sexta-feira, dezembro 07, 2007

Problemas da cimeira UE-África: o caso Mugabe

Pois é, boa gente: está aí o importantíssimo encontro que irá juntar líderes europeus tontos a tontos líderes africanos. E esse encontro, claro, só poderia ter lugar na tontíssima cidade de Lisboa, que é povoada em sua grande maioria por portugueses tontos (pleonasmo!), um povo que não é bem europeu nem bem africano, é alguma coisa mas os relatórios da ONU, da UNICEF, da UNESCO, da OCDE e do Marcelo Rebelo de Sousa não dizem propriamente o quê.
Ora, uma das – senão a – grandes preocupações da organização é a questão da segurança. Mas é aqui que reside o problema! O cidadão comum poderia ser levado a pensar: “Sim, sim, a segurança, claro. Com tanto líder junto, não é de excluir a hipótese de atentados e ataques terroristas”. Isto é o que o comum cidadão pensaria. Porém, não é o que os responsáveis pela cimeira pensam. Segundo eles, o grande receio são as eventuais manifestações por parte da extrema-esquerda.
Quando soube disto, exclamei: “Mau! Enganaram-se na linha política, de certeza!”. É que, afinal, isto vai estar cheio de dirigentes africanos, não é? E esses dirigentes, além de africanos, são, pelo menos a maior parte, o quê mais? (se alguém aí está a pensar dizer “amigos do Mantorras”, tirem daí a ideia, pois está errada!). A resposta é: pretos, claro! (hmm… que raio de frase contraditória “pretos, claro”?!?!?) Sendo assim, faria muito mais sentido, creio, a segurança preocupar-se com militantes de extrema-direita, e não tanto com os de extrema-esquerda ou, como são também conhecidos, “bloquistas charrados”. Faria, mas não faz. É que estamos a esquecer-nos de um pequeno e, já agora, negro pormenor: Robert Mugabe, o presidente do Zimbabwe (ou, como eu digo, zimba bué).
É por causa de Mugabe que a extrema-esquerda pensa insurgir-se. Mugabe, como todos sabemos, é um tirano autocrata, um déspota e, como também sabemos, a malta com tendências esquerdistas não vai à bola com gente desse tipo, a não ser que essa gente seja também de esquerda, caso em que “tirano autocrata” é substituído por “amigo do povo” e “déspota” por “governante com sentido de Estado”.
Portanto, a organização está de sobreaviso em relação a estes militantes. Porém, isso não basta, e é fácil perceber porquê. Porque, admitamo-lo, continua a haver a forte possibilidade de também a extrema-direita participar no espectáculo. É que, se os esquerdistas tentarão fazer ver a Portugal e ao Burkhina Faso que o regime de Mugabe é autoritário e anti-direitos humanos, a malta mais virada para as tendências nacional-socialistas procurará demonstrar aquilo que é evidente a todos: que Mugabe é preto! Assim, enquanto a extrema-esquerda enverga cartazes e grita palavras de ordem contra as políticas de Mugabe, a extrema-direita fará a saudação nazi e mandará o chefe do Zimbabwe de volta ao sítio donde veio.
Isto, claro, se tudo correr bem. Porque, infelizmente, há outra possibilidade: o choque de ideologias dentro do próprio seio neo-nazi.(1) Confusos? Passo a explicar. Por um lado, Mugabe é preto, e qualquer NS que se preze tem de odiar pessoas de cor negra pelo menos 3 vezes ao dia. A questão é que, por outro lado, Mugabe é racista, e o racismo é condição sine qua non para se ser nacional-socialista. Portanto, esta malta enfrenta um seríssimo dilema, que pode mesmo atingir proporções graves: ou fica contra Mugabe por este ser preto, ou fica a favor dele por ser racista. E é aqui que vamos ver de que massa são feitos os nossos partidários de extrema-direita. Por que linha ideológica se deixarão eles conduzir? Um militante, digamos, mais dado à supremacia branca quererá dar cabo dos cornos ao Mugabe; já outro, mais inclinado para o racismo, procurará oferecer-lhe um pin com a cruz suástica. Meus amigos, podemos estar aqui perante confrontos sérios que, provavelmente, mudarão a face da extrema-direita, e mais ainda a face dos seus militantes!
Hmmm, ou então não, se calhar estou a ser demasiado dramático e pessimista. Talvez as coisas tomem outro rumo, até porque a malta NS é conhecida pelo seu pacifismo e apelo ao diálogo. O máximo que se pode dar é, sei lá, alguma breve altercação entre o NS supremacista branco e o NS que é só racista. Talvez, lá no fundo, após um salutar debate feito à base de coturnos, eles encontrem algum ponto em comum e sejam capazes de conciliar pontos de vista tããão opostos. E quem sabe se isto não animará a própria recepção ao Mugabe? Enquanto os adeptos da extrema-esquerda lançam os seus “assassino” e “ditador”, os da extrema-direita entoam cânticos de “Mugabe, racista amigo, os skins estão contigo! Volta para a tua terra, ó preto do c*ralho!” Bonito, não é?


Eterno Entorno
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(1) Neste ponto, a extrema-direita não difere muito dos nossos partidos com assento parlamentar, por exemplo. No PS, há socratistas, soaristas, guterristas e o Carrilho; no PSD temos menezistas, santanistas, marcelistas; já o PP conta com os portistas-antes-de-2007 e os portistas-a-partir-de-2007; no PC, já sabemos, temos a linha marxista-leninista, a tendência estalinista, a trotskista e outras igualmente actuais; quanto ao BE, a tendência depende do lado de que vem o cheiro a charro.

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