Tanis
segunda-feira, março 31, 2008
Mau! Isto está mau!
Mudanças recentes na minha vida pessoal e desportiva têm-me levado a alterar o meu horário de sono. Anteriormente, deitava-me tarde, ficando a ver dvds até perto das 2 da matina. Agora, chega-se à meia-noite e já estou com soninho, não havendo outra hipótese senão ir para debaixo dos lençóis. O problema é que, assim, fico sem oportunidade de ver os 400 filmes que estão lá por casa à minha espera. Já estou, para que se tenha uma ideia, há semana e meia para ver a porra do Volver, do meu caro Almodovar, um dos meus realizadores predilectos, e ainda só avancei cerca de 40 minutos. É que, mal começo a ver aquilo, zás!, dá-me o sono. E o pior é que o filme nem é mau, antes pelo contrário, e conta com a boazona da Penélope Cruz, a quem me apetece fazer aquilo que as empresas espanholas andam a fazer às portuguesas. Mas não, nem a Penélopezita é capaz de me manter desperto. O que é grave. Muito grave! Tão grave que, logo à noitinha, vou enfiar no leitor de dvd um filme com a Monica Bellucci, o maior despertador de homens que a História do Cinema já viu. Se eu ainda assim adormecer, é porque afinal o meu mal não é sono: é sim paneleirice!
sexta-feira, março 28, 2008
Do Amor Enquanto Pirosice: curto ensaio
O amor é uma pirosice. Não uma pirosice kitsch, caso em que seria cool e dotado de uma certa classe, mas sim uma pirosice – desculpe-se-me a redundância, “pirosa” e fatela (“fatela” também é uma palavra pirosa como o caraças!). Se houvesse uma lei a punir atentados de pirosice - e infelizmente não há -, os enamorados seriam os primeiros a ir a tribunal, juntamente com o novo penteado do Miguel Veloso e as orelhas de abano do José Rodrigues dos Santos.
Se pensam que estou a exagerar, questiono: quem nunca se sentiu enojado e, até, atingido na sua compostura, ao passar por um casal de apaixonados? Eu já, e tenho certeza de não ser o único! Observar, mesmo que por breves segundos, um casalinho a soltar suspirinhos, dar miminhos, abracinhos e beijinhos, trocar carinhos e conversazinhas sempre com os termos no diminutivozinho (amorzinho(a), lindinho(a), fofinho(a), etceterazinho…) tem o mesmo efeito que engolir uma garrafa de litro e meio cheia até ao cimo com óleo de fígado de bacalhau: fica-se automaticamente com vontade de correr até à casa de banho mais próxima para esvaziar o estômago.
No fundo, o amor é uma autêntica gesamtkunstwerk da piroseira: exibe lamechice a torto e a direito, áudio-visualmente, espalha sentimentalismo sem sequer pedir licença, faz-se acompanhar de uma imagética que é do mais reles possível (ele é – e sempre no diminutivo, claro – as florzinhas, as borboletazinhas, os passarinhos, as corzinhas do arco-írizinho, mais um longo etceterazinho…) e, mais nefasto ainda, provoca efeminização: às gajas, torna-as mais “gajas” ainda (ou seja, ficam virtualmente insuportáveis), e aos gajos, torna-os mais sensíveis (ou seja, ficam virtualmente gays). Ora, ao aglutinar em si tantos elementos pirosos, o amor constitui-se em autêntico flagelo social, pois transforma pessoas activas e produtivas em coisas amorfas e apáticas, assim tipo a defesa do Sporting. E não é indivíduos desses que queremos numa sociedade moderna e dinâmica, não queremos pessoas a soltar, de 10 em 10 segundos, um “aiai, tão apaixonado(a) que estou”, já que tal comportamento prejudica o bom funcionamento do mundo. E é piroso, claro está, como penso ter ficado suficientemente demonstrado.
Sendo assim, aconselho o fim imediato do “make love, not war”. Este mandamento, aliás, não passa de um devaneio hippie, e o movimento hippie foi, desde o seu início, talvez a manifestação cultural mais pirosa que jamais existiu, mais até que as músicas do Mika. Ao menos, a guerra não é pirosa. Pode ser horrível, mas pirosa, nunca. Não vemos, por exemplo, os soldados norte-americanos no Iraque a exclamar, para um shiita qualquer, “Ó meu terroristazinho, vem cá para eu te dar um tirinho”! A guerra é cool e faz de nós uns homens, mesmo que acabemos em cadáveres. Já o amor… bem, o amor chupa-nos o sangue da vida e deixa-nos iguais à Margarida Rebelo Pinto. Pirosos, portanto! Enfim… deixemo-nos disso.
Tanis
Se pensam que estou a exagerar, questiono: quem nunca se sentiu enojado e, até, atingido na sua compostura, ao passar por um casal de apaixonados? Eu já, e tenho certeza de não ser o único! Observar, mesmo que por breves segundos, um casalinho a soltar suspirinhos, dar miminhos, abracinhos e beijinhos, trocar carinhos e conversazinhas sempre com os termos no diminutivozinho (amorzinho(a), lindinho(a), fofinho(a), etceterazinho…) tem o mesmo efeito que engolir uma garrafa de litro e meio cheia até ao cimo com óleo de fígado de bacalhau: fica-se automaticamente com vontade de correr até à casa de banho mais próxima para esvaziar o estômago.
No fundo, o amor é uma autêntica gesamtkunstwerk da piroseira: exibe lamechice a torto e a direito, áudio-visualmente, espalha sentimentalismo sem sequer pedir licença, faz-se acompanhar de uma imagética que é do mais reles possível (ele é – e sempre no diminutivo, claro – as florzinhas, as borboletazinhas, os passarinhos, as corzinhas do arco-írizinho, mais um longo etceterazinho…) e, mais nefasto ainda, provoca efeminização: às gajas, torna-as mais “gajas” ainda (ou seja, ficam virtualmente insuportáveis), e aos gajos, torna-os mais sensíveis (ou seja, ficam virtualmente gays). Ora, ao aglutinar em si tantos elementos pirosos, o amor constitui-se em autêntico flagelo social, pois transforma pessoas activas e produtivas em coisas amorfas e apáticas, assim tipo a defesa do Sporting. E não é indivíduos desses que queremos numa sociedade moderna e dinâmica, não queremos pessoas a soltar, de 10 em 10 segundos, um “aiai, tão apaixonado(a) que estou”, já que tal comportamento prejudica o bom funcionamento do mundo. E é piroso, claro está, como penso ter ficado suficientemente demonstrado.
Sendo assim, aconselho o fim imediato do “make love, not war”. Este mandamento, aliás, não passa de um devaneio hippie, e o movimento hippie foi, desde o seu início, talvez a manifestação cultural mais pirosa que jamais existiu, mais até que as músicas do Mika. Ao menos, a guerra não é pirosa. Pode ser horrível, mas pirosa, nunca. Não vemos, por exemplo, os soldados norte-americanos no Iraque a exclamar, para um shiita qualquer, “Ó meu terroristazinho, vem cá para eu te dar um tirinho”! A guerra é cool e faz de nós uns homens, mesmo que acabemos em cadáveres. Já o amor… bem, o amor chupa-nos o sangue da vida e deixa-nos iguais à Margarida Rebelo Pinto. Pirosos, portanto! Enfim… deixemo-nos disso.
Tanis
(em colaboração com I. C., a pirosa)
quinta-feira, março 27, 2008
O Segredo de Brokeback Mountain - versão para estudantes de Filosofia
Diálogo proferido entre dois estudantes de Filosofia numa conhecida Universidade de Lisboa
Zé Manel: Ó pá, eu sempre achei que a Filosofia era a mais elevada manifestação do espírito intelectual.
Quim: Sim, sem dúvida! É a mais nobre das dimensões culturais, a mais preciosa das ciências, a mais bela das artes!
Zé Manel: Já leste Popper? Eu tremo sempre que ele fala do conhecimento objectivo…
Quim: Oh sim! Lindo! Mas entre os contemporâneos, atrai-me mais o Deleuze. O modo como ele desenrola a sua construção metafísica é capaz de me levar às lágrimas!...
Zé Manel: Deleuze? Construção metafísica? Ouve lá, não estarás a confundi-lo com alguém? O Deleuze só sabia destruir!
Quim: Não, pá! Esse era o Derrida.
Zé Manel: Ai, o Derrida!... outro que faz muita falta… assim como o José Gil, coitado.
Quim: Mas o José Gil ainda é vivo!
Zé Manel: “Olhe que não, olhe que não”, lá dizia o comuna. O José Gil está para lá de morto! A sua filosofia não possui a vitalidade de um Pedro Paixão, a irreverência de um Cerqueira Gonçalves, a paixão de um Eduardo Lourenço, a força de um Barata-Moura… não, meu caro: José Gil está acabado!
Quim: Gosto tanto de te ouvir falar assim! És magnífico quando comparas filósofos.
Zé Manel: Obrigado, Quim. E eu adoro o teu rabo!
Quim: Ai, estúpido! Sempre com brincadeiras! Come-me já, seu garanhão intelectual!
Zé Manel: Então vamos ali para trás e já te faço aquilo que o Hegel andava a fazer ao Schelling!
Quim: Ai, parvo! Matas-me de excitação! Se te ponho a boca em cima, vais sentir o que o Tomás de Aquino sentiu quando foi sodomizado pela primeira vez lá no mosteiro.
Zé Manel: Está bem, mas não sejas bruto que daqui a 15 minutos temos de ir para a aula de Ontologia…
Tanis
Zé Manel: Ó pá, eu sempre achei que a Filosofia era a mais elevada manifestação do espírito intelectual.
Quim: Sim, sem dúvida! É a mais nobre das dimensões culturais, a mais preciosa das ciências, a mais bela das artes!
Zé Manel: Já leste Popper? Eu tremo sempre que ele fala do conhecimento objectivo…
Quim: Oh sim! Lindo! Mas entre os contemporâneos, atrai-me mais o Deleuze. O modo como ele desenrola a sua construção metafísica é capaz de me levar às lágrimas!...
Zé Manel: Deleuze? Construção metafísica? Ouve lá, não estarás a confundi-lo com alguém? O Deleuze só sabia destruir!
Quim: Não, pá! Esse era o Derrida.
Zé Manel: Ai, o Derrida!... outro que faz muita falta… assim como o José Gil, coitado.
Quim: Mas o José Gil ainda é vivo!
Zé Manel: “Olhe que não, olhe que não”, lá dizia o comuna. O José Gil está para lá de morto! A sua filosofia não possui a vitalidade de um Pedro Paixão, a irreverência de um Cerqueira Gonçalves, a paixão de um Eduardo Lourenço, a força de um Barata-Moura… não, meu caro: José Gil está acabado!
Quim: Gosto tanto de te ouvir falar assim! És magnífico quando comparas filósofos.
Zé Manel: Obrigado, Quim. E eu adoro o teu rabo!
Quim: Ai, estúpido! Sempre com brincadeiras! Come-me já, seu garanhão intelectual!
Zé Manel: Então vamos ali para trás e já te faço aquilo que o Hegel andava a fazer ao Schelling!
Quim: Ai, parvo! Matas-me de excitação! Se te ponho a boca em cima, vais sentir o que o Tomás de Aquino sentiu quando foi sodomizado pela primeira vez lá no mosteiro.
Zé Manel: Está bem, mas não sejas bruto que daqui a 15 minutos temos de ir para a aula de Ontologia…
Tanis
quarta-feira, março 26, 2008
Uma boa solução
Um destes dias, aquando de uma viagem por autocarro, esbarrei com algo que considero ser uma boa solução: dois enormes fiscais negros vasculhavam os passageiros do dito autocarro, verificando a validade dos passes e bilhetes de transporte. A reacção das pessoas foi sempre a mesma: rápida e pronta resposta na mostragem dos títulos (menos eu, claro, que não tenho medo de negões, por isso pedi que esperassem enquanto acabava de ler mais um parágrafo do Lobo Antunes que tenho em mãos…). E, observei eu próprio, nem um único passageiro tinha o título inválido, para bem dos seus pecados. Melhor ainda foi a expressão que alguns manifestaram, como o caso de dois velhos sentados no banco... bem, no banco dos velhos: ao mostrarem os respectivos bilhetes, pequenas gotas de suor formaram-se e desceram pelas rugas abaixo, sinal de angústia à espera do veredicto dos negões, a que sucedeu um sonoro suspiro de alívio aquando da apreciação positiva e subsequente comentário “Os bilhete tá válido”.
Efectivamente, trata-se de uma feliz medida. Colocar negros altos e fortes como fiscais traz imensas vantagens. Primeiro que tudo, impõe respeito aos passageiros. Ninguém, no seu pleno juízo, pensará fazer frente a fiscais com tamanha presença física, nem tão-pouco equacionará entrar no transporte público com o bilhete ou passe caducados/falsificados. É que, se alguém for apanhado a prevaricar, o crime claramente não compensará, pois o resultado equivale a apanhar uma valente tareona dos negões. Fiscais deste calibre constituem-se, assim, como uma óptima profilaxia da criminalidade.
Ademais, a utilização de pessoas de cor como fiscais permite ainda que se estabeleça uma melhor comunicação com alguns passageiros, nomeadamente aqueles que também são de cor, sobretudo em zonas delicadas, tipo Amadora ou Damaia. Passo a explicar: quando fiscais ditos “brancos” se aproximam de um indivíduo (ou “indivídua”, isto vale para os dois sexos) de cor, para verificar o título de transporte, por vezes dão-se descoordenações comunicativas, do género:
Fiscal: O seu bilhete, por favor.
Indivíduo: Os quê?!
Fiscal: O seu bilhete, por favor.
Indivíduo: Os meu bilhete os quê?!
Fiscal: Mostre-me o bilhete.
Indivíduo: Mostrar os quê, pula?!
Fiscal: O que é que me chamou? “Pula”?
Indivíduo: Os quê?!
E assim por diante. Ora, a partir do momento em que ambos os lados falam a mesma linguagem, problemas deste tipo desaparecem, o que é francamente bom e mais um ponto a favor do uso de negões.
A última vantagem prende-se com os benefícios, digamos, sociais desta medida. Ao empregar negões neste ofício, está-se a impedi-los que sigam a via do crime ou, pior ainda, que enveredem pela carreira de músicos de hip-hop. Enquanto fiscais, estas minorias étnicas não só fazem algo de produtivo por si próprios, como também beneficiam a sociedade, que só fica a ganhar.
O único senão – porque há um senão – de ter negões como fiscais será o cheiro, mas pronto, a malta também depressa se habitua, não é? (Ok, peço desculpa por este último comentário altamente racista. Juro que a culpa não é minha e sim das más companhias com quem ultimamente me tenho envolvido…)
Tanis
Efectivamente, trata-se de uma feliz medida. Colocar negros altos e fortes como fiscais traz imensas vantagens. Primeiro que tudo, impõe respeito aos passageiros. Ninguém, no seu pleno juízo, pensará fazer frente a fiscais com tamanha presença física, nem tão-pouco equacionará entrar no transporte público com o bilhete ou passe caducados/falsificados. É que, se alguém for apanhado a prevaricar, o crime claramente não compensará, pois o resultado equivale a apanhar uma valente tareona dos negões. Fiscais deste calibre constituem-se, assim, como uma óptima profilaxia da criminalidade.
Ademais, a utilização de pessoas de cor como fiscais permite ainda que se estabeleça uma melhor comunicação com alguns passageiros, nomeadamente aqueles que também são de cor, sobretudo em zonas delicadas, tipo Amadora ou Damaia. Passo a explicar: quando fiscais ditos “brancos” se aproximam de um indivíduo (ou “indivídua”, isto vale para os dois sexos) de cor, para verificar o título de transporte, por vezes dão-se descoordenações comunicativas, do género:
Fiscal: O seu bilhete, por favor.
Indivíduo: Os quê?!
Fiscal: O seu bilhete, por favor.
Indivíduo: Os meu bilhete os quê?!
Fiscal: Mostre-me o bilhete.
Indivíduo: Mostrar os quê, pula?!
Fiscal: O que é que me chamou? “Pula”?
Indivíduo: Os quê?!
E assim por diante. Ora, a partir do momento em que ambos os lados falam a mesma linguagem, problemas deste tipo desaparecem, o que é francamente bom e mais um ponto a favor do uso de negões.
A última vantagem prende-se com os benefícios, digamos, sociais desta medida. Ao empregar negões neste ofício, está-se a impedi-los que sigam a via do crime ou, pior ainda, que enveredem pela carreira de músicos de hip-hop. Enquanto fiscais, estas minorias étnicas não só fazem algo de produtivo por si próprios, como também beneficiam a sociedade, que só fica a ganhar.
O único senão – porque há um senão – de ter negões como fiscais será o cheiro, mas pronto, a malta também depressa se habitua, não é? (Ok, peço desculpa por este último comentário altamente racista. Juro que a culpa não é minha e sim das más companhias com quem ultimamente me tenho envolvido…)
Tanis
terça-feira, março 25, 2008
(Mais um) Conto Estúpido
Descia eu pela rua, em direcção ao quiosque, quando uma simpática jovem, sorrindo, me abordou.
- Caro senhor, gostaria de colaborar num inquérito?
Três coisas desde logo me chamaram a atenção na mocita: antes de mais, o carácter decidido e ousado. Dirigira-se a mim, escolhera-me entre tantas outras pessoas, e fizera-o de forma determinada. Pensei logo para mim: “Ainda sou capaz de agradar a uma jovem, ahahah! Com um pouco de sorte, quem sabe se não consigo levar daqui qualquer coisita?!”. O segundo aspecto que me prendeu foram os seus dentes tortos. Quando abriu a boca e falou comigo, apercebi-me de que a dentição da rapariga assemelhava-se, mais do que seria desejável, ao rescaldo do tsunami que devastou o sudoeste asiático nos finais de 2004. Por fim, e foi neste elemento que peguei para iniciar a minha descoberta da jovem, o tratamento a que eu havia sido votado: “Caro senhor”. Solicitei-a, então.
- Oh, por favor, não me trates por “senhor”. Não sou nenhum idoso, tenho idade para, sei lá, ser teu amigo mais velho, ou teu professor de ginástica, ou outra coisa qualquer.
Ela sorriu, revelando-me novamente aquele flagelo dentário, capaz de provocar uma síncope a qualquer odontologista, inclusivamente de nacionalidade chinesa.
- Ih, ih, tratei-o assim por força do hábito, realmente você não parece ser nada velho – respondeu-me ela.
- Trata-me por tu, a sério – soltei.
- Está bem, tu – disse, a rir, os dentes baralhando-se na cavidade bucal – E então, posso fazer o inquérito? – rematou. A espirituosidade da moça dava-me confiança para começar a atacar. Quando o fiz, foi sem dó nem piedade!
- Ah! Ah! Diz-me só uma coisa, antes de começares: quando te pagarem por este trabalho, pensas marcar uma consulta no dentista para arranjar esses dentes? Ahahaha!
Este momento era crucial. Dependendo da réplica dela, saberia se tinha hipóteses de a depositar na minha cama ou, pelo contrário, se acabaria corrido à dentada pela rua acima, sem realizar o inquérito. Qualquer das alternativas não me desagradava.
- Ó tu, achas que devo? – lançou ela – Eu acho mais urgente ajudar-te a livrar dessa cara de parvo, operação para a qual filantropicamente contribuirei com o pecúlio ajuntado graças a este meu ofício! – concluiu.
Fantástico! A coisa saíra melhor do que eu próprio pensara. A resposta da moça revelava cumplicidade marota, associada a boa disposição, a uma certa classe (denunciada pela linguagem utilizada) e, também, a um certo sentido de domínio sobre mim. Ela estava não só a dar-me luta como ainda se me superiorizava na troca de palavras. Pensei: “esta tipa sabe-la toda. Decerto mostrar-me-á uns truques novos.”
- Queres ir até minha casa e “inquires-me” lá? – atirei, com uma expressão de sacanice.
- Achas que os meus dentes são dignos de transpor a tua porta? – retorquiu. Continuava a desempenhar o papel de leoa, o que só me excitava mais.
- Desde que permaneçam na tua boca, pode ser.
- Hmmm, vê lá se não és tu que vais ficar sem os teus…
- Então, vamos?
- Está bem, ó tu. Pode ser. Vamos lá ver se és tão corajoso e arrojado noutras coisas como és a mandar piadas!
Lá fomos. Conduzi a mocita até à minha casa, e depois ao meu quarto. Despi-a toda, despi-me todo, vesti o meu cão, depois despi-o (não sei por que motivo fiz isto!), enfiámo-nos na cama, retirei de lá o cão, enfiei-me na jovem e o passámos por uma óptima sessão de sexo selvagem, em que ambos lutámos pela posição de domínio e ela ganhou, o que tornou tudo bem mais interessante e excitante, confesso.
Quando nos despedíamos, uma vez que ela tinha de regressar aos seus inquéritos, e não realizara sequer o meu, deu-se a surpresa.
- Olha, tu, para que saibas…
E retirou os dentes da boca. Afinal, aquele desastre era uma dentadura postiça.
- São falsos! – riu-se.
Soltei um gemido, que era de surpresa, de indignação, e de dor também, porque o meu cão acabava de me morder o rabo. Mas depressa me recompus, e perguntei-lhe:
- Mas porquê? Qual o propósito disso? Agora que vejo, tens uma dentição perfeita. Poderias fazer publicidade à Colgate, à Sensodyne ou a qualquer outro dentífrico. Para quê essa dentadura?
- Porque – respondeu ela – é uma maneira de chamar a atenção. Ninguém me ligaria nenhuma se não fossem estes dentes tortos – dizendo isto, levantou a dentadura na minha direcção -, nem sabes o número de homens que já tive desde que engendrei este esquema. Devo as minhas sessões de sexo a estes dentes, tal como tu deves as tuas a essa fascinante cara de parvo!
E riu-se de novo. E ri-me com ela. E o meu cão riu-se também. Peguei-a nos meus braços e beijei-a violentamente, algo que não havia feito antes com receio de prejudicar o meu esmalte. E levei-a uma vez mais para a cama, despi-a, despi-me, desta feita não vesti nem despi o meu cão, pois ele fê-lo sozinho, e possuí-a pela segunda vez. E foi melhor do que a primeira. Disse-lhe:
- Olha, não precisas dos dentes para arranjar companhia. És fantástica.
- Não sei. Os homens intimidam-se comigo, acham-me demasiado perfeita e superior a eles. Os dentes tortos servem como artificio, servem para mostrar que também possuo defeitos. Com isso, eles ficam mais à vontade, sabes? Preciso dos dentes, sim. E há outra coisa que te digo, tu precisas também dessa cara de parvo, garanto-te!
Após estas palavras, foi-se embora, e fiquei deitado enquanto pensava nos argumentos que acabara de me expor. Depois peguei num espelho e reflecti: “talvez ela tenha razão, que caraças”. Coloquei o espelho de lado, assobiei para o meu cão, ele enfiou-se na cama comigo e abraçámo-nos, solidários. A vida tem destas coisas…
Tanis
- Caro senhor, gostaria de colaborar num inquérito?
Três coisas desde logo me chamaram a atenção na mocita: antes de mais, o carácter decidido e ousado. Dirigira-se a mim, escolhera-me entre tantas outras pessoas, e fizera-o de forma determinada. Pensei logo para mim: “Ainda sou capaz de agradar a uma jovem, ahahah! Com um pouco de sorte, quem sabe se não consigo levar daqui qualquer coisita?!”. O segundo aspecto que me prendeu foram os seus dentes tortos. Quando abriu a boca e falou comigo, apercebi-me de que a dentição da rapariga assemelhava-se, mais do que seria desejável, ao rescaldo do tsunami que devastou o sudoeste asiático nos finais de 2004. Por fim, e foi neste elemento que peguei para iniciar a minha descoberta da jovem, o tratamento a que eu havia sido votado: “Caro senhor”. Solicitei-a, então.
- Oh, por favor, não me trates por “senhor”. Não sou nenhum idoso, tenho idade para, sei lá, ser teu amigo mais velho, ou teu professor de ginástica, ou outra coisa qualquer.
Ela sorriu, revelando-me novamente aquele flagelo dentário, capaz de provocar uma síncope a qualquer odontologista, inclusivamente de nacionalidade chinesa.
- Ih, ih, tratei-o assim por força do hábito, realmente você não parece ser nada velho – respondeu-me ela.
- Trata-me por tu, a sério – soltei.
- Está bem, tu – disse, a rir, os dentes baralhando-se na cavidade bucal – E então, posso fazer o inquérito? – rematou. A espirituosidade da moça dava-me confiança para começar a atacar. Quando o fiz, foi sem dó nem piedade!
- Ah! Ah! Diz-me só uma coisa, antes de começares: quando te pagarem por este trabalho, pensas marcar uma consulta no dentista para arranjar esses dentes? Ahahaha!
Este momento era crucial. Dependendo da réplica dela, saberia se tinha hipóteses de a depositar na minha cama ou, pelo contrário, se acabaria corrido à dentada pela rua acima, sem realizar o inquérito. Qualquer das alternativas não me desagradava.
- Ó tu, achas que devo? – lançou ela – Eu acho mais urgente ajudar-te a livrar dessa cara de parvo, operação para a qual filantropicamente contribuirei com o pecúlio ajuntado graças a este meu ofício! – concluiu.
Fantástico! A coisa saíra melhor do que eu próprio pensara. A resposta da moça revelava cumplicidade marota, associada a boa disposição, a uma certa classe (denunciada pela linguagem utilizada) e, também, a um certo sentido de domínio sobre mim. Ela estava não só a dar-me luta como ainda se me superiorizava na troca de palavras. Pensei: “esta tipa sabe-la toda. Decerto mostrar-me-á uns truques novos.”
- Queres ir até minha casa e “inquires-me” lá? – atirei, com uma expressão de sacanice.
- Achas que os meus dentes são dignos de transpor a tua porta? – retorquiu. Continuava a desempenhar o papel de leoa, o que só me excitava mais.
- Desde que permaneçam na tua boca, pode ser.
- Hmmm, vê lá se não és tu que vais ficar sem os teus…
- Então, vamos?
- Está bem, ó tu. Pode ser. Vamos lá ver se és tão corajoso e arrojado noutras coisas como és a mandar piadas!
Lá fomos. Conduzi a mocita até à minha casa, e depois ao meu quarto. Despi-a toda, despi-me todo, vesti o meu cão, depois despi-o (não sei por que motivo fiz isto!), enfiámo-nos na cama, retirei de lá o cão, enfiei-me na jovem e o passámos por uma óptima sessão de sexo selvagem, em que ambos lutámos pela posição de domínio e ela ganhou, o que tornou tudo bem mais interessante e excitante, confesso.
Quando nos despedíamos, uma vez que ela tinha de regressar aos seus inquéritos, e não realizara sequer o meu, deu-se a surpresa.
- Olha, tu, para que saibas…
E retirou os dentes da boca. Afinal, aquele desastre era uma dentadura postiça.
- São falsos! – riu-se.
Soltei um gemido, que era de surpresa, de indignação, e de dor também, porque o meu cão acabava de me morder o rabo. Mas depressa me recompus, e perguntei-lhe:
- Mas porquê? Qual o propósito disso? Agora que vejo, tens uma dentição perfeita. Poderias fazer publicidade à Colgate, à Sensodyne ou a qualquer outro dentífrico. Para quê essa dentadura?
- Porque – respondeu ela – é uma maneira de chamar a atenção. Ninguém me ligaria nenhuma se não fossem estes dentes tortos – dizendo isto, levantou a dentadura na minha direcção -, nem sabes o número de homens que já tive desde que engendrei este esquema. Devo as minhas sessões de sexo a estes dentes, tal como tu deves as tuas a essa fascinante cara de parvo!
E riu-se de novo. E ri-me com ela. E o meu cão riu-se também. Peguei-a nos meus braços e beijei-a violentamente, algo que não havia feito antes com receio de prejudicar o meu esmalte. E levei-a uma vez mais para a cama, despi-a, despi-me, desta feita não vesti nem despi o meu cão, pois ele fê-lo sozinho, e possuí-a pela segunda vez. E foi melhor do que a primeira. Disse-lhe:
- Olha, não precisas dos dentes para arranjar companhia. És fantástica.
- Não sei. Os homens intimidam-se comigo, acham-me demasiado perfeita e superior a eles. Os dentes tortos servem como artificio, servem para mostrar que também possuo defeitos. Com isso, eles ficam mais à vontade, sabes? Preciso dos dentes, sim. E há outra coisa que te digo, tu precisas também dessa cara de parvo, garanto-te!
Após estas palavras, foi-se embora, e fiquei deitado enquanto pensava nos argumentos que acabara de me expor. Depois peguei num espelho e reflecti: “talvez ela tenha razão, que caraças”. Coloquei o espelho de lado, assobiei para o meu cão, ele enfiou-se na cama comigo e abraçámo-nos, solidários. A vida tem destas coisas…
Tanis
quarta-feira, março 19, 2008
Seria cómico, se não fosse trágico
George W. Bush, presidente daquele inenarrável país situado entre o México e o Canadá (coitados), afirmou peremptoriamente:
"Êxito que está a ser vivido no Iraque é inegável"
Uma frase destas coloca-o na pole position pelo prémio Sem Noção da Realidade, juntamente com Luís Filipe Vieira ("O Benfica 2007/2008 é o melhor dos últimos 10 anos!") e José Sócrates ("Vou criar 150 mil empregos na primeira legislatura"). Mas eu também quero fazer parte de tão ilustre grupo, por isso cá vão elas:
"O José Castelo Branco não é gay"
"O futebol apresentado pelo Sporting é de altíssimo calibre, digno de ser elogiado pela UEFA"
"A Monica Bellucci adora passar a noite lá em casa"
"O Ozzy Osbourne profere discursos altamente perceptíveis"
"A filosofia portuguesa atravessa a sua melhor fase desde que o Pedro Hispano, isto é, o papa João XXI, levou com o tecto em cima dos cornos"
"Êxito que está a ser vivido no Iraque é inegável"
Uma frase destas coloca-o na pole position pelo prémio Sem Noção da Realidade, juntamente com Luís Filipe Vieira ("O Benfica 2007/2008 é o melhor dos últimos 10 anos!") e José Sócrates ("Vou criar 150 mil empregos na primeira legislatura"). Mas eu também quero fazer parte de tão ilustre grupo, por isso cá vão elas:
"O José Castelo Branco não é gay"
"O futebol apresentado pelo Sporting é de altíssimo calibre, digno de ser elogiado pela UEFA"
"A Monica Bellucci adora passar a noite lá em casa"
"O Ozzy Osbourne profere discursos altamente perceptíveis"
"A filosofia portuguesa atravessa a sua melhor fase desde que o Pedro Hispano, isto é, o papa João XXI, levou com o tecto em cima dos cornos"
Tanis
A Queda do Mito!
Eu orgulhava-me de ser o derradeiro bastião, o último defensor da natureza incontactável do indivíduo, o Astérix que não se deixava dominar pelo imperialismo das tecnologias de comunicação, o espartano que se batia com as redes móveis, invasoras da privacidade e da integridade, porém... tudo isso acabou! Depois de anos e anos de resistência implacável, aconteceu aquilo que ninguém jamais pensou poder vir a acontecer: Impingiram-me um telemóvel… REPITO: impingiram-me um telemóvel! E estou a usá-lo. REPITO: e estou a usá-lo!
Preparem-se: o Apocalipse já não deve demorar muito… agora só falta o José Sócrates começar a cumprir promessas! (hmmm, pensando bem, ainda deve tardar um bocadito!)
Preparem-se: o Apocalipse já não deve demorar muito… agora só falta o José Sócrates começar a cumprir promessas! (hmmm, pensando bem, ainda deve tardar um bocadito!)
Tanis
P.S.: Uma outra perspectiva sobre este mesmo assunto pode ser lida aqui.
terça-feira, março 18, 2008
Corte de Cabelo
Há dias, alterei radicalmente o meu visual. Calma, não se assustem: continuo feio (ou seja: é melhor assustarem-se!), isso não muda. O que eu quero dizer é que fui cortar a guedelha, a qual, assumo, se encontrava demasiado comprida, e comprida de uma forma deselegante. Ok, pronto, o meu cabelo estava com a aparência daquilo a que as pessoas chamam vulgarmente “palha-de-aço”, o que me tornava num palhaço (gostaram? “palha-de-aço”, “palhaço”! Que giro… isto é uma figura de estilo qualquer, mas não me lembro qual… enfim, também não interessa!). Portanto, cortei-o. Ou melhor, rapei-o! Mas em má hora, pois estou a ficar bastante careca. O que me desagrada sobremaneira, claro está; é que eu preferia ter cabelo, pronto! Manias…
De modos que comecei a pensar (“pensar” é uma actividade a que me dedico uma ou duas vezes por ano, uma vez que está indexada às vitórias do Sporting): já que fiz porcaria (leia-se: cortar excessivamente a pilosidade capilar), como é que dou a volta ao texto, isto é, como é que disfarço a careca? Colocar uma peruca estava fora de questão: era só o que faltava! Não sou o Donald Trump, embora não me importasse de ter o dinheiro dele. Também equacionei a utilização de um gorro, mas a verdade é que não sou nenhum dread, e o gorro só fica bem nos dreads. Até que, voilá!, fez-se luz: em vez de esconder a cabeça, em particular a careca, poderia isso sim mostrar outra coisa capaz de desviar as atenções. E, deste modo, decidi: “vou deixar crescer a pêra! Nunca ninguém me viu com pêra!” Parecia a solução perfeita, precisava agora de testá-la. Foi o que fiz: inspirado pelos vários anúncios publicitários do género antes/depois, planeei ir para a rua com a barba por fazer (portanto, o “antes”) e com a barba já feita e pêra “plantada” (portanto, o “depois”), e anotar as reacções. Isto foi o que sucedeu:
Antes: Tanis na rua, de cabelo cortado e barba por fazer
Tanis: Lálálálálá…
Amigo do Tanis: Olá, Tanis! Estás porreiro?
Tanis: Oi. Tudo fixe, e tu?
Amigo do Tanis: Tudo bem. Olha lá, cortaste o cabelo?
Tanis: Yap!
Amigo do Tanis: Pá, estás mesmo careca! Fogo!!!!
Tanis: Eu sei…
Amigo do Tanis: Bem, mas é que estás mesmo. Tão novo e já perdeste tanto cabelo!
Tanis: Pois é.
Amigo do Tanis: Vá lá, tu queres é transformar a tua cabeça numa pista de aterragem para mosquitos, heheheh…
Tanis: F*da-se!
Fatela, não é? Não era preciso mais nada: voltei rapidamente a casa, de modo a escapar deste massacre. As repetidas referências à minha careca confirmaram-me que algo tinha efectivamente de ser feito. Barbeei-me, então, deixando ficar a pêra e saí, a ver se alguma diferença se produziria.
Depois: Tanis na rua, de cabelo cortado e pêra – Versão mais simpática
Tanis: Lálálálálá…
Outro Amigo do Tanis: Então Tanis, tudo bem?
Tanis: Tudo, e tu?
Outro Amigo do Tanis: Fixe. Ouve lá, deixaste crescer a pêra?
Tanis: Sim, sim, deixei.
Outro Amigo do Tanis: Fica-te bem e tal.
Tanis: Obrigado.
Outro Amigo do Tanis: Então e o nosso Sporting, hã?
Tanis: F*da-se!
Magnífico, não é? Note-se que não houve sequer um único comentário lançado à minha careca: a pêra assumiu-se imperial e dominou logo o campo visual do meu amigo. Seriam todas as reacções assim? Se o fossem, a minha solução sairia melhor do que a encomenda! Decidi, pois, ficar mais um tempo na rua até me cruzar com outro amigo, o que veio a suceder.
Depois: Tanis na rua, de cabelo cortado e pêra – Versão menos simpática
Tanis: Lálálálálá…
Mais Outro Amigo do Tanis: Olha o Tanis! Então, meu?
Tanis: Olá, pá!
Mais Outro Amigo do Tanis: Tanis, cortaste o cabelo?
Tanis: Sim.
Mais Outro Amigo do Tanis: E… e… deixaste crescer a pêra?
Tanis: Iá.
Mais Outro Amigo do Tanis: Estás diferente!
Tanis: Uma beca, sim.
Mais Outro Amigo do Tanis: Mas agora estou a ver e… Tanis, estás bué careca!
Tanis: Pois.
Mais Outro Amigo do Tanis: E essa pêra está um bocado torta e tal.
Tanis: F*da-se!
Não está mau de todo, não é? Pronto, a versão de cima é melhor que esta última, mas seja como for, qualquer uma delas é mais satisfatória, para mim, do que o “antes”, isto é, do que o meu visual pré-pêra. A pêra é mesmo um excelente artifício e desvia as atenções da careca, nalguns casos até por completo. Funcionou bem, portanto. Agora só falta é conseguir desviar as atenções da pêra que, de acordo com o 3º dos meus amigos, está torta. Para isso, estou a equacionar deixar crescer os pêlos das orelhas. O que acham? Aceito sugestões!
Tanis
De modos que comecei a pensar (“pensar” é uma actividade a que me dedico uma ou duas vezes por ano, uma vez que está indexada às vitórias do Sporting): já que fiz porcaria (leia-se: cortar excessivamente a pilosidade capilar), como é que dou a volta ao texto, isto é, como é que disfarço a careca? Colocar uma peruca estava fora de questão: era só o que faltava! Não sou o Donald Trump, embora não me importasse de ter o dinheiro dele. Também equacionei a utilização de um gorro, mas a verdade é que não sou nenhum dread, e o gorro só fica bem nos dreads. Até que, voilá!, fez-se luz: em vez de esconder a cabeça, em particular a careca, poderia isso sim mostrar outra coisa capaz de desviar as atenções. E, deste modo, decidi: “vou deixar crescer a pêra! Nunca ninguém me viu com pêra!” Parecia a solução perfeita, precisava agora de testá-la. Foi o que fiz: inspirado pelos vários anúncios publicitários do género antes/depois, planeei ir para a rua com a barba por fazer (portanto, o “antes”) e com a barba já feita e pêra “plantada” (portanto, o “depois”), e anotar as reacções. Isto foi o que sucedeu:
Antes: Tanis na rua, de cabelo cortado e barba por fazer
Tanis: Lálálálálá…
Amigo do Tanis: Olá, Tanis! Estás porreiro?
Tanis: Oi. Tudo fixe, e tu?
Amigo do Tanis: Tudo bem. Olha lá, cortaste o cabelo?
Tanis: Yap!
Amigo do Tanis: Pá, estás mesmo careca! Fogo!!!!
Tanis: Eu sei…
Amigo do Tanis: Bem, mas é que estás mesmo. Tão novo e já perdeste tanto cabelo!
Tanis: Pois é.
Amigo do Tanis: Vá lá, tu queres é transformar a tua cabeça numa pista de aterragem para mosquitos, heheheh…
Tanis: F*da-se!
Fatela, não é? Não era preciso mais nada: voltei rapidamente a casa, de modo a escapar deste massacre. As repetidas referências à minha careca confirmaram-me que algo tinha efectivamente de ser feito. Barbeei-me, então, deixando ficar a pêra e saí, a ver se alguma diferença se produziria.
Depois: Tanis na rua, de cabelo cortado e pêra – Versão mais simpática
Tanis: Lálálálálá…
Outro Amigo do Tanis: Então Tanis, tudo bem?
Tanis: Tudo, e tu?
Outro Amigo do Tanis: Fixe. Ouve lá, deixaste crescer a pêra?
Tanis: Sim, sim, deixei.
Outro Amigo do Tanis: Fica-te bem e tal.
Tanis: Obrigado.
Outro Amigo do Tanis: Então e o nosso Sporting, hã?
Tanis: F*da-se!
Magnífico, não é? Note-se que não houve sequer um único comentário lançado à minha careca: a pêra assumiu-se imperial e dominou logo o campo visual do meu amigo. Seriam todas as reacções assim? Se o fossem, a minha solução sairia melhor do que a encomenda! Decidi, pois, ficar mais um tempo na rua até me cruzar com outro amigo, o que veio a suceder.
Depois: Tanis na rua, de cabelo cortado e pêra – Versão menos simpática
Tanis: Lálálálálá…
Mais Outro Amigo do Tanis: Olha o Tanis! Então, meu?
Tanis: Olá, pá!
Mais Outro Amigo do Tanis: Tanis, cortaste o cabelo?
Tanis: Sim.
Mais Outro Amigo do Tanis: E… e… deixaste crescer a pêra?
Tanis: Iá.
Mais Outro Amigo do Tanis: Estás diferente!
Tanis: Uma beca, sim.
Mais Outro Amigo do Tanis: Mas agora estou a ver e… Tanis, estás bué careca!
Tanis: Pois.
Mais Outro Amigo do Tanis: E essa pêra está um bocado torta e tal.
Tanis: F*da-se!
Não está mau de todo, não é? Pronto, a versão de cima é melhor que esta última, mas seja como for, qualquer uma delas é mais satisfatória, para mim, do que o “antes”, isto é, do que o meu visual pré-pêra. A pêra é mesmo um excelente artifício e desvia as atenções da careca, nalguns casos até por completo. Funcionou bem, portanto. Agora só falta é conseguir desviar as atenções da pêra que, de acordo com o 3º dos meus amigos, está torta. Para isso, estou a equacionar deixar crescer os pêlos das orelhas. O que acham? Aceito sugestões!
Tanis
segunda-feira, março 17, 2008
PSD, o partido laranja (ai não, isso era dantes...)
Se prestaram atenção às politiquices ocorridas durante a passada semana, certamente sabem que houve uma manifestação de professores, que o Luís Filipe Menezes andou pegado com um sem-número de históricos sociais-democratas por causa da alteração dos estatutos do partido, que o José Sócrates continua a assobiar para o lado e não vê o país em que vivemos, que o Alberto João Jardim mandou mais uma bacorada, etc. e tal. E se, felizardos, não prestaram atenção nenhuma, não souberam do facto político mais importante: a mudança de imagem do PSD!
Se bem se recordam, a anterior imagem do PSD era... bem, como colocá-lo sem ferir susceptibilidades... não, espera, é do PSD que estou a falar, as susceptibilidades que se lixem!... era, como estava a dizer, um bocado para o básica e pateta: três setas, uma preta, uma branca e uma laranja, todas em riste (dispensam-se as conotações fálicas: estamos a falar de sociais-democratas, que são gente que nunca teve uma erecção na vida - olhem para o Marcelo Rebelo de Sousa!), destacavam-se sobre um pano de fundo totalmente alaranjado, o qual dominava a figura, daí o PSD ser o "partido laranja". Monocromatismo demais, portanto, para um partido que se pretendia dinâmico; além disso, o laranja é uma cor demasiado parva para estar sozinha, ao contrário do vermelho, que se aguenta bem isoladamente, daí o PCP se manter fiel a ela. Bom, o PCP mantém-se fiel a tudo o que foi instaurado pela revolução de 1917, portanto isto não é novidade alguma...
No fundo, foram reflexões semelhantes a estas que levaram os senhores do PSD a equacionar uma nova imagem ("reflexões semelhantes", o tanas... alguma vez esses tipos seriam capazes de tecer comentários tão brilhantes como os que coloquei atrás? Nunca! Eles são do PSD, caramba!!!). E ela aí está: sonegam-se as setas preta e branca, mantém-se a seta laranja em riste, mas agora ela como que navega um amplo mar azul em várias matizes, realizando um contraste apreciável - informo, para aqueles que o desconhecem, que o azul e o laranja são cores complementares, isto é, são cores que, associadas, se intensificam (hããã, fónix... digam lá se o Peter of Pan também não é cultura?!...). Esteticamente, aplaudo a mudança. Creio que a imagem fica realmente mais bonita e apelativa. Os cromoterapeutas, ou cromófilos, ou cromógrafos, ou, simplesmente, cromos do PSD estão de parabéns. Politicamente, também aplaudo, porque a nova imagem torna o PSD num partido mais sincero: o azul ou, em inglês, blue, é usado (principalmente pelos norte-americanos, tãããão respeitados pelos sociais-democratas) para denotar tristeza; portanto, ao colocarem o azul como cor dominante da nova imagem do partido, os dirigentes e militantes sociais-democratas estão a assumir ser aquilo que já há muito tempo sabíamos: uma cambada de tristes!
Se bem se recordam, a anterior imagem do PSD era... bem, como colocá-lo sem ferir susceptibilidades... não, espera, é do PSD que estou a falar, as susceptibilidades que se lixem!... era, como estava a dizer, um bocado para o básica e pateta: três setas, uma preta, uma branca e uma laranja, todas em riste (dispensam-se as conotações fálicas: estamos a falar de sociais-democratas, que são gente que nunca teve uma erecção na vida - olhem para o Marcelo Rebelo de Sousa!), destacavam-se sobre um pano de fundo totalmente alaranjado, o qual dominava a figura, daí o PSD ser o "partido laranja". Monocromatismo demais, portanto, para um partido que se pretendia dinâmico; além disso, o laranja é uma cor demasiado parva para estar sozinha, ao contrário do vermelho, que se aguenta bem isoladamente, daí o PCP se manter fiel a ela. Bom, o PCP mantém-se fiel a tudo o que foi instaurado pela revolução de 1917, portanto isto não é novidade alguma...
No fundo, foram reflexões semelhantes a estas que levaram os senhores do PSD a equacionar uma nova imagem ("reflexões semelhantes", o tanas... alguma vez esses tipos seriam capazes de tecer comentários tão brilhantes como os que coloquei atrás? Nunca! Eles são do PSD, caramba!!!). E ela aí está: sonegam-se as setas preta e branca, mantém-se a seta laranja em riste, mas agora ela como que navega um amplo mar azul em várias matizes, realizando um contraste apreciável - informo, para aqueles que o desconhecem, que o azul e o laranja são cores complementares, isto é, são cores que, associadas, se intensificam (hããã, fónix... digam lá se o Peter of Pan também não é cultura?!...). Esteticamente, aplaudo a mudança. Creio que a imagem fica realmente mais bonita e apelativa. Os cromoterapeutas, ou cromófilos, ou cromógrafos, ou, simplesmente, cromos do PSD estão de parabéns. Politicamente, também aplaudo, porque a nova imagem torna o PSD num partido mais sincero: o azul ou, em inglês, blue, é usado (principalmente pelos norte-americanos, tãããão respeitados pelos sociais-democratas) para denotar tristeza; portanto, ao colocarem o azul como cor dominante da nova imagem do partido, os dirigentes e militantes sociais-democratas estão a assumir ser aquilo que já há muito tempo sabíamos: uma cambada de tristes!
Tanis
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mas afinal quem é o Makukula?,
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sexta-feira, março 14, 2008
E depois eu é que sou anti-americano...
Mahmoud Ahmadinejad, o conhecido presidente do Irão, resolveu lançar mais lenha para a fogueira e proferiu, sem papas na língua, as seguintes palavras:
"Os Estados Unidos da América são inimigos de toda a humanidade"
Juro - mas é que juro mesmo! - não ter sido eu a escrever este discurso do Ahmadinejad. Até porque nem gosto lá muito dele, a sério. Mas é difícil entrar em desacordo com o iraniano neste ponto. Eu não sou capaz, confesso... tenho até vontade de imprimir a frase acima numa t-shirt e andar a pavonear-me com ela em frente à embaixada dos E.U.A... Só não o faço porque, neste preciso momento, centenas de simpatizantes do Bloco de Esquerda devem estar a pensar no mesmo, e eu, como não gosto de más-companhias, prefiro então ficar quieto.
Mas que é uma bela frase, lá isso é...
"Os Estados Unidos da América são inimigos de toda a humanidade"
Juro - mas é que juro mesmo! - não ter sido eu a escrever este discurso do Ahmadinejad. Até porque nem gosto lá muito dele, a sério. Mas é difícil entrar em desacordo com o iraniano neste ponto. Eu não sou capaz, confesso... tenho até vontade de imprimir a frase acima numa t-shirt e andar a pavonear-me com ela em frente à embaixada dos E.U.A... Só não o faço porque, neste preciso momento, centenas de simpatizantes do Bloco de Esquerda devem estar a pensar no mesmo, e eu, como não gosto de más-companhias, prefiro então ficar quieto.
Mas que é uma bela frase, lá isso é...
Tanis
quinta-feira, março 13, 2008
Pequenas coisas boas da vida...
...Saber que o Paulo Portas tem como irmão o Miguel Portas. Saber que o Miguel Portas tem como irmão o Paulo Portas. Saber que ambos são irmãos da Catarina Portas. E, finalmente, saber que são todos filhos da Helena Sacadura Cabral. Merecem-se! O que vale é que só estragam uma família!
Tanis
quarta-feira, março 12, 2008
Há certas coisas que... enfim!
Trabalhar em contacto directo com o público nem sempre é fácil. Por vezes, sou interpelado por pessoas que mereciam e deviam estar em reclusão permanente no hospital Júlio de Matos, e não à solta no meio de gente dita "normal", o que quer que isso seja. Algumas interpelações até são divertidas ("Você prefere cultura ou culturismo?", perguntou-me uma maluquinha aqui há uns bons dois anos...), outras são assustadoras ("Eles perseguem-nos! Tome cuidado, olhe que podem vir atrás de si!", disse-me uma maluquinha diferente da primeira...), outras ainda são "apenas" estranhas... muito estranhas. E estúpidas! Foi o que ocorreu ontem, quando um desmiolado jovem decidiu, por sua arte, questionar:
"Peço desculpa, não sabe onde é que andam certos professores de certas aulas?"
Não sei qual a resposta que o doidivanas pretendia. Por que razão não foi ele mais preciso? Habitualmente, quando se quer uma informação concreta, a pergunta tem de ser também ela concreta, tipo "O prof. Gustavo Paio, de Historiografia Somali, por onde se encontra?" ou "Onde está a profa. Gudemila Gomes, que dá Estética Pornográfica Comparada?". A estas solicitações, feitas de modo correcto, uma pessoa pode responder como deve ser, seja positivamente ("Olhe, está no bar/no gabinete/na casa de banho") seja negativamente ("Não sei" ou "Não conheço esse professor"). Contudo, que raio de resposta se pode dar quando nos questionam por "certos professores de certas aulas"? Que se encontram em certos lugares a fazer certas coisas no meio de certas pessoas?!? É complicado, não é? Ele há com cada maluco...
"Peço desculpa, não sabe onde é que andam certos professores de certas aulas?"
Não sei qual a resposta que o doidivanas pretendia. Por que razão não foi ele mais preciso? Habitualmente, quando se quer uma informação concreta, a pergunta tem de ser também ela concreta, tipo "O prof. Gustavo Paio, de Historiografia Somali, por onde se encontra?" ou "Onde está a profa. Gudemila Gomes, que dá Estética Pornográfica Comparada?". A estas solicitações, feitas de modo correcto, uma pessoa pode responder como deve ser, seja positivamente ("Olhe, está no bar/no gabinete/na casa de banho") seja negativamente ("Não sei" ou "Não conheço esse professor"). Contudo, que raio de resposta se pode dar quando nos questionam por "certos professores de certas aulas"? Que se encontram em certos lugares a fazer certas coisas no meio de certas pessoas?!? É complicado, não é? Ele há com cada maluco...
Tanis
terça-feira, março 11, 2008
Recordação de Adolescência: Pedro Abrunhosa
Quando ainda era um jovem adolescente e os meus interesses se resumiam a música, gajas, futebol, gajas, ir para os copos, gajas, e gajas (curioso… agora que escrevo isto, reparo que ainda são estes os meus interesses, com a diferença de que, a tudo o que citei atrás, devo agora acrescentar também “gajas”…), recordo-me do celeuma provocado por uma música de um, na altura, artista em ascensão. Esse artista era o Pedro Abrunhosa, e a música dava pelo nome de Talvez Foder. Ora, acontece que as rádios, pelo menos as que eu escutava, se limitavam a passar a versão censurada: vinha o refrão “E tu e eu, o que é que temos de fazer”, e quando a malta esperava o clímax, pimba, apanhávamos com um “Talvez [píííííí]”. Claro que eu e os meus amigos aproveitámos logo a situação para fazer umas piadas. Dizia um:
- Pá, o Abrunhosa vai compor uma nova versão. Vai chamar-se "[pííííí] Foder"!
E outro:
- Nada disso, ele vai é fazer uma versão erudita, inspirada em Gil Vicente. Vai ser o "Samicas Foder"!
Enfim, tão inocentes e brincalhões que nós éramos…
Tanis
- Pá, o Abrunhosa vai compor uma nova versão. Vai chamar-se "[pííííí] Foder"!
E outro:
- Nada disso, ele vai é fazer uma versão erudita, inspirada em Gil Vicente. Vai ser o "Samicas Foder"!
Enfim, tão inocentes e brincalhões que nós éramos…
Tanis
segunda-feira, março 10, 2008
Eu, Tanis, piroso me confesso!
E nada mais vos digo!
P.S.: A partir de amanhã, o Peter of Pan retomará a sua programação habitual, não se preocupem!
Tanis
P.S.: A partir de amanhã, o Peter of Pan retomará a sua programação habitual, não se preocupem!
sexta-feira, março 07, 2008
Nietzsche e a metrossexualidade
Nietzsche, enquanto pensador, foi um voraz crítico do seu tempo. Uma das coisas para a qual chamava atenção era para a ineficácia da moral e dos valores judaico-cristãos, desadequados porque diminuíam e enfraqueciam os indivíduos. A este diagnóstico, o bigodudo filósofo contrapunha um novo tipo de moral, uma moral de vencedores, na qual os indivíduos de excepção (artistas, líderes, etc.) fariam as suas próprias regras. O projecto passava todo ele pela chamada transmutação de todos os valores, que consistia precisamente na substituição dos valores antigos e retrógrados pelos novos e, assim, o mundo podia esperar por uma nova espécie de homem, o super-homem.
Tudo muito bonito e tal, mas infelizmente Nietzsche, no seu final do séc. XIX, não pôde prever o rumo que essa transmutação tomaria no nosso início do séc. XXI. Houve mudança de valores sim, e a moral judaico-cristã está comatosa, mas os novos valores são bem diferentes da apologia da força, do instinto criador, do vigor, da masculinidade que Nietzsche apregoava nos seus escritos. Bem diferente, mesmo… O homem de hoje já não é o homem de há séculos atrás, nem sequer é o mesmo homem do séc. XIX, que não foi assim há tanto tempo. O homem de hoje, bem… o homem de hoje nem sequer homem é! E a culpa é do quê? Da moda metrossexual, pois claro!
Afirmação polémica e arrojada, eu sei. Mas deitem os olhos à vossa volta. Os valores foram de facto mudados. “Honra o teu pai e a tua mãe”? Isso era dantes! Agora é “honra o teu nutricionista”. “Vai à missa aos domingos”? Não há tempo para isso quando se é obrigado a malhar no ginásio pelo menos 3 vezes por semana. “Ama o teu próximo”? Também já passou de moda: o que está in é “ama o teu próprio corpo” (e isto, mais do que tudo, é bastante perigoso, pois um gajo que ama o seu próprio corpo musculado e bem definido, que se olha constantemente ao espelho a ver se não há ali um pelinho maroto que não foi arrancado, bom, um tipo assim está a uma distância demasiado próxima da homossexualidade…). Até o monogâmico “não cobices a mulher dos outros” sofreu um giro de 180 graus para “cobiça, e sempre, o creme hidratante alheio, mesmo que não combine com o teu delicado tipo de pele”.
O modo de vida metrossexual é, portanto, pernicioso, porque cumpre apenas metade do desiderato nietzscheano. Está a perseguir, de cabo a rabo, o comportamento de índole judaico-cristão? Está pois, mas para quê?! Apenas para fazer dos homens de rebanho, submissos e recalcados, seres cujas preocupações se reduzem a tratamentos de pele, depilações e “ai, o meu armário ainda só tem 207 perfumes, e só 10% desses é que pertence à casa Armani”. A tradição do homem feio, porco e mau está a ser desfeita pela noção do homem bonitinho, limpinho e delicadozinho, e isto corresponde a tudo menos ao modelo nietzscheano de “homem”. Afinal, o filósofo falhou: o homem do futuro, o novo homem, o homem que estaria para vir, o tão antecipado super-homem é, no fundo… uma super-mulher!
Tudo muito bonito e tal, mas infelizmente Nietzsche, no seu final do séc. XIX, não pôde prever o rumo que essa transmutação tomaria no nosso início do séc. XXI. Houve mudança de valores sim, e a moral judaico-cristã está comatosa, mas os novos valores são bem diferentes da apologia da força, do instinto criador, do vigor, da masculinidade que Nietzsche apregoava nos seus escritos. Bem diferente, mesmo… O homem de hoje já não é o homem de há séculos atrás, nem sequer é o mesmo homem do séc. XIX, que não foi assim há tanto tempo. O homem de hoje, bem… o homem de hoje nem sequer homem é! E a culpa é do quê? Da moda metrossexual, pois claro!
Afirmação polémica e arrojada, eu sei. Mas deitem os olhos à vossa volta. Os valores foram de facto mudados. “Honra o teu pai e a tua mãe”? Isso era dantes! Agora é “honra o teu nutricionista”. “Vai à missa aos domingos”? Não há tempo para isso quando se é obrigado a malhar no ginásio pelo menos 3 vezes por semana. “Ama o teu próximo”? Também já passou de moda: o que está in é “ama o teu próprio corpo” (e isto, mais do que tudo, é bastante perigoso, pois um gajo que ama o seu próprio corpo musculado e bem definido, que se olha constantemente ao espelho a ver se não há ali um pelinho maroto que não foi arrancado, bom, um tipo assim está a uma distância demasiado próxima da homossexualidade…). Até o monogâmico “não cobices a mulher dos outros” sofreu um giro de 180 graus para “cobiça, e sempre, o creme hidratante alheio, mesmo que não combine com o teu delicado tipo de pele”.
O modo de vida metrossexual é, portanto, pernicioso, porque cumpre apenas metade do desiderato nietzscheano. Está a perseguir, de cabo a rabo, o comportamento de índole judaico-cristão? Está pois, mas para quê?! Apenas para fazer dos homens de rebanho, submissos e recalcados, seres cujas preocupações se reduzem a tratamentos de pele, depilações e “ai, o meu armário ainda só tem 207 perfumes, e só 10% desses é que pertence à casa Armani”. A tradição do homem feio, porco e mau está a ser desfeita pela noção do homem bonitinho, limpinho e delicadozinho, e isto corresponde a tudo menos ao modelo nietzscheano de “homem”. Afinal, o filósofo falhou: o homem do futuro, o novo homem, o homem que estaria para vir, o tão antecipado super-homem é, no fundo… uma super-mulher!
Tanis
quinta-feira, março 06, 2008
Anti-Clímax (seguido de A Frase do Ano)
Ontem foi um dia deveras estranho... extremamente deveras! Bué extremamente deveras! Entre as coisas estranhas que me sucederam, encontra-se esta: estava eu a partilhar um momento altamente emocional e até melodramático com uma pessoa muito especial (ok, pronto, estavamos a ter aquelas "conversas de chacha" típicas de pessoas apaixonadas...) quando, de repente, vindo das profundezas do sei-lá-de-onde, surge um gandulo qualquer com mau aspecto, e interrompe a cena com um praticamente indecifrável: "Pois, mnhãmnhãmnhã, 1 euro para uma cervejola, mnhãmnhãmnhã", enquanto olhava de soslaio para a bolsa da minha companhia feminina. Não apreciei a interrupção, claro está, e lancei-lhe um olhar fulminante, e já todos sabem que, quando aqui o Tanis lança um olhar fulminante, o melhor é saírem da frente. Ele saiu, e pôs-se a meu lado, pronunciando coisas como "Iá, mnhãmnhãmnhã, 1 euro, mnhãmnhãmnhã". Após mais alguns olhares, o gajo lá se tocou e foi-se embora. Ainda pensei convencê-lo a aderir, já que parecia tão desesperado por dinheiro, à prostituição masculina, essa actividade que dá tão bons resultados (como acham que eu arranjo o guito para comprar 10000 cds por mês? A trabalhar?! Tomem juízo!!!), mas acabei por não o fazer e fiquei a olhar para o emplastro/empatas enquanto ele chateava um tipo em busca de um cigarrito...
Após este episódio surreal, lá voltei, eu mais a minha companhia, para o momento emocional, mas agora com um olho no burro e outro no cigano, não fosse o tipo regressar para mais uma rodada de diálogo incompreensível. Enfim, as coisas por que um gajo tem de passar para declarar a sua paixão a uma menina... Que mundo tão complicado!
Após este episódio surreal, lá voltei, eu mais a minha companhia, para o momento emocional, mas agora com um olho no burro e outro no cigano, não fosse o tipo regressar para mais uma rodada de diálogo incompreensível. Enfim, as coisas por que um gajo tem de passar para declarar a sua paixão a uma menina... Que mundo tão complicado!
*
Também ontem, e poucas horas antes do estranho caso acima descrito, o doido autor deste blog surpreendeu-me com a seguinte afirmação, que humildemente classifico como A FRASE DO ANO:
"Pá, dois temas são recorrentes em qualquer texto que escrevo: anti-americanismo e mamas!"
Digam lá se um gajo destes não pode ser senão um porreiraço do caraças?!?!
Tanis
quarta-feira, março 05, 2008
Protesto! (Apologia de Saramago)
Se há algo que ultimamente me vem irritando de uma maneira solene, é a esquizofrenia dos portugueses em relação a José Saramago. Como sabem, o prémio Nobel nunca foi propriamente uma figura unanimemente respeitada, bem pelo contrário; porém, nos últimos anos, tem-se assistido a uma constante atitude de desprezo, injúria e desrespeito para com o homem. Acrescento até que alguns dos insultos a ele dirigidos são dignos de ser proferidos contra Luís Filipe Vieira ou Pinto da Costa, o que é algo deveras ofensivo em se tratando de um homem das letras. Por esse motivo, aqui ficam o meu protesto contra essa gentalha e a minha apologia do autor de O Evangelho Segundo Jesus Cristo.
Não batam mais no homem! Cessem os vossos vitupérios de crianças em idade pré-escolar. Não atentem contra o bom nome da literatura portuguesa, o que quer que isso seja. Saramago pode estar velho e acabado, pode ser um comunista jarreta (pleonasmo?), pode escrever frases intermináveis, pode perturbar com os seus temas politicamente incorrectos e fracturantes, como se fosse uma Ana Drago com geriatria, pode chatear constantemente a malta de direita (esperem, isto é uma qualidade!…), pode até preferir Espanha a Portugal (chamem-lhe parvo!…), pode estar vendido aos interesses dos livreiros, pode ser um nabo do caraças e pode até mesmo escrever artigos bacocos, pode ser tudo isso, mas uma coisa ele ainda não é: um canalha asséptico que repete sempre e sempre os mesmos livros, mas com mais páginas e uma escrita ainda mais baralhada. Se alguém pensou em António Lobo Antunes (que também muito admiro), juro que não fui eu!
Parem, pois, de maldizer o Saramago. Parem de bater em mortos. E lembrem-se sempre deste aforismo:
“Saramago pode ter muitos defeitos, mas possui um prémio Nobel. Os restantes escritores portugueses têm apenas defeitos”
Não batam mais no homem! Cessem os vossos vitupérios de crianças em idade pré-escolar. Não atentem contra o bom nome da literatura portuguesa, o que quer que isso seja. Saramago pode estar velho e acabado, pode ser um comunista jarreta (pleonasmo?), pode escrever frases intermináveis, pode perturbar com os seus temas politicamente incorrectos e fracturantes, como se fosse uma Ana Drago com geriatria, pode chatear constantemente a malta de direita (esperem, isto é uma qualidade!…), pode até preferir Espanha a Portugal (chamem-lhe parvo!…), pode estar vendido aos interesses dos livreiros, pode ser um nabo do caraças e pode até mesmo escrever artigos bacocos, pode ser tudo isso, mas uma coisa ele ainda não é: um canalha asséptico que repete sempre e sempre os mesmos livros, mas com mais páginas e uma escrita ainda mais baralhada. Se alguém pensou em António Lobo Antunes (que também muito admiro), juro que não fui eu!
Parem, pois, de maldizer o Saramago. Parem de bater em mortos. E lembrem-se sempre deste aforismo:
“Saramago pode ter muitos defeitos, mas possui um prémio Nobel. Os restantes escritores portugueses têm apenas defeitos”
Tanis
terça-feira, março 04, 2008
Correspondência Ron Jeremy-Rocco Siegfredi
(Aos poucos leitores que não conhecem os nomes acima: vão ao Google, seus pornoanalfabetos! Outro aviso: o teor deste post é desaconselhado a menores de 25 anos e 20 centímetros)
Olá, Rocco:
Hoje foi um dia óptimo. Entrei em 7 filmes e 32 tipas. Acho que o meu instrumento está cada vez maior. A minha contagem pessoal cifra-se agora em 183227 mulheres. Nada mau, hã? Nem o nosso herói, sua Alteza Real John Holmes, conseguiu tanto!
E tu, rapaz? Manda notícias a quem se subscreve
Sempre amistosamente,
Ron
Amigo Ron:
Não te armes em chavalo comigo! Sabes muito bem que a quantidade é menos importante que a qualidade. Olha para mim: as actrizes com quem contraceno são as melhores do mundo dentro do seu ramo, e tornam-se ainda melhores quando levam dentro o meu ramo. O mesmo não pode ser dito das gajas que participam nos teus filmes.
A única coisa em que a quantidade importa mais é, como sabes, no tamanho do instrumento. E aí, como também sabes, seu gordo, ficas a perder quando comparado comigo. Portanto, pá, atina-te. E, sobretudo, não invoques o sagrado nome de John Holmes em vão!
Um abraço do
Rocco
Rocco:
Cala-te, estúpido! Não digas sandices! Aquelas tipas com quem fizeste uma ménage a neuf no teu antepenúltimo filme de Sábado perderiam num concurso de beleza para a Camilla Parker Bowles (ou será Balls?). Como tens a lata de dizer que são as melhores do mundo? A crème de la crème aparece nas minhas películas, e fica sempre fascinada com o meu creme. Toma e embrulha! Faz-te à vida, maricas!
Ron
Ron:
Olha, chupa-mos!
Rocco
Tanis
O
Olá, Rocco:
Hoje foi um dia óptimo. Entrei em 7 filmes e 32 tipas. Acho que o meu instrumento está cada vez maior. A minha contagem pessoal cifra-se agora em 183227 mulheres. Nada mau, hã? Nem o nosso herói, sua Alteza Real John Holmes, conseguiu tanto!
E tu, rapaz? Manda notícias a quem se subscreve
Sempre amistosamente,
Ron
*
Amigo Ron:
Não te armes em chavalo comigo! Sabes muito bem que a quantidade é menos importante que a qualidade. Olha para mim: as actrizes com quem contraceno são as melhores do mundo dentro do seu ramo, e tornam-se ainda melhores quando levam dentro o meu ramo. O mesmo não pode ser dito das gajas que participam nos teus filmes.
A única coisa em que a quantidade importa mais é, como sabes, no tamanho do instrumento. E aí, como também sabes, seu gordo, ficas a perder quando comparado comigo. Portanto, pá, atina-te. E, sobretudo, não invoques o sagrado nome de John Holmes em vão!
Um abraço do
Rocco
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Rocco:
Cala-te, estúpido! Não digas sandices! Aquelas tipas com quem fizeste uma ménage a neuf no teu antepenúltimo filme de Sábado perderiam num concurso de beleza para a Camilla Parker Bowles (ou será Balls?). Como tens a lata de dizer que são as melhores do mundo? A crème de la crème aparece nas minhas películas, e fica sempre fascinada com o meu creme. Toma e embrulha! Faz-te à vida, maricas!
Ron
*
Ron:
Olha, chupa-mos!
Rocco
Tanis
segunda-feira, março 03, 2008
Uma Declaração Pública de AMOR!
Minha querida... estivemos afastados durante tanto tempo... Demasiado tempo... Passou quase um ano desde a última vez, recordas-te, minha paixão? Eu recordo-me... desde então, ansiava loucamente por ti, desejava voltar a acariciar essa tua forma perfeita, redonda esfera do prazer, sonhava estar contigo... Oh, como eu sofri, amor meu! Mas ontem, oh, ontem, sim, ontem voltámos a estar juntos, e eu quase não queria acreditar! Lágrimas desciam pelo meu rosto emocionado, o meu coração aumentava de ritmo, as pernas tremiam-me; por um momento, julguei desfalecer, e só não o fiz porque a minha vontade de te ter foi mais forte: queria tocar-te, queria agarrar-te, queria - acima de tudo - aplicar o meu potente e vigoroso remate de pé esquerdo em ti e fazer-te, como sempre, voar!
Outros estavam perto de nós, mas nenhum deles te amava nem ama como eu. Esqueci-os, portanto, e dirigi-me, decidido, para ti. Peguei-te nos meus braços, olhei para a tua face murcha, pedi carinhosamente uma bomba e enchi-te, minha deusa, enchi-te de tal maneira que pareceste renascer, e eu renasci contigo. E não mais te larguei: corri contigo, driblei contigo, fingi que te levava para um lado quando, na verdade, te conduzia para o outro, e pontapeei-te, pontapeei-te inapelavelmente. E tu adoraste, meu doce! A maneira como rolavas, lânguida e insinuante, denunciava os teus sentimentos por mim e despertava inveja em todas as outras bolas que por ali perto brincavam. Mas nenhuma era como tu, nenhuma! Tu és especial, uma coisa minha e só minha, que não partilho com mais ninguém, apesar dos insistentes apelos de "Passa, Tanis, passa", "Dá a bola, fuço de merda", "Cabrão, pára com essas fintinhas". Ontem, o dia era só nosso, nenhuma outra pessoa poderia meter-se no meio.
E, confesso-te, foste magnífica! Foste brilhante! E eu também, apesar de ter levado cacetada de criar bicho! Mas por ti aguentei tudo e aguentaria novamente. Por ti, e só por ti, minha adorada, meu amor, minha louca paixão.
Aguardo agora, em desespero, a próxima vez. Não podemos estar afastados por muito tempo. O nosso destino é ficarmos juntos, como ontem. Juntos e felizes para sempre, minha redondinha. Até que o cabrão do árbitro apite para o final do jogo!
Tanis
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