sexta-feira, novembro 20, 2009

O dia em que descobri o sentido da vida através de um salmão grelhado

Olá, olá, bom dia, bom dia. Começo por dar a resposta ao enigma colocado ontem. Era fácil: tratava-se mesmo de O Rei Pescador, esse grande filme desse grande génio que pertenceu aos grandes Monty Python, o grande Terry Gilliam. Quem nunca viu, deverá fazê-lo assim que possa, pois é realmente um extraordinário momento de cinema, com duas grandes prestações (Jeff Bridges e Robin Williams) e uma história tocante e delirante. É um dos 10 filmes da minha vida, e dizer isto equivale a apôr-lhe o melhor selo de qualidade do mundo, que é o selo de qualidade Peter of Pan.

Hoje não há passatempo, porque não me apetece andar a procurar imagens pelo Google, e também não vou falar daquela vez em que quase fui molestado por um lémur de Madagáscar porque não tenho tempo. Vou, em vez disso, narrar-vos a conversa que tive, anos atrás, com uma posta de salmão grelhado.

Era eu ainda um jovem estudante quando, ao fazer uma noitada de estudos, fui surpreendido por um chamamento na cozinha:

- Pssst. Pssst, eh, tu aí.
Mas eu não fazia ideia de quem me chamava. O que não impediu o chamamento de continuar:
- Eh, psst. Ó tu, com cara de parvo! Sim, tu!
Virei-me para um lado e para o outro. Na cozinha, não se via vivalma. Só lá estava eu e uma posta de salmão grelhado, que tinha deixado de fora para comer daí a um bocado.
- Ó minha besta - prosseguiu a voz - Aqui em baixo, pá!
Foi então que percebi de onde vinha o apelo. Era, efectivamente, da posta de salmão. Não é que eu ficasse excessivamente surpreendido, pois já me aconteceram coisas bem mais esquisitas, mas não pude deixar de mostrar alguma perturbação:
- Quéisto, um salmão que fala?! Hoje nem sequer bebi nada... - falei, mais para mim do que para o salmão.
- Shht, cala-te, rapaz - disse, arrogante, a posta - Tu não estás ébrio. Eu falo. E falo porque tenho muito para dizer. - concluiu o bocado de peixe.
O facto de haver um salmão falante era intrigante, mas mais era ele ter efectivamente algo para dizer. Do que se trataria? O que poderia um salmão argumentar que posse minimamente relevante?
- Rapaz - retomou, calmamente, no seu tom de salmão, o salmão - o que tenho para comunicar é o sentido da vida. Sabes qual é o sentido da vida?
Eu, que pensava no sentido da vida desde os meus seis anos de idade, tinha resposta para ele:
- Pá, a vida não tem sentido. Isso porque a vida não é um ponto de chegada e sim um ponto de partida. Não podes dar sentido a uma coisa no início. Isso é batota! O sentido é construído à medida que se caminha o caminho. E além do mais, tu és uma posta de salmão. O que é que podes dizer sobre o sentido da vida?
- Puto - respondeu-me o salmão - 'Tá calado. Abaixa a bolinha, que eu estou aqui para falar de coisas importantes.
Este salmão era de facto muito arrogante. Devia estar armado em dourada. E não parou:
- Se eu digo que conheço o sentido da vida, é porque conheço o sentido da vida. Eu estive lá! Eu vi! Eu vivi! Eu reflecti! E dei uso às barbatanas. E sei que a vida tem um sentido.
- Ah sim? - retorqui eu, cada vez mais indignado com a jactância de uma mera posta de peixe - Então e qual é ele, ó espertalhão?!
- O sentido da vida é voltar ao rio em que nasceste e aí procriar e deixar descendência, para que as vidas futuras possam renovar aquilo que tu um dia fizeste. - pausou um pouco, para deixar que as palavras fizessem efeito, e retomou a conversa - E isto prova que o Aristóteles estava errado. - concluiu.
Absorvi a sabedoria do salmão, raciocinando naquelas palavras. Poderia ser efectivamente esse o sentido da vida? Regressar ao rio? Mas e quem não nasceu num rio? Eu não nasci. Como é que, então, poderia voltar ao rio em que não nasci e aí procriar e gerar novos eus? Estaria o salmão a falar a sério? Ou toda aquela mensagem não passava de uma metáfora? Seria o rio o símbolo de algo? E se sim, do quê?
Pensei, pensei, pensei, enquanto olhava para o salmão, agora sereno após me ter generosamente comunicado o sentido da vida. Pensei mais. Olhava o salmão. Pensei mais ainda. E de novo olhava o salmão. Pensei tudo o que podia ter pensado, e olhei o salmão até onde podia ter olhado, até que me deu a fome e o comi. E assim acabou a história. Não descobri se aquele era mesmo o sentido da vida, mas posso dizer que aquela posta, regadinha com um niquinho de azeite, estava uma delícia.

Bom fim-de-semana a todos.

[E o contador assinala: 4 dias sem falar em futebol, mamas, cus ou grelos]

2 comentários:

Isobel disse...

Estou baralhada...e preocupada. Este post significa que decidiste ser pai ou tornar-te antropófago?!

Espero que a primeira opção.

Bjs

Piston disse...

Os peixes não são mamíferos. Assim se explica o facto de ignorar o verdadeiro significado da via.