarda o seu fim. E o que eu iria fazer com a cidadania norte-americana, pedida num momento de euforia apocalíptica, no fundo a minha maneira muito camusiana de dizer, enquanto vigoroso anti-americano que sou, que o mundo e a vida não passam de um absurdo?! Acrescentado a tudo isto, há que considerar ter-se perdido todo um espectáculo cuja beleza deveria ser única: explosões, destruição, mortes e afins, mas a acontecer mesmo em vez de ser num filme do Michael Bay.
Agora estou para aqui, consumido em remorsos. Remorsos por ter cometido várias injúrias e ter de viver com elas, quando teria sido muito mais fácil, eticamente falando, romper com todas as barreiras e quinar logo a seguir graças ao apocalipse. Há coisas de que não me arrependo, como urinar no Estádio do FCP, ou violar mulheres, mas ler o Em Busca do Tempo Perdido e deixar um iPad na Sé de Lisboa são coisas que me atormentam. Podia, hoje, estar com um iPad...
E, claro, sinto remorsos por ter sido intrujado, pois isto é, em última instância, também o reconhecer de uma culpa minha. Culpa por ter sido tão crédulo. Da próxima vez que o mundo acabar, não vou estar nem aí. A ver se aprendo...
Confrontado com a proximidade do apocalipse, fiz aquilo que qualquer pessoa faria perante o anunciado fim do mundo. Enfim, já todos vimos filmes do género, já todos lemos coisas semelhantes, e eu não me distancio em nada do comportamento dos protagonistas de tais histórias: pus-me a fazer, nas minhas prováveis últimas horas de vida, tudo aquilo que nunca havia feito. Comecei, pois, por me baldar ao trabalho, aproveitando os meus primeiros momentos de folga forçada para violar meia dúzia de gajas boas. Depois, violei mais uma dúzia. Eram 10 horas de sexta feira e ainda faltava bastante para o armagedão. Num ápice, li os sete volumes do Em Busca do Tempo Perdido, do Marcel Proust, e perdi de facto o meu tempo, pois não percebi nada e deveria ter, em vez disto, violado mais gajas. Apanhei um avião, fui até ao Aeroporto Sá Carneiro, roubei um táxi, assaltei um banco e fui até ao Estádio do Dragão onde, sem ser visto, consegui urinar bem no meio do relvado. Depois voltei ao aeroporto, violei uma hospedeira e regressei a Lisboa. Era agora meio dia, e ainda tinha muito para fazer. Com o dinheiro conseguido do assalto, comprei um iPad; saquei um filme porno, pu-lo a rodar, meti o som no máximo e abandonei o iPad junto à entrada da Sé de Lisboa, roubei mais um táxi, acelerei até ao Centro Cultural de Belém e violei a colecção Berardo em 10 minutos.
Por esta altura, já estava cansado, embora ainda faltassem 2 horas para o fim do mundo. Resolvi então, só pela ironia da coisa, ir à embaixada dos EUA solicitar a cidadania norte-americana. Como eles também acreditavam que o mundo iria acabar, deram-ma sem delongas, e ainda pude aproveitar para violar a tipa da recepção. Satisfeito, saí e com o sabor doce que só a impunidade total dá, fui para casa esperar o eclipse da vida enquanto via a cassete VHS dos 7-1 que o Sporting espetou aos lampiões.
Chegaram as 3 horas. E eu: "é agora! Ah, se a gaja, em vez de estar a trabalhar, estivesse aqui comigo, ainda a violava!" Na sua ausência, quis violar as gatas, mas elas estavam a marimbar-se para o fim do mundo e andavam à caça de passaritos. Emborquei então meia garrafa de uísque, de penálti. Já passava um minuto. Enfim, até o apocalipse poderia atrasar-se, a pontualidade é uma coisa que não toca a todos. Para combater a tensão, mamei meia garrafa de vodka. Passavam agora 4 minutos das 15 horas. Olhei lá para fora, e tudo parecia normal, se é que algo pode parecer normal a um alcoolizado. Não se ouviam metralhadoras a disparar, bombas a cair, pessoas mutiladas a gritar; os céus não ribombavam, a terra não tremia, e até os meus intestinos estavam calmos. Comecei, pela primeira vez, a desconfiar que tudo não tinha passado de um embuste. "Querem ver", pensava para comigo, "que isto de profetas religiosos a marcarem a data do fim do mundo, afinal, é uma tanga parecida com aquelas dietas de emagrecimento das televendas?!?!" Se de facto fosse assim, se o mundo não iria acabar, então o problema não era o de o mundo acabar, mas de saber onde iria este mundo parar quando já nem as profecias acertam!
Meia hora após as três, já eu me encontrava em profunda depressão. Fui enganado, e senti que tudo o que havia feito nessa sexta feira, afinal, tinha sido em vão. Para quê violar gajas atrás de gajas, cometer crimes impunemente, fazer trinta por uma linha quando, afinal, o mundo não vai ao ar?! Senti-me, por uns breves momentos, um Dominique Strauss-Kahn, e não deveria ser esse o espírito de alguém que aguarda o seu fim. E o que eu iria fazer com a cidadania norte-americana, pedida num momento de euforia apocalíptica, no fundo a minha maneira muito camusiana de dizer, enquanto vigoroso anti-americano que sou, que o mundo e a vida não passam de um absurdo?! Acrescentado a tudo isto, há que considerar ter-se perdido todo um espectáculo cuja beleza deveria ser única: explosões, destruição, mortes e afins, mas a acontecer mesmo em vez de ser num filme do Michael Bay.
Agora estou para aqui, consumido em remorsos. Remorsos por ter cometido várias injúrias e ter de viver com elas, quando teria sido muito mais fácil, eticamente falando, romper com todas as barreiras e quinar logo a seguir graças ao apocalipse. Há coisas de que não me arrependo, como urinar no Estádio do FCP, ou violar mulheres, mas ler o Em Busca do Tempo Perdido e deixar um iPad na Sé de Lisboa são coisas que me atormentam. Podia, hoje, estar com um iPad...
E, claro, sinto remorsos por ter sido intrujado, pois isto é, em última instância, também o reconhecer de uma culpa minha. Culpa por ter sido tão crédulo. Da próxima vez que o mundo acabar, não vou estar nem aí. A ver se aprendo...
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